Matéria do Jornal Opção, de Goiania de agosto de 2008
E-mails trocados entre dirigentes das Farc revelam ligações perigosas e profundas entre a organização narco-terrorista e a esquerda petista
Embora tido como “canalha político” pelos setores conservadores, por seu apoio dinossáurico ao ex-poderoso chefão de Cuba, Fidel Castro, Gabriel García Márquez é um prosador dos melhores. Seu magistral romance “O Amor nos Tempos de Cólera” conta a história de um amor complicado e, ao mesmo tempo, longevo. Trata-se daquele amor que, mesmo rico em incompreensões, não acaba. Mas não se trata do amor do PT pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que nada tem de complicado mas, além de igualmente duradouro, daria material para uma seqüência do livro do encanecido Gabo. Na semana passada, a revista colombiana “Câmbio” publicou reportagem e listou e-mails nos quais supostos líderes das Farc falam de suas relações com petistas e integrantes do governo Lula. São citados os nomes do chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, do ex-ministro José Dirceu, de Paulo Vanucci, chefão dos Direitos Humanos, do procurador da República Luiz Francisco de Carvalho e, entre ouros, dos deputados brasilienses Érika Kokay e Paulo Tadeu, ambos do PT. As mensagens teriam sido encontradas em computadores de Raúl Reyes, o numero dois da guerrilha morto em março.
O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, repassou um dossiê para o presidente Lula da Silva há um mês, mas não se tem notícia de qualquer investigação por parte do governo e da Polícia Federal a respeito das ligações de autoridades brasileiras e integrantes do PT com as Farc. No lugar de apurar as razões do relacionamento suspeito, Marco Aurélio Garcia, espécie de Suslov petista, disse que o material é irrelevante. O governo sequer explica os motivos de ter arranjado emprego para Ângela Slongo, mulher do guerrilheiro e ex-padre Olivério Medina, nome de guerra de Francisco Antonio Cadena Collazos.
É fato que, entre os documentos, não foram encontrados e-mails de autoridades brasileiras e/ou de petistas. Os e-mails foram trocados por Raúl Reyes, o ex-padre Olivério Medina e outros. Àqueles que levantam suspeitas sobre a autenticidade dos e-mails fica uma pergunta: por que o governo colombiano incriminaria petistas sem repercussão nacional, como Paulo Tadeu e Érika Kokay, deputados distritais em Brasília? A ex-deputada Maninha, do PSOL, também é citada pelas Farc. Assim como o brigadeiro Ivan Frota. O que os e-mails provam não é que o governo Lula agiu diretamente para beneficiar as Farc e, em particular, Medina — embora o emprego de sua mulher e a informação de que participa da vida acadêmica de faculdades particulares em Brasília, aparentemente indicado por líderes do PT, sejam evidências factuais —, e sim que petistas, bem posicionados no governo, tratam os guerrilheiros-narco-traficantes colombianos com complacência e, mesmo, os ajudam.
Na opinião de integrantes do governo Lula, o dossiê tem uma função: obter a extradição de Medina, apresentado como embaixador informal das Farc no Brasil. Ele teria mais acesso a importantes petistas do governo do que embaixadores oficiais de alguns países. O governo colombiano recebeu informações de que Medina está trabalhando para se naturalizar. Assim, além de escapar do governo colombiano, poderia viajar com passaporte brasileiro.
É possível argumentar que o governo Lula está tratando com a cordialidade necessária um exilado político e esta cordialidade estaria sendo estendida às Farc? Como, ao contrário de outros países, o governo brasileiro não condena as Farc, não as trata como terroristas ou narco-terroristas, parece que está tudo bem, que não há ilicitude. À esquerda perdoa-se tudo.
