Na ONU, Bolsonaro repete informações falsas sobre corrupção e feminicídios

A Lupa checou as principais declarações do presidente em Nova York

O presidente Jair Bolsonaro 

AGÊNCIA LUPA

O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) fez o discurso de abertura da 77ª Assembleia-Geral da ONU nesta terça-feira (20) em Nova York. Ele chegou aos Estados Unidos na noite da segunda-feira (19), após participar do funeral da rainha Elizabeth 2ª em Londres, no Reino Unido.


“No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país”
Jair Bolsonaro (PL)

FALSO

O governo Bolsonaro é alvo de diversas acusações de corrupção. Neste ano, por exemplo, veio à tona que dois pastores evangélicos controlavam a agenda e a liberação de verbas do MEC durante a gestão de Milton Ribeiro. Reportagens mostraram que os dois pediam propina para os municípios terem acesso a verbas da pasta. O ex-ministro chegou a ser preso por causa desse caso. Um dos pastores visitou o Palácio do Planalto em pelo menos 35 oportunidades —e o presidente decretou sigilo sobre essas visitas.

No ano passado, o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias foi acusado de pedir propina para autorizar a compra de vacinas pelo governo. Conforme a denúncia, divulgada pela Folha em junho de 2021, Dias teria condicionado a aquisição de imunizantes da AstraZeneca ao recebimento ilícito de US$ 1 por dose.

Emails mostram negociação do governo Bolsonaro com empresa que denunciou cobrança de propina




Emails mostram que o Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro negociou oficialmente venda de vacinas com representantes da Davati Me 

Já o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles é investigado por facilitar venda exportação ilegal de madeira. O ex-ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio foi denunciado em outubro de 2019 pelo esquema de candidaturas-laranjas do PSL, no ano anterior.

Há ainda o chamado "orçamento secreto" —emendas parlamentares cuja destinação não é divulgada publicamente, que chegaram a R$ 16,5 bilhões só em 2022. Também existem diversas suspeitas de corrupção envolvendo emendas do orçamento secreto, incluindo a compra irregular de kits de robótica superfaturados em escolas de Alagoas e Pernambuco e fraudes no SUS.


“Já são mais de 350 mil venezuelanos que se encontraram em território brasileiro”
Jair Bolsonaro

FALSO

Durante o governo Bolsonaro, houve aumento de 9,1% de casos de feminicídio no Brasil. Os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em 2018, último ano da gestão Michel Temer (MDB), houve 1.229 registros desse crime no país. Em 2021, último ano com números disponíveis para consulta, subiu para 1.341.

Em 2020, foram 1.354 casos e, em 2019, 1.328. Todos os indicadores para esse tipo de crime no governo Bolsonaro são superiores ao total registrado no final da gestão Temer.


“Nosso esforço em sancionar mais de 70 normas legais sobre o tema desde o início do meu governo, em 2019”
Jair Bolsonaro

EXAGERADO

O governo Bolsonaro sancionou 40 leis voltadas especificamente para as mulheres, não 70. Nenhum dos projetos de lei (PLs) sancionados era de iniciativa da Presidência.

Em julho, a Secretaria da Mulher da Câmara divulgou uma lista com 72 leis criadas na atual gestão que, supostamente, visavam a proteção da mulher. Contudo, 26 delas não tinham qualquer relação com mulheres. Outras 6 foram vetadas parcial ou totalmente pelo presidente —é o caso do texto sobre a distribuição de absorventes a estudantes e pessoas de baixa renda, com veto derrubado pelo Congresso.

Bolsonaro já havia feito a mesma declaração, classificada como exagerada pela Lupa, em duas ocasiões: 28 de agosto e 1º de setembro.


“Na Amazônia brasileira [...] mais de 80% da floresta continua intocada”
Jair Bolsonaro

EXAGERADO

Embora 82,1% da Amazônia seja coberta por vegetação nativa, segundo dados mais recentes do MapBiomas, isso não significa que toda essa área esteja, de fato, "intocada". Pelo sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que mostra o acumulado de área desmatada no bioma, não é possível discernir áreas degradadas —ainda que tenham árvores de pé— das ainda preservadas.

Uma área é considerada degradada quando sofre alguma ação natural ou humana que a altera e limita a capacidade de recuperação —como queimadas. Nem sempre esses espaços são mapeados pelos sistemas que monitoram o desmatamento. Em 2020, um grupo de pesquisadores alertou, em artigo na revista científica Science, que a área degradada ou "empobrecida" na região amazônica já era maior que a desmatada ou "desaparecida" —portanto, mais do que 18%.

Em agosto, o Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostrou que a área degradada no bioma pela extração de madeira e queimadas chegou a 976 quilômetros quadrados, um aumento de 5.322% em relação a agosto de 2021, quando foram registrados 18 quilômetros quadrados.

Além disso, o desmatamento em si, ou seja, a derrubada de árvores, aumentou nos últimos três anos consecutivos, segundo o sistema Prodes, do Inpe. Em 2021, atingiu 13.038 quilômetros quadrados, a maior taxa desde 2006. Entre 1985 e 2020, a Amazônia brasileira perdeu 45,2 milhões de hectares de vegetação nativa, o que equivale a 11,6% da sua cobertura original.


"Nos últimos meses chegam por dia e a pé cerca de 600 venezuelanos [no Brasil]"
Jair Bolsonaro

EXAGERADO

Segundo o Informe de Migração Venezuelana da Casa Civil, de janeiro a julho de 2022 (último mês registrado), chegaram ao país 87.836 migrantes venezuelanos, o que representa 414 pessoas por dia.


"Temos mais de 80% de população vacinada contra Covid"
Jair Bolsonaro

VERDADEIRO, MAS

Segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, 86,6% da população brasileira recebeu a primeira dose da vacina e 79,4% tem o ciclo vacinal completo —sem considerar doses de reforço. Os dados são desta segunda (19). Contudo, a vacinação no Brasil começou em ritmo lento, enquanto, ao mesmo tempo, o número de casos e mortes pela doença atingiu seu pico, no início de 2021.

A vacinação no país começou em 17 de janeiro de 2021 —40 dias depois de a primeira pessoa do mundo, exceto voluntários em testes, ter recebido o imunizante no Reino Unido, em 8 de dezembro de 2020. Antes do Brasil, ao menos 47 países já haviam iniciado a imunização.

A primeira vacina contra o Sars-CoV-2 no país foi a Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. A fórmula foi criticada por Bolsonaro em pelo menos dez ocasiões antes de ela começar a ser aplicada na população brasileira. Em 21 de outubro de 2020, por exemplo, o presidente afirmou que o governo federal não compraria doses da Coronavac e que o povo brasileiro não seria "cobaia de ninguém". Ele também chamou a Coronavac de "vacina chinesa de João Doria".

A campanha no Brasil ainda começou em ritmo lento. Até 18 de abril de 2021, só 4,5% da população já tinha recebido a segunda dose. Em maio daquele ano, o ritmo caiu ainda mais. Em julho de 2021, seis meses após o início da campanha, apenas 13% da população tinha vacinação completa contra a doença —naquela altura, 525 mil pessoas tinham morrido em decorrência do coronavírus.

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