Largo da Memória

Destruição e abandono de um patrimônio histórico

Milhares de pessoas passam diariamente pelo Largo da Memória, no centro de São Paulo, sem saber que seu Obelisco é o monumento mais antigo da cidade e que o local preserva um pedaço importante da história da capital.




História


No começo do século XIX o Largo da Memória, localizado no início da rua Palha - atual rua 7 de Abril, era ponto de reunião dos moradores da província e caminho obrigatório dos viajantes que paravam para encher os seus cantis na bica ali existente.
Em agosto de 1814, o governo encarregou o engenheiro Daniel Pedro Müller da construção da estrada do Piques, para facilitar a comunicação entre São Paulo e o interior.
Além da Estrada do Piques, Müller propôs a formação do Largo da Memória com o alargamento das ladeiras do Piques e da Palha e a construção de um chafariz, tudo complementado por um obelisco “à memória do zelo do bem público” demonstrado pelo governo. O largo ficava nos limites da chamada "cidade nova", do outro lado do ribeirão Anhangabaú; confluência de caminhos, porta de entrada do núcleo urbano, numa época em que as tropas de burros cumpriam importante papel no transporte de cargas. Pelo chafariz, os moradores das imediações se abasteciam de água potável e os animais se refaziam das longas caminhadas.

Construído em pedra de cantaria pelo mestre pedreiro Vicente Gomes Pereira, o obelisco emergia de uma bacia de alvenaria com grades de ferro, que servia como reservatório da água vinda do Tanque Reúno, atual Praça da Bandeira, formado pelo represamento do córrego Saracura.
Em 1872, o chafariz foi retirado da Ladeira do Piques. Nessa época, a estrada de ferro, transfere para as imediações da Estação da Luz o papel de "porta de entrada" da cidade, antes representado pela Ladeira: as antigas tropas foram perdendo sua importância, até serem totalmente substituídas pelo trem.
Em 1919, nas comemorações do Centenário da Independência, o arquiteto Victor Dubugras e o artista plástico José Wasth Rodrigues, reformaram o Largo da Memória, dotando-o de um novo chafariz, escadarias e azulejos decorativos com o brasão da cidade, escolhido por concurso público, vencido pela parceria Guilherme de Almeida e Wasth Rodrigues em 1917.

Patrimônio tombado


O Largo foi protegido no início da década de 1970 pelo município (Z8-200-083), tombado pelo Estado em 1975, no início da construção do Metrô Anhangabaú e tombado pelo o CONPRESP* em 1991.



O abandono
Pelo que podemos verificar, a atual gestão municipal não tem a mesma visão dos gestores de 1814 que fizeram o Obelisco “à memória do zelo do bem público”. O abandono em que se encontra tão importante monumento histórico da nossa cidade é um absurdo. É de fato, um descaso da prefeitura de São Paulo com seu patrimônio histórico. Como pode se verificar nas fotos, a mureta está quebrada há quase um ano, sem nenhuma manutenção. Os azulejos estão sempre sujos e pichados. O calçamento todo esburacado há muito não tem reparo. Zelo ao bem público é o que não vemos no Largo da Memória.


Em certos horários do dia e no início da noite ao pé do largo, ao lado da entrada do Metrô Anhangabaú e na frente da entrada Terminal Bandeira, o local é invadido por dezenas de camelôs que vendem CDs piratas, milho cozido, churrasquinho (feitos no local), etc. Tornando os acessos à estação do Metrô e ao Terminal de ônibus sujos e quase inacessíveis.


 

A violência
Tão grave quanto o vandalismo e a falta de manutenção é o problema de segurança no largo. Há anos o Largo da Memória tornou-se moradia por mais de uma dezena de moradores em situação de rua, quase todos menores de idade. Estão ali dia e noite se drogando, praticando pequenos assaltos, quase sempre com uso de violência. Nas últimas semanas, após exibição de vários assaltos ali por uma emissora de TV, foram colocadas durante o dia viaturas da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana, o que coibiu a permanência dos drogados e assaltantes. Mas durante a noite e de madrugada a violência impera. Fazendo vítimas trabalhadores e pessoas que voltam de bares e boates próximas e tentam acessar o metrô e o terminal de ônibus para voltar para casa.

Comentários

  1. Em vez de repressão deveriam fazer um desenvolvimento social amplo e justo, para que essas pessoas não chegasse a morar nas ruas.

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  2. Caro Pedro,
    Sou o maior defensor das políticas públicas de inclusão social. Mas, à partir do momento que uma pessoa comete um crime ela tem que responder por ele.

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  3. à partir do momento que uma pessoa comete um crime ela tem que responder por ele.<<<
    " Concordo plenamente " ( lyra )

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  4. Jose Americo Dias15/2/10 15:46

    Caro Welbi: gostei muito do seu artigo sobre um dos pontos históricos mais importantes de nossa cidade. Além de estar muito bem escrito, constitui-se numa denúncia -- não só contra o abondono dos monumentos históricos de SP como também de todo o centro da cidade. Vou fazer uma representação à subprefeitura da Sé para pedir reforma e limpeza no local, mas não tenho certeza de que farão alguma coisa. José Américo.

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