Artigo de Osterno Souza
Ontem, 19 de maio de 2010, no jornal Folha de São Paulo, o físico dr. Rogério Cezar de Cerqueira Leite, professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas), traça o perfil de contestadores da construção da Usina
Belo Monte. "Ambientalistas, conservacionistas de diversas espécies,
malabaristas, fanfarrões e pseudo-intelectuais, além de uma tribo de
índios locais e de bem-intencionados, porém mal informados, estudantes
e intelectuais". Li cuidadosamente o texto, pelo grande respeito ao
renomado professor, porem, não posso compartilhar de sua opinião.
Muitas das colocações feitas estariam perfeitas se o estudo do projeto
viabilizasse um empreendimento de reservatório, que não se limitasse a
uma garantia de 40% do potencial instalado. Uma hidrelétrica fio
d’água, para tentar resolver um problema ambiental somente, não se
justifica. Assim como se deve também abrir toda a justificativa do
projeto, que certamente tem entre os objetivos estimular o
desenvolvimento local e fornecer suporte de energia às empresas de
exploração mineral na região. Incluir os custos de todas as linhas de
transmissão necessárias para dar vazão à energia gerada e permitir a
interligação com o sistema integrado. Preferencialmente, alinhado com
novos procedimentos orientativos, que garantam nesta imensa malha
elétrica, uma manutenção cuidadosa, sem falhas que possam desencadear
um efeito cascata para apagar o país. As grandes empresas construtoras,
quando saíram do processo licitatório, evidenciaram uma relação custo
benefício ruim. Não são empresas de ambientalistas, tampouco de
malabaristas, fanfarrões ou pseudo-intelectuais. Também não me coloco
nesta situação, trabalhei no setor 35 anos de minha vida e
sou defensor ferrenho do sistema hidrelétrico e da exploração adequada
do potencial disponível no país. Assim, com o maior respeito aos
conhecimentos do nobre professor, me mantenho na opinião de que o
projeto deveria ser melhor discutido, não só nas questões ambientais,
que devem ser enfrentadas de maneira técnica e com dignidade, mas no
aspecto técnico de aproveitamento maior e mais representativo neste
contexto. Em tempo, a Usina Hidrelétrica de Itaipu tem uma potência
instalada de 14 milhões de quilowatts, com uma geração garantida da
ordem de 8.5 milhões de quilowatts e um reservatório de 1.900 km2.; A
Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira tem uma potência instalada de 3.5
milhões de quilowatts, com uma geração garantida em torno de 2,1
milhões de quilowatts e um reservatório de 1.800 km2.; Belo Monte terá
uma potência instalada de 11,2 milhões de quilowatts, com uma geração
garantida em torno de 4,2 milhões de quilowatts e um reservatório de
550 km2. A conta é muito simples. Enfim, com os conhecimentos do
emérito professor, tenho absoluta convicção de que não está defendendo
o empreendimento, pelas razões técnicas ou pela importância da obra.
Está, de fato, pelo seu prestígio, dando respaldo à decisão tomada e
aliviando o amargor das contestações. A forma de classificar os
contestadores é que, talvez não seja a ideal, levando-se em conta que
também entre os que tomaram a decisão pelo projeto tem mal informados,
intelectuais, artistas (e que artistas!), hábeis malabaristas,
fanfarrões, pseudo-intelectuais e um público de carteirinha do
"Programa do Ratinho". Todos ajudaram a eleger os atuais gestores como
representantes, e agora, com dificuldade ou não, os governantes devem
cumprir a legislação e administrar com extremo zelo o erário, arcando
com as dificuldades de uma discussão ampla e adequada, na condição
de democracia que se prega.
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