Preso acusados de desviar R$ 2,9 mi do Ministério dos Esportes


Operação Shaolin levou à prisão de cinco pessoas e teve como alvo duas ONGs que receberam R$ 2,9 mi do Ministério dos Esportes

Ainda escaldada pela crise que arrebatou o ex-governador José Roberto Arruda, a Polícia Civil do Distrito Federal deflagrou nesta quinta-feira, 1º, uma operação com potencial para desarrumar ainda mais o já complicado tabuleiro político local. A Operação Shaolin, que levou à prisão cinco pessoas, teve como alvo duas organizações não-governamentais que receberam R$ 2,9 milhões do Programa Segundo Tempo, do Ministério dos Esportes. Até 2006, a pasta era comandada por Agnelo Queiroz, pré-candidato do PT ao governo do DF.
Dirigente das duas ONGs investigadas, o policial militar João Dias Ferreira, um dos presos nesta quinta-feira, foi candidato a deputado em 2006 pelo PCdoB, partido ao qual Agnelo era filiado à época.
Ao Estado, um dos delegados encarregados do caso, Giancarlos Zuliani, admitiu que investiga a suspeita de que o esquema tenha servido para financiar campanhas eleitorais. Ele afirmou, no entanto, que os dados referentes a essa vertente da investigação ainda estão sendo mantidos em sigilo. "Sobre isso ainda não posso falar", disse. A Polícia Civil nega que a operação, deflagrada num dia em que não havia expediente na corporação, tenha por objetivo atingir a possível candidatura de Agnelo Queiroz.
Durante a sucessão de denúncias contra o governo do DF, a Polícia Civil foi acusada de ter agido politicamente em favor do então governador, José Roberto Arruda, atualmente preso. Em depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público, delegados afirmaram ter sido pressionados a impedir investigações contra aliados de Arruda. Pelo menos três deles, que cuidavam de inquéritos sensíveis ao governo, acabaram exonerados das funções de chefia que exerciam na ocasião.
Com a operação deflagrada nesta quinta-feira, a Polícia Civil afirma ter descoberto fortes indícios da existência de uma rede de ONGs, quase todas com ligações partidárias, criadas para desviar dinheiro de convênios com o governo federal. Contratos de pelo menos quatro dessas entidades já foram mapeados pelos investigadores. Uma delas possui convênio também com o Ministério da Ciência e Tecnologia.
Só a Federação Brasiliense de Kung Fu e a Associação João Dias de Kung Fu, as duas ONGs dirigidas pelo policial militar João Dias Ferreira, receberam R$ 2,9 milhões do Ministério dos Esportes, por meio de dois convênios do Programa Segundo Tempo, criado para oferecer atividades esportivas a crianças carentes fora do horário escolar.
O primeiro convênio data de julho de 2005, quando Agnelo Queiroz ainda estava no ministério. O outro foi assinado em outubro de 2006, meses após Agnelo entregar o posto para Orlando Silva, também do PCdoB. Agnelo Queiroz trocou o PCdoB pelo PT em julho de 2008 e, há duas semanas, saiu vitorioso das prévias em que os petistas do DF escolheram seu candidato ao governo.
Do valor repassado pelo ministério às ONGs do policial, a Polícia Civil diz ter detectado o desvio de R$ 1,9 milhão. Os encarregados do caso informaram que parte do dinheiro foi usada pelo policial para construir uma casa num condomínio de classe média alta nos arredores de Brasília e duas bem-equipadas academias de ginástica na cidade-satélite de Sobradinho. As academias teriam sido registradas em nome de laranjas.
O delegado Giancarlos Zuliani disse que a investigação começou em julho de 2008, após ação de busca e apreensão numa empresa de Brasília investigada exatamente por vender notas fiscais frias a entidades não-governamentais. Na operação, foram presos ainda um assessor e um suposto "laranja" do policial João Dias, o administrador de suas ONGs e o responsável pela empresa que fornecia as notas frias incluídas na prestação de contas apresentada ao Ministério dos Esportes. Bens de João Dias, dentre eles um carro de luxo, a casa e uma das academias supostamente construídas com o dinheiro desviado, foram sequestrados por ordem judicial.

Fonte Rodrigo Rangel - O Estado de S.Paulo

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