Voto de confiança e crença no futuro

Somente compreendi Alckmin vice-presidente por ter certeza de que levaria ao governo sua qualidade de cidadão incorruptível e seu gesto conciliador

Geraldo Alckmin

Ruy Martins Altenfelder Silva* - Estadão

Conheci Geraldo Alckmin na década de 1990, quando integrei o conselho criado e escolhido pelo saudoso Mário Covas para analisar, debater e propor políticas públicas para o governo do Estado de São Paulo.

Atencioso, estudioso, dedicado, Geraldo era admirado por todos os conselheiros. Quando Covas decidiu estudar a privatização no Estado, foi criado o Programa Estadual de Desestatização (PED), integrado por secretários de Estado das áreas passíveis de desestatização. Fui convidado para integrá-lo como representante do setor privado.

O PED prestou inestimáveis serviços ao Estado, estudando minuciosamente as áreas passíveis de desestatização e executando-as. Geraldo Alckmin ouvia com atenção os pareceres dos conselheiros, e só depois de profundos estudos levava ao governador as propostas.

Após a sentida morte de Mário Covas, e quando vagou a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Turismo, fui convidado pelo então governador Geraldo Alckmin para assumir o estratégico posto.

Foram quase três anos de contato com o governador, estudando problemas de competência da pasta, viajando com frequência com o chefe do Executivo por centenas de municípios do Estado de São Paulo.

Geraldo anotava nos seus famosos “cadernos” os problemas que lhe eram levados, cobrando soluções. Não admitia corrupção, desvios de funções e conflitos de interesse.

Por isso mesmo, quando da recente eleição para a Presidência da República, custei a compreender a sua aceitação para a Vice-Presidência na chapa liderada pelo Partido dos Trabalhadores.

Somente compreendi e pessoalmente admiti por ter a certeza de que Geraldo levaria as suas qualidades de cidadão incorruptível e firmeza nas ações, bem como o seu gesto de conciliador e fiel da balança, como candidato à vice-presidente da República.

Quando Geraldo Alckmin foi eleito irmão benemérito da Irmandade da Santa Casa de São Paulo, coube-me saudá-lo. Relatei ter participado da primeira fase de seu governo no Estado de São Paulo e pude testemunhar a firmeza, o respeito aos princípios éticos e a transparência nas decisões.

Geraldo incentivou a participação dos cidadãos na vida dos distritos, municípios, Estados e União.

No seu governo de São Paulo, a área de saúde foi tratada como estratégica e, como tal, recebeu os recursos possíveis. O seu retrato, ao lado dos irmãos beneméritos, no salão nobre da Santa Casa permitirá permanentes reflexões.

O ministério que agora assumiu por escolha do presidente Lula da Silva, Indústria, Comércio e Serviços, precisa de políticas públicas que destravem suas dificuldades e permita seu desenvolvimento. Conhece os setores e deverá contribuir para o estabelecimento de medidas que incentivem o progresso do estratégico setor. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresentou lista de iniciativas e vê com otimismo o primeiro pronunciamento do ministro Alckmin.

Relevante destacar que Geraldo coordenou os trabalhos da comissão de transição governamental, analisando todas as pastas do governo Jair Bolsonaro, e apresentou minucioso relatório apontando os pontos que careciam de modificações.

Alckmin busca aposentar a era dos vices decorativos e, com a relação de confiança que construiu com o presidente Lula, acumulará também a importante pasta.

O exercício da política é relevante, como lembra Olavo Bilac, que a abordava em suas crônicas reunidas no livro Vossa Insolência. Na crônica sob o título Não sou político, Bilac justifica por que não a exerceu: “Eu não sou político, e nem me sinto com vocação para o ofício de salvador da pátria. Sou um fantasista – mais nada. E um fantasista serve apenas para enfeitar as colunas de um jornal”.

Na sua posse como ministro da Indústria e Comércio, Alckmin prometeu indústria sustentável e que a economia verde será a base para a reindustrialização do País. Disse que irá criar uma Secretaria de Economia Verde e Bioindústria para dar apoio na retomada da agenda de competitividade em parceria com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Prometeu desenvolver a agenda de interesse da importante área que inclui financiamento, simplificação tributária e redução do custo Brasil.

Será um dos ministérios mais fortes do governo, pois coordenará as ações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), dentre outras.

O novo vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, bem como o novo governo, merecem meu voto de confiança e crença no futuro.

Democracia e Estado Democrático de Direito são os princípios básicos da Constituição brasileira. Não podem ser atacados como o foram nos vergonhosos acontecimentos de 8 de janeiro último.

Respeito à Constituição, tranquilidade e paz é o que todos do bem desejam.

*RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA - ADVOGADO, PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS JURÍDICAS, É MEMBRO DO CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA E DESENVOLVIMENTO DO INSTITUTO ROBERTO SIMONSEN

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