Assédio bolsonarista em SP

Eleito com a imagem de técnico, Tarcísio tem o dever de resistir a pressões do bolsonarismo ao nomear secretários

Bolsonaro e Tarcísio 

O Estado de S.Paulo 

Se era séria sua promessa de campanha de fazer um governo técnico e competente, o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem o dever de impedir que a administração do Estado se transforme em cabide de emprego para bolsonaristas desqualificados. 

O risco de desmoralização do governo paulista ficou claro nos últimos dias. A recente conversa de Tarcísio de Freitas com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o filho “zero três” do presidente da República, Jair Bolsonaro, evidenciou o que já se sabia: é grande a pressão para que o futuro governo de São Paulo abrigue bolsonaristas que serão desalojados do Palácio do Planalto e da administração federal a partir de 1.º de janeiro. Ou que sirva de vitrine para bolsonaristas de primeira hora com aspirações em eleições futuras. 

O governo paulista tem compromisso com o desenvolvimento de um Estado que lidera a economia brasileira e que se propõe a servir de exemplo para o País na busca de soluções arrojadas e inteligentes. Supõe-se que o eleitorado paulista tenha enxergado no carioca Tarcísio, malgrado não ter quase nenhuma relação com São Paulo, o nome certo para dar continuidade a esse perfil de competência e pujança. 

Sendo assim, se não quiser começar com o pé esquerdo sua primeira experiência como chefe de Executivo, Tarcísio deve deixar claro a seus padrinhos que, por mais agradecido que esteja, não pode contaminar seu governo com o rebotalho bolsonarista. 

Qualquer candidatura normalmente é construída em cima de compromissos político-partidários de divisão de poder, e é natural que os sócios da empreitada eleitoral reivindiquem espaços de destaque na administração em caso de vitória. Ainda assim, Tarcísio deve riscar uma linha vermelha, uma espécie de fronteira do que é aceitável e do que é intolerável: acordos políticos são uma coisa; empregar desqualificados cuja única capacidade é a de conspurcar o debate público com desinformação é outra bem diferente. A foto de um secretariado com essas características será a imagem não de um governo sério e capaz, mas de um aleijão moral. 

Ao longo de toda a campanha eleitoral, a propaganda de Tarcísio bateu na tecla de que o candidato tinha perfil técnico: o de alguém preparado para fazer avançar o Estado com maior população e atividade econômica do País. Ora, não será abrindo espaço para o que há de pior na recente safra política brasileira que o futuro governador terá êxito. 

É preciso resistir ao assédio bolsonarista e impedir que as pressões vindas seja de quem for − do presidente da República, de seus filhos com mandato parlamentar ou de aliados extremistas − contaminem de extremismo um governo que ainda nem começou. Nomear um secretariado à altura dos desafios de São Paulo e das promessas feitas durante a campanha será, provavelmente, o maior teste político de Tarcísio. As escolhas que fizer agora dirão muito, se não tudo, do que se poderá esperar de sua atuação como governador.

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