Entretanto, não está tudo bem. Porque as Farc não são brincadeira de criança e, sobretudo, não estão lutando por nenhum projeto democrático. As Farc, ao mesmo tempo que trabalha para implantar uma ditadura na Colômbia, seqüestra e mata inocentes, e, igualmente grave, protege narcotraficantes colombianas, agindo como se fosse uma máfia. Grande parte das drogas que chegam a vários países, entre eles o Brasil — agora mesmo, o suposto pequeno traficante Mohammed Dali Carvalho dos Santos matou e esquartejou, em Goiânia, a inglesa Cara Marie Burke, de 17 anos —, tem o dedo protetor das Farc. Curiosamente, quando alguém do governo Lula menciona as Farc, a organização é apontada apenas como “política” e sugere-se que o governo de Uribe deve negociar com ela. Não há nenhuma referência ao negócio da droga, única atividade econômica que mantém viva a guerrilha, e ao terrorismo. É como se o governo brasileiro não soubesse que Ingrid Betancourt e centenas de outras pessoas foram seqüestradas pelas Farc. É como se existissem duas Farc — a do Bem, a esquerdista, a única admirada pelo petismo, e a do Mal, a narco-terrorista. Evidentemente, existe apenas uma Farc, que, mesmo em crise e traficando drogas e matando inocentes, tem a admiração dos atuais governantes brasileiros.
Mesmo tendo gerado complicações para o PT e constrangimento para o presidente da República, as Farc são tratadas a caviar pelo petismo. Se o presidente Lula não der uma resposta às Farc, posicionando o governo contra seus atos, outros problemas surgirão. Ou o comprometimento com as Farc está tão arraigado que o governo Lula não tem mais como condená-las publicamente?
E-mails de integrantes das Farc citando petistas
En uno de ellos, fechado el 17 de julio de 2004, ´Raúl Reyes´ le dice a ´Tirofijo´ que el gobierno de ´Lula´ ayudaría con el acuerdo humanitario: "Los curas me enviaron carta pidiendo entrevista con ellos en Brasil — escribe ´Reyes´—. Según dicen hablaron con ´Lula´ y este asumió el compromiso de ayudar en lo del acuerdo humanitario, intercediendo ante Uribe para efectuar la reunión en su país".
-------------------------------
En el segundo, fechado el 25 de septiembre de 2006, ´Oliverio Medina´ le cuenta a ´Reyes´: "No le he dicho que hace algunos días ´Lula´ llamó al ministro Pablo Vanucchi (ministro de la Secretaría Nacional de DD.HH.), indicándole que telefoneara al abogado Ulises Riedel y lo felicitara por el éxito jurídico en su brillante defensa a favor de mi refugio".
-------------------------------
En el tercero, con fecha 23 de diciembre de 2006, ´Medina´ le informa a ´Reyes´ que "a ´Lula´ y dos de sus asesores que nos han ayudado les mandé el afiche de aguinaldo". Los funcionarios son Silvino Heck, asesor especial del Presidente, y Gilberto Carvalho, jefe de Gabinete, que aparecen mencionados en un correo del 23 de febrero de 2007, también dirigido a ´Reyes´: "Es posible que me visite un asesor especial de ´Lula´ llamado Silvino Heck, que junto con Gilberto Carvalho ha sido otro que nos ha ayudado bastante".
-------------------------------
Entre los 85 correos conocidos por CAMBIO, hay uno sin fecha, también enviado por ´Medina´ a ´Reyes´, que dice: "Estuve hablando con la diputada federal María José Maninha. Quedamos en que va a abrirme camino rumbo al Presidente vía Marco Aurelio García". García es secretario de Asuntos Internacionales.
-------------------------------
6 de julio de 2005
De: ´Cura Camilo´
A: ´Raúl Reyes´
"Solidaridad recibida durante el primer semestre de 2005: diputado Paulo Tadeu US$ 833,33. Sindicato de la Empresa de Energía de Brasilia US$ 666,66. Corriente Comunista Luis Carlos Prestes US$766,66. Señora Solene Bomtempo US$ 250,00. Concejal Leopoldo Paulino US$ 433,33. Sindicato de la Empresa de Acueducto de Brasilia US$ 33,33".
Los contactos de las Farc
- José Dirceu, ministro de la Presidencia.
- Roberto Amaral, ex ministro de Ciencia.
- Erika Kokay, diputada.
- Gilberto Carvalho, jefe de Gabinete.
- Celso Amorín, canciller.
- Marco Aurélio García, asesor Asuntos Internacionales.
- Perly Cipriano, subsecretario Promoción DD.HH.
- Paulo Vanucci, ministro Secretaría de DD.HH.
- Silvino Heck, asesor presidencial. (A revista escreve Silvino e Selvino)
[Nota do Jornal Opção: A correspondência das Farc cita José Dirceu como ministro porque alguns e-mails são anteriores à sua queda. O leitor não deve estranhar a falta de acentos e a grafia, pois os textos foram mantidos em espanhol, a língua original.]
Comentários
Postar um comentário