FHC diz que Lula vai longe demais no apoio a Dilma



O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2003) considera o resultado da corrida presidencial de 2010 imprevisível. Entrevistado pelos jornalistas Boris Casoy, Fernando Mitre, Joelmir Betting e José Paulo Andrade na edição deste domingo no programa Canal Livre, da Band, FHC disparou contra os petistas Lula e Dilma Rousseff e defendeu seu colega de partido no PSDB José Serra como melhor opção na disputa.
Para FHC, a candidata do PT ao Planalto ainda é uma incógnita. Apesar de ter sido ministra de Minas e Energia e da Casa Civil no governo Lula, ela não tem a experiência de Serra como prefeito e governador. “Acho que (Serra) é mais seguro para o Brasil”, opinou. Perguntado sobre como a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula de Silva, em torno de 76%, pode influir na disputa a favor de Dilma, FHC tratou de minimizá-la, dizendo que há outros casos em que esse tipo de transferência não ocorre. A derrota da Concertación, partido que governou o Chile por 20 anos, em 2010, seria um dos exemplos. Fernando Henrique é um dos que acreditam que Lula vai longe demais no apoio a Dilma. “A popularidade não dá esse direito (...) a escolha eleitoral é privada”, lembrou, ressaltando que não usou a máquina pública para apoiar Serra, seu candidato nas eleições de 1994.
Bom momento da economia
Questionado pelos entrevistadores sobre o bom momento da economia brasileira, que superou a crise mundial, o ex-presidente fez ressalvas. “Quanto tempo vai durar esse élan ninguém sabe”, disse, alertando para o fato de que o país não pode ser exportador de matéria prima caso queira crescer mais. A educação e a situação fiscal também podem ser empecilhos a um crescimento sustentável, para FHC. “Ele (Lula) é muito bom para comunicar e tem um valor simbólico (...) e como a economia está bem, então tudo bem”, disse o ex-presidente, rapidamente adicionando: “eu acho que ele tem um lado Macunaíma forte demais”.
Soft power na política externa
Fernando Henrique considera que o Brasil precisa usar mais seu “soft power”, termo criado pelo professor Joseph Nye, da Harvard, para descrever a força da influência cultural e ideológica em contraposição à força bruta. Para o ex-presidente, Lula poderia se valer mais dessa tática para convencer o Irã a desistir de seu programa nuclear, por exemplo. “O Brasil é contra a energia nuclear (para a guerra), não tem porque parecer que está do outro lado”, disse. Para ele, Lula foi infeliz ao ironizar o acordo de desarmamento firmado entre Estados Unidos e Rússia em 8 de abril. O atual presidente falou que as potências estariam se livrando de armas antigas.
Privatizações
“Quem não tem celular quer ter, e acesso a internet”, disse FHC ao ser perguntado sobre as polêmicas privatizações feitas pelo seu governo, notadamente a das teles. “Ao privatizar, criamos competição e agências reguladoras (...) a questão não é ser privado ou estatal, é ser fiscalizado”, afirmou. Questionado sobre as denúncias de corrupção na venda das empresas de telefonia, FHC lembrou que todos os processos foram arquivados. “A privatização foi feita moderadamente e com critérios”, garantiu. Ele diz que hoje privatizaria os terminais aéreos e que o governo não faz isso "por medo".
Esquerda e volta à política
“Sou de esquerda (...) hoje na prática é justiça social, democracia, distribuição de renda”, respondeu, perguntado sobre a evolução de seu pensamento desde a militância no MDB. “PSDB e PT são (partidos) de centro olhando para a esquerda”, opinou. E a tal mosca da política? “Fui duas vezes presidente e senador. Disse que não seria mais nada e não fui, tenho 79 anos, seria uma irresponsabilidade. Tenho minha voz e uso”.
Fonte: Roberto Saraiva - Band.com.br

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