"Geraldo Alckmin: preparado para o Brasil", artigo de Welbi Maia

Vice-presidente eleito tem tudo para ser o grande gerente do governo Lula

Vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin 

Welbi Maia Brito* 

Poucos políticos em atividade no País exibem um currículo tão expressivo e tamanha experiência quanto Geraldo Alckmin. E isso faz toda diferença para enfrentar os grandes desafios que terá à partir de 1º de janeiro de 2023.

A experiência acumulada como vereador, deputado estadual, deputado Constituinte, depois reeleito, dão estofo político e traquejo no diálogo com o parlamento. Já como prefeito, vice-governador e quatro mandatos no comando do principal estado da federação, lhe deram experiência administrativa e conhecimento da máquina pública. 

Por duas vezes candidato a Presidente da República, o fez viajar por todo território nacional e estudar de forma meticulosa os principais problemas da população e do Estado brasileiro.

Médico de formação, lhe dá a frieza necessária para tomar decisões difíceis em momentos críticos, como em uma cirurgia. 

O conjunto dessas experiências dá ao vice-presidente eleito conhecimento necessário para ajudar Lula a enfrentar os problemas que herdarão.

E isso não será novidade para ele. Como vice de Mário Covas, ex-governador tucano, que assumiu o Governo de São Paulo falido em 1995, "co-piloto" discreto, na gestão. Mas, ativo e decisivo pela reconstrução administrativa e econômica do Estado. 

Aliás, Alckmin já tem feito a diferença. Como Coordenador-Geral da Transição, de forma discreta, mas extremamente presente e ativa, tem dado conta do recado. Mesmo com o afastamento de Lula para participação da COP-2022 e da recuperação do presidente eleito após uma cirurgia na garganta, os trabalhos prosseguiram e avançaram. 

A formação da chapa Lula-Alckmin foi, para maioria dos analistas políticos, a mais ousada e impactante articulação para uma disputa presidencial pós-redemocratização e uma das maiores da República brasileira.  Dois ex-adversários, que polarizaram durante mais de duas décadas, se uniram e venceram as eleições. 

Agora, enfrentarão, juntos, os desafios de administrar um País polarizado na política, com grave crise econômica, retrocessos nas áreas ambientais, de direitos humanos, relações internacionais, entre outras. 

Como vice-presidente, Geraldo Alckmin, tem tudo para ser o "grande gerente" do terceiro mandato do presidente Lula, caso tenha liberdade para trabalhar. 

Leia, abaixo, mais sobre a trajetória e a vida pessoal e política do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin.


Quem é Geraldo Alckmin

Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho nasceu em Pindamonhangaba, região do Vale do Paraíba, no interior de São Paulo, em 7 de novembro de 1952. Ele é filho do veterinário Geraldo José Rodrigues Alckmin e da professora Myriam Penteado Rodrigues Alckmin, e tem duas irmãs mais velhas, Maria Isabel e Maria Aparecida.

A mãe morreu quando o filho caçula tinha 9 anos. Alckmin foi criado pelo pai, com ajuda das irmãs e da babá, numa fazenda experimental do governo em Pinda, como a cidade é conhecida popularmente. Geraldo sênior era responsável pela propriedade.

Recebeu a educação católica do pai, devoto de São Francisco. “Meu pai falava: ‘Não vou deixar dinheiro para vocês, mas uma formação religiosa eu vou deixar’”, disse o ex-governador à revista Piauí em 2015.

A religiosidade da família veio da avó paterna, Ida Ravache. O tio do ex-governador, José Geraldo Rodrigues Alckmin, que foi ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), era da Opus Dei, instituição conservadora da Igreja Católica.

O jovem Geraldo entrou na Faculdade de Medicina da Universidade de Taubaté (Unitau), no Vale do Paraíba, em 1971. Logo entrou também na política. 

Trajetória política

Em 1972, foi eleito o vereador mais jovem de sua cidade natal pelo MDB, partido de oposição durante o regime militar, e presidiu a Câmara Municipal em 1973 e 1974.

