Vereador mapeia reduto eleitoral com verba pública


Câmara de SP destinou R$ 132 mil dos recursos de 19 gabinetes para pagar empresa de informática, que só recebeu menos dinheiro do que os Correios

 

Parte da verba indenizatória da Câmara de São Paulo tem sido empregada em um sofisticado mapeamento dos redutos eleitorais de vereadores. O serviço, tido como ferramenta "revolucionária", é feito pela Workline System Consultores. Na edição de ontem, o "Estado" mostrou quanto e como os parlamentares aplicam a verba suplementar de R$ 14.800 mensais a que cada um tem direito para custear os seus gabinetes.
Desde abril do ano passado, quando o detalhamento dos gastos dos gabinetes ficou disponível para consulta na internet, a empresa de informática recebeu R$ 132,1 mil de 19 dos 55 vereadores - maior repasse para uma prestadora de serviços privada, atrás apenas dos Correios (R$ 1,57 milhão no mesmo período). As duas ferramentas mais procuradas pelos clientes da Workline são o "Gabinete online" - espécie de cadastro digital, no qual são inseridos os dados das pessoas que procuram o gabinete e as demandas - e os chamados "Mapas do trabalho" - georreferenciamento que indica onde vivem os eleitores, projetos em andamento, casos resolvidos e problemas do bairro.
Como os vereadores não podem comprar o software do gabinete online sem licitação - a Lei 8.666/97 proíbe contratações acima de R$ 8 mil -, a Workline resolveu "alugar" o programa. O custo mensal do serviço é de R$ 450, mas frequentemente os reembolsos pagos superam o valor, chegando a R$ 6 mil. "Às vezes o custo aumenta porque os vereadores pedem o mapeamento de seus eleitores nas zonas eleitorais", afirma um dos sócios da Workline, Wagner Sorban.
O site faz propaganda sobre a eficiência dos programas e serviços disponibilizados aos políticos. "Só no ano de 2008 a Workline foi responsável por mais de 41 campanhas vencedoras!", proclama o link "Nossas Ferramentas".
Vanguarda. "O trabalho é sensacional. Eles (Workline) cruzam os CEPs dos meus eleitores com o mapa da cidade. Dessa forma, quando eu preciso fazer uma ação, não preciso percorrer um bairro inteiro, mas só algumas ruas", atesta o vereador José Américo, líder do PT e campeão de gastos com a Workline - os repasses do petista para a empresa somaram R$ 21 mil entre abril do ano passado e fevereiro.
Relator da lei que restituiu a verba indenizatória no Legislativo em agosto de 2007, Américo diz fazer um controle rígido de suas prestações de contas. "Tenho duas secretárias que só cuidam das contratações. E mesmo com as prestadoras de serviços eu faço um contrato formal e checo a idoneidade. É da responsabilidade individual de cada parlamentar o uso da verba de custeio", argumenta o petista, que defende os reembolsos.

Para lembrarNa edição de ontem, o Estado mostrou que em alguns casos a verba de gabinete tem sido usada para pagar empresas que só existem no papel. Os pagamentos têm de ser comprovados por nota fiscal. Mas a lei não estabelece critérios claros de contratação e a fiscalização é ineficiente.
As informações podem ser encontradas na seção "Prestação de Contas" do site da Câmara Municipal: www.camara.sp.gov.br. No mesmo site, há e-mails e telefones dos vereadores, no link: www.camara.sp.gov.br/vereadores.asp.

Fonte: Bruno Tavares, Diego Zanchetta e Rodrigo Burgarelli - O Estado de S.Paulo

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