Projeto de Ricardo Nunes sobre a GCM deve aumentar horas de treinamento e reforçar prática de tiro para agentes

Prefeito tem reforçado foco na segurança com programa de câmeras Smart Sampa, troca de nome da guarda, 'prisômetro' e programas nas escolas

Ricardo Nunes e Orlando Morando

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), espera aprovar ainda neste semestre um projeto para alterar o estatuto da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e reforçar o treinamento dos agentes. O texto, a ser encaminhado para a Câmara de Vereadores nos próximos meses, deverá propor mudanças como uma formação estendida e com mais tempo de prática de tiro para os agentes.

A corporação tem ganhado destaque no segundo mandato de Nunes, que aposta na segurança pública como uma das principais bandeiras. Nos planos do prefeito, o projeto de mudanças na formação seria complementar à alteração do nome da corporação.

O secretário de Segurança Urbana, Orlando Morando, afirma ao GLOBO que “a população clama pela polícia” e defende a alteração da nomenclatura, argumentando que o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu o poder de polícia da guarda, portanto não haveria problema em adotar o termo no nome.

Mas, para além da alteração, a prefeitura pretende alterar o estatuto da guarda para se adequar a decisão do STF e, segundo a gestão municipal, melhorar a formação da guarda. Morando explica que o texto vai prever mais horas de treinamento na já existente Academia de Formação em Segurança Urbana. Hoje, a formação de um guarda leva em torno de seis meses. A intenção é aumentar o período, mas ainda sem definição exata de duração.

"A ideia é incluir no estatuto da nossa Polícia Municipal a academia de formação, que já existe na prática, aumentar a hora treino do policial municipal, aumentar o número de disparos que ele efetua no estande de tiro no treinamento, dar uma formação mais robusta ao policial municipal. Vai mexer mais na capacitação, na formação. Não tem previsão de mudança na carreira ou hierarquia", diz o secretário.

Morando nega que as mudanças signifiquem qualquer ingerência nas atribuições da PM e defende que as duas forças têm papeis complementares. Desde que Nunes anunciou a mudança na denominação da força municipal, tem havido reações negativas de integrantes da PM, inclusive do comandante da Polícia Militar de São Paulo, o coronel Cássio Araújo de Freitas.

"Existe uma harmonia entre a Polícia Municipal e a Polícia Militar, trabalhamos o Carnaval juntos, diversas ações, não tem disputa, cada um tem o seu papel e são complementares, eu não vejo nenhum ponto de convergência entre as funções da Polícia Militar e a Polícia Municipal. Pelo contrário, a GCM tem um papel de destaque na cidade de São Paulo, elas não competem", diz Morando, que afirma que o tema não foi alvo de conversas com o secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite.

Mudança na secretaria

A escolha de um ex-prefeito — Morando era prefeito de São Bernardo do Campo até dezembro — para a Segurança foi uma novidade na segunda gestão de Nunes, já que antes a secretaria era comandada por uma comandante da GCM e posteriormente por um advogado, ambos com perfil mais discreto.

Ao receber o comando, o atual titular da pasta foi informado pelo emedebista que o enfoque da prefeitura seria a segurança, apontada como a principal preocupação do paulistano pelo Datafolha e que têm ficado cada vez mais em evidência por conta da divulgação de vídeos de delitos, sobretudo latrocínios.

De janeiro para cá, Nunes tem tratado o tema com prioridade: ele ampliou o programa de câmeras Smart Sampa, inaugurou um “prisômetro” que contabiliza as prisões facilitadas pelo sistema de monitoramento, iniciou um programa de reforço da presença de agentes nas escolas municipais, fez a mudança de nome da guarda e agora prepara um projeto legislativo sobre a corporação.

Outra medida já em curso é a ampla revisão do local onde os agentes da GCM ficam posicionados, para aumentar a sensação de segurança, um dos principais desafios de Nunes. A escolha dos locais de priorização não é divulgada oficialmente, mas Morando diz que ele se baseia em um mapa de calor que identifica os locais com maior quantidade de crimes.

Nesses três meses, Morando diz que o maior desafio é aumentar a sensação de segurança, que permanece alta mesmo com uma melhora dos índices criminais. Mas ele defende ser “inegável” um avanço na segurança da cidade.

"O sistema Smart Sampa tem dado uma sensação de segurança melhor às pessoas, não tenho a menor dúvida. Os desafios ainda são essa questão das cenas abertas de uso e os crimes contra a vida, que são sempre muito chocantes, impactantes, ainda é um negócio desconfortável, ninguém se conforma quando se perde uma vida por um latrocínio", falou.

Fonte: Hyndara Freitas - O Globo

Comentários