Em 1976, Alckmin se elegeu prefeito de Pindamonhangaba com apenas 67 votos de vantagem. Tomou posse em 1977, mesmo ano em que terminou a faculdade. Fez pós-graduação em Anestesiologia no Hospital do Servidor Público de São Paulo.

Chegou a ser chefe do Departamento de Anestesiologia da Santa Casa de Pinda. Durante os estudos e início da carreira política, ele ainda deu aulas na Fundação Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras e no Instituto Santa Tereza, ambos em Lorena, outro município do Vale do Paraíba.

Com a anistia e o fim do bipartidarismo imposto pela ditadura, em 1979 Alckmin entrou para o PMDB, sucessor do MDB. Hoje o partido voltou a adotar a sigla original. O mandato de quatro anos na prefeitura foi ampliado para seis em função de legislação aprovada pelo Congresso Nacional.

Em 1982, foi eleito deputado estadual, mesmo ano em que André Franco Montoro ganhou a disputa para o governo de São Paulo pelo PMDB. Em 1986, Alckmin elegeu-se deputado federal constituinte.

De acordo com informações do CPDOC da Fundação Getulio Vargas (FGV), na Assembleia Nacional Constituinte, Alckmin foi contrário à pena de morte, limitação do direito de propriedade privada, estabilidade no emprego, jornada semanal de 40 horas, estatização do sistema financeiro, limitação dos juros reais em 12% ao ano e ao mandato de cinco anos para o então presidente José Sarney (MDB).

Foi a favor do rompimento de relações diplomáticas com países que praticassem politicas de discriminação racial, da unicidade sindical e do voto a partir dos 16 anos. Votou contra a manutenção do presidencialismo, tema que voltaria ser discutido em plebiscito de 1993.

Em 1988, Alckmin entrou para o PSDB, do qual foi um dos fundadores. O novo partido foi lançado por egressos do PMDB da época, como Montoro, FHC, Mario Covas e José Serra. Na Câmara, o futuro governador foi relator do projeto de regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS), criado pela nova Constituição, e autor do projeto de lei do Código de Defesa do Consumidor (CDC).

Reeleito deputado em 1990, no ano seguinte ele se tornou presidente do PSDB de São Paulo. Em 1992, votou a favor do impeachment do então presidente Fenando Collor de Mello (na época no PRN, hoje no PTB).

Vice de Covas

Formou chapa com Mário Covas e elegeu-se vice-governador de SP em 1994, com mandato a partir de 1995. Defendia a reforma administrativa, o enxugamento da máquina, corte de despesas, privatizações e PPPs. Nesse sentido, foi indicado presidente dos conselhos diretores dos programas estaduais de Desestatização e de Parcerias com a Iniciativa Privada.

Assumiu o governo do estado de julho a outubro de 1998, quando Covas se licenciou para a campanha de reeleição. Com a chapa reeleita, voltou a ocupar a cadeira do titular em janeiro de 1999, pois o governador havia passado por uma cirurgia para extrair um tumor da bexiga.

Com apoio de Covas, Alckmin candidatou-se à Prefeitura de São Paulo nas eleições de outubro de 2000, vencida por Marta Suplicy, então no PT. Poucos meses depois, assumiu definitivamente o governo do estado com a morte de Covas, em 6 de março de 2001, após longa luta contra o câncer.

Logo no início de seu voo solo, Alckmin protagonizou um dos episódios mais inusitados de sua carreira política, quando Fernando Dutra Pinto, que havia sequestrado a filha de Silvio Santos, Patrícia Abravanel, invadiu a casa do apresentador dois dias após libertá-la e fez o dono do SBT de refém. O então governador foi pessoalmente negociar a libertação do empresário e a rendição do criminoso, o que ocorreu. Dutra Pinto morreu na cadeia quatro meses depois.

