Persio Arida: ‘Responsabilidades fiscal e social caminham juntas, e não separadas’

Ex-presidente do BC disse, em Nova York, que é necessário avanças nos dois fronts ao mesmo tempo; ele também voltou a defender a adoção de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA)

Persio Arida

Aline Bronzati, Pedro Venceslau e Cícero Cotrim - Estadão

O ex-presidente do Banco Central Persio Arida, membro da equipe de transição de governo Lula, defendeu nesta terça-feira, 15, a necessidade de o Brasil avançar no âmbito fiscal e no social. Segundo ele, essas questõs caminham juntas e não separadas, nem opostas. 

“Do ponto de vista substantivo, sabemos que responsabilidade fiscal e responsabilidade social vão juntas, elas não são separadas ou opostas”, afirmou, em evento do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em Nova York. “É necessário avançar nos dois fronts, não vejo nenhuma oposição entre um e outro, pelo contrário: se avançar num front e não avançar no outro, mais cedo ou mais tarde vai ser incapaz de fazer qualquer avanço.”

Arida entrou no tema após questionamentos quanto à reação do mercado financeiro na semana passada, quando o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva criticou “a tal da estabilidade fiscal” e defendeu a ampliação de gastos públicos para combater a miséria. Ao falar a uma plateia de empresários, políticos, ministros e banqueiros, ele pediu desculpas por não poder trazer tantos detalhes dos planos do futuro governo, uma vez que integra a equipe de transição.

Segundo ele, há inúmeros casos na América Latina, e mesmo no mundo desenvolvido, em que políticas sociais feitas sem responsabilidade fiscal geraram crise macroeconômica, que acabou inviabilizando as realizações sociais. Além disso, a adoção de uma política social sem fiscal “tira a base de sustentação das políticas macroeconômicas”, ponderou.


Reformas e crescimento 

Arida afirmou também que o avanço de reformas no Brasil é vital para o País crescer mais. “Nosso principal desafio econômico hoje é crescermos de forma inclusiva e sustentável. O Brasil tem decepcionado em matéria de crescimento, inclusão e preservação do meio ambiente”, afirmou.

Ele defendeu três “reformas essenciais” no Brasil: a abertura da economia e as reformas do Estado e tributária. “O Brasil precisa abrir sua economia, tomar medidas necessárias para se abrir ao máximo para a economia mundial”, disse.

Quanto à reforma do Estado, chamou atenção para a necessidade de uma reforma administrativa e também em termos de gastos. “Precisamos mudar a forma como o Estado é gerido. Temos um Estado que não se comunica bem com cidadãos, não presta satisfação e é percebido publicamente ineficiente. Gasta muito e mal”, disse. “A reforma do Estado é vital.”

Por último, ao falar da reforma tributária, defendeu o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), um modelo de unificação de impostos e uma “tributação mais justa”. “É factível que reforma do IVA seja atingida no curto prazo, de seis a oito meses”, avaliou. “Já estamos amadurecidos para isso.”

Na visão de Arida, as três reformas dependem de uma mudança cultural no Brasil. “Fato fundamental nessas reformas é esforço de persuasão política”, disse.

No curto prazo, o Brasil também tem de atender à massa de população marginalizada, sem inclusão no mercado de trabalho e passando fome. “Temos de crescer com programas sociais emergenciais por um período razoável de tempo”, alertou.

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