Kassab será secretário de Governo e homem-forte de Tarcísio em SP

Presidente do PSD é o principal articulador político do ex-ministro; aliado será chefe da Casa Civil

Felício Ramuth, Kassab e Tarcísio


Igor Gielow - Folha.com
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O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, será anunciado como secretário de Governo da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo.

A indicação marca a volta formal do cacique a um posto no Executivo desde passou quase dois anos licenciado da Casa Civil do ex-governador João Doria (ex-PSDB, hoje sem partido), cargo que não chegou a ocupar.

O cargo no comando da Casa Civil será de Arthur Lima, aliado próximo de Tarcísio que trabalhou com ele no Ministério da Infraestrutura do governo de Jair Bolsonaro.

A indicação consolida Kassab como o principal articulador político de Tarcísio, um neófito na política sacado do ministério de Bolsonaro para ser o candidato do presidente no principal colégio eleitoral do país. A posição extraoficial já incomodava bolsonaristas do entorno do governador eleito.

Tarcísio logrou ocupar o espaço no centro político e desalojou o governador Rodrigo Garcia (PSDB), ex-vice de Doria, da disputa do segundo turno. Ele ultrapassou todos os rivais e, na segunda rodada, bateu Fernando Haddad (PT) com 55,2% dos votos.

Toda a montagem do arcabouço político entre prefeitos do estado coube a Kassab, que havia apostado em Tarcísio quando viu sua ideia de levar Geraldo Alckmin para disputar o Bandeirantes pelo PSD fracassar: o ex-governador tucano agora é do PSB e vice-presidente eleito na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Indicou o vice-governador eleitor, Felício Ramuth (PSD), e agora cristaliza sua ascendência sobre a gestão estadual.

Kassab é um dos mais experientes quadros políticos do país, com passagem pelo Legislativo e pelo Executivo. Foi vice-prefeito de José Serra (PSDB) em São Paulo (2006) e titular da capital de 2006 a 2012. Ocupou ministérios nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

No governo Bolsonaro, manteve o PSD numa distância regulamentar, apoiando pontualmente ações congressuais.

Em entrevista à Folha após as eleições, ele afirmou que sua ideia agora era tornar a sigla uma referência na centro-direita e listou suas condições para apoiar o governo Lula, do qual acabou fazendo parte da transição.

Para Kassab, contudo, voltar a Brasília faz menos sentido do que focar em São Paulo, ainda mais com a turbulência política antecipada na transição de Lula. Tarcísio, mesmo não sendo ainda do PSD, está sob sua órbita política, e não há joia da coroa mais vistosa no país do que o governo paulista.

Na entrevista, Kassab disse que não precisaria ser necessariamente um secretário de estado para ajudar seu aliado, e lembrou que tem outros ativos importantes pelo país, como o governo do Paraná ou a Prefeitura do Rio.

Na composição interna, contudo, o cacique terá a função de equilibraras demandas de grupos bolsonaristas desalojados do poder em Brasília, dos ocupantes da máquina estadual durante quase três décadas de governos do PSDB e dos aliados técnicos de Tarcísio —como Lima, que foi diretor da Empresa de Planejamento e Logística da pasta do atual governador eleito.

Nem Kassab nem Tarcísio foram localizados para comentar o cenário. O pessedista deverá deixar a direção nacional de sua sigla, mas não seu posto de principal líder do partido.

Em 2019, ele havia sido indicado por Doria para chefiar a Casa Civil, mas às vésperas da posse foi objeto de uma operação da Polícia Federal que investigava doações consideradas suspeitas da empresa JBS entre 2010 e 2016.

Kassab sempre negou quaisquer irregularidades, e, segundo ele, 80% dos procedimentos legais do caso já foram encerrados.

Seja como for, ele licenciou-se sem assumir, para evitar constrangimento a Doria. Aliados dizem que ele nunca perdoou o ex-governador, que teve outros secretários envolvidos em casos considerados mais graves, por não tê-lo reintegrado quando começou a ter vitórias na Justiça. Kassab nega o mal-estar.

Após mais de 500 dias, deixou o governo e qualquer possibilidade de composição com o então tucano —que deixou a política e o PSDB após ter vetada no seu partido a postulação presidencial este ano.

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