Voo solo

Em 2002, Geraldinho, como era chamado pelos colegas de partido na época, foi reeleito governador de SP, vencendo o petista José Genoino no primeiro turno. Na reta final da campanha daquele ano, sua popularidade estava em alta e Serra, então candidato do PSDB à Presidência, colou parte de sua agenda na dele na tentativa de melhorar suas chances na corrida contra Lula. Mas Lula venceu, e nas eleições seguintes enfrentaria o agora aliado.

A contragosto da cúpula tucana, em 2006 Alckmin lançou sua candidatura à Presidência.

O pleito ocorreu sob a sombra do mensalão, escândalo de compra de votos de parlamentares que abalou o primeiro mandato de Lula. Mas o bom desempenho da economia brasileira no período contribuiu para a vitória do petista. Naquele momento, o petista tinha alto índice de popularidade. Levar o pleito para o segundo turno foi um grande feito de Alckmin.

Em 2008, o ex-governador lançou-se candidato a prefeito de São Paulo enquanto Serra, que deixara o cargo para concorrer ao governo do estado, apoiava seu antigo vice, Gilberto Kassab (então no DEM, hoje no PSD). Sem apoio integral do partido, não chegou ao segundo turno. Disputada por Kassab e Marta, a fase final foi vencida pelo primeiro.

Sem cargo eletivo, Alckmin assumiu em 2009 a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, na gestão Serra.

O retorno de Geraldo Alckmin

Em 2010, ele voltou ao cargo e se elegeu novamente governador, desta vez no primeiro turno. Mercadante, hoje coordenador do programa de governo da chapa Lula-Alckmin, ficou em segundo lugar.

Entre os desafios enfrentados pelo político no novo mandato estiveram as manifestações de junho de 2013, iniciadas em protesto contra o aumento das tarifas de transportes públicos. Assim como Haddad, prefeito da capital na época, Alckmin cancelou e segurou o reajuste temporariamente.

Muito mais grave, a crise hídrica colocou em risco o abastecimento de água em São Paulo em 2014, quando o Sistema Cantareira atingiu seu nível mais baixo. Isso não impediu que Alckmin fosse reeleito. Depois de captadas as cotas do “volume morto”, e de obras de interligação do sistema de abastecimento, ele venceu mais uma vez no primeiro turno.

Nas suas várias passagens pelo governo paulista, Alckmin o policiamento foi reestruturado, reforçado, reequipado e os índices de criminalidade caíram.

Não só em suas gestões, mas nos mais de 26 anos de comando tucano no estado, houve grande ênfase em rodovias e no transporte sobre trilhos. Ocorreram grandes investimentos na construção do Rodoanel, expansão do metrô e da malha da Companhias Paulista de Transportes Metropolitanos (CPTM). Tais investimentos, em sua maioria, não contaram com investimentos do governo federal, como realizado nos demais estados da federação.

Em 2018, quando Alckmin tentou a Presidência pela segunda vez, o PSDB teve seu pior resultado em eleições presidenciais. No segundo turno, ele optou pela neutralidade, não apoiando Bolsonaro, nem Haddad.

Geraldo Alckmin e sua família

Boa praça, contador de “causos” e piadista de salão, Alckmin é prudente e didático, às vezes repetitivo, em suas declarações. “Amassar barro” e “arregaçar as mangas” são alguns de seus bordões para se referir ao trabalho.

Ele é também calculista, como mostram os diferentes episódios em que articulou para fazer valer sua vontade dentro do PSDB; e pragmático, como revela sua aliança com Lula.

É torcedor do Santos Futebol Clube, grande tomador de cafezinhos e frequentador de padarias.

Casou em 1979 com Maria Lúcia Guimarães Ribeiro, a Lu Alckmin. Eles tiveram três filhos: Sophia, Geraldo e Thomaz. Em 2015, Thomaz, o caçula, morreu num acidente de helicóptero em Carapicuíba, na Grande São Paulo. O ex-governador tem quatro netos, duas meninas e dois meninos.

*Welbi Maia Brito - Jornalista, publicitário e editor-responsável do Blog do Welbi

Fonte: Infomoney

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