Prefeito de São Paulo ainda busca marca para sua campanha à reeleição em 2024

Ricardo Nunes aposta na área habitacional para se fortalecer contra futuros adversários como Boulos


O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB)

Bianca Gomes e Gustavo Schmitt - O Globo

A proposta de tarifa zero nos ônibus municipais foi lançado no fim do ano passado como a grande aposta do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), para seu projeto de reeleição. Pouco tempo depois, a ideia está cada vez mais distante da realidade, e o prefeito de São Paulo ainda busca uma marca para chamar de sua em 2024. Numa estratégia de antecipação das eleições municipais, Nunes se articula para costurar uma aliança à direita e se blindar de possíveis adversários. E, mesmo sob desconfiança, diz a aliados que os ônibus grátis podem sair do papel, sim.

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Nessas conversas, o prefeito demonstra preocupação em repetir a história do tucano Rodrigo Garcia, que, apesar do poder da máquina, foi tragado pela polarização entre petismo e bolsonarismo. A aliança de Nunes com a direita ainda é vista com ceticismo pelo entorno do prefeito. Embora ele tenha se aproximado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nas últimas semanas, figuras como o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) já deixaram claro ao prefeito que não há garantia de apoio em 2024, e uma eventual composição dependerá de seu capital político.

Pesquisa Ipespe encomendada pela gestão Nunes e obtida pelo GLOBO mostra que a atual administração é avaliada como “ótima ou boa” por 33% da população. O mesmo percentual de moradores de São Paulo vê a prefeitura do MDB como “regular”. E 32% dizem que é “ruim ou péssima”.

Os números são vistos com bons olhos por interlocutores do sucessor de Bruno Covas. Correligionários argumentam que, se mantiver a avaliação nesse patamar, Nunes terá uma boa largada na disputa municipal, com vantagem sobre os demais candidatos. Esses mesmos aliados ponderam, no entanto, que há uma distância significativa entre a avaliação da prefeitura e a da figura do prefeito. Garcia, por exemplo, teve uma avaliação de governo superior aos votos que recebeu nas urnas.


Compra de imóveis

Desconhecido de parte da população, Nunes vai chegar à campanha numa situação financeira invejável. Hoje são R$ 26 bilhões em caixa, um acúmulo inédito na história da cidade, e que se explica por vários fatores. Entre eles, o aumento da arrecadação de impostos, sobretudo após mudanças no plano diretor, a renegociação da dívida na gestão Fernando Haddad (PT) e, agora, o acordo do Campo de Marte com a União que zerou o débito. Essa última é uma conquista da atual gestão.

Embora o dinheiro não seja um problema, o gargalo está na baixa capacidade de investimento. Em outras palavras, a prefeitura não consegue gastar todo o dinheiro que tem. São Paulo só executou 25% dos investimentos previstos em 2022.

O prefeito culpa o Tribunal de Contas do Município (TCM) por travar licitações. No entanto, mesmo correligionários do emedebista admitem que faltam projetos à prefeitura, além de estrutura e corpo técnico robusto para colocá-los de pé. Os investimentos recentes em recapeamento e zeladoria, embora agradem a eleitores, não são determinantes para conquistar votos. A mesma pesquisa mostra que a saúde é a área que, segundo os moradores de São Paulo, deve receber mais atenção, seguida de educação e, aí sim, zeladoria e conservação.

A principal aposta do prefeito para a reeleição é na área habitacional. A verba prevista para o setor, que é uma das bandeiras de seu principal adversário, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), atingiu patamar recorde no orçamento de 2023: serão R$ 2,5 bilhões para a habitação. As maiores expectativas recaem sobre o programa Pode Entrar, que abriu margem para a prefeitura comprar imóveis da iniciativa privada para distribuir, o que, em tese, deve agilizar a entrega de unidades habitacionais.

A promessa da tarifa zero virou uma pedra no sapato do prefeito. Uma das dúvidas que pairam sobre o projeto é a necessidade de melhorar a infraestrutura do sistema de transportes, o que demandaria a ampliação dos terminais e dos corredores de ônibus. Além disso, a gratuidade aumentaria a quantidade de passageiros nos ônibus a ponto de poder piorar o serviço e e acabar sendo um ônus na eleição. Nunes nega que seja um balão de ensaio, mantém a proposta e se afasta da polarização.

—Vamos entregar 49 mil unidades habitacionais. Não preciso de balão de ensaio. E não sou nem Lula, nem Bolsonaro. Sou a cidade de São Paulo — afirma Nunes.


As investidas do prefeito de São Paulo

Habitação

Para contrapor seu principal adversário na próxima eleição, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), o prefeito Ricardo Nunes aumentou os investimentos em habitação, setor que é uma das bandeiras de Boulos. Investimentos voltados para a construção de moradias atingiram patamar recorde no orçamento de 2023: serão R$ 2,5 bilhões. Até agora, Nunes já entregou mais de 5.600 unidades habitacionais. A promessa de sua gestão é de chegar a 49 mil, o que é uma meta ambiciosa. Pelo programa Pode Entrar, que abriu margem para a prefeitura comprar imóveis da iniciativa privada, já são 14 mil unidades contratadas.

Saúde

Área que as pesquisas mostram ser decisiva na avaliação do prefeito pelos moradores de São Paulo, a saúde também é outro foco do mandatário. Ele entregou nove Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). A expectativa é chegar a 2.024 com um total de 15 novas unidades. Esses investimentos atendem em boa parte a população mais pobre. Nunes quer aumentar a presença nessas regiões e vincular ao seu histórico de jovem que cresceu na periferia.

Transporte

Embora a promessa da tarifa zero esteja distante de se concretizar na prática, Nunes insiste na proposta. Ele não descarta um plano B. Uma das possibilidades ventiladas é liberar as catracas dos ônibus a alguns públicos, como pessoas inscritas no CadÚnico.

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