Entrevista de Bruno Araújo ao jornal O Globo

Presidente do PSDB afirma que ainda é cedo para cobrar melhora em pesquisa e minimiza elogios feitos por senadores tucanos a Simone Tebet

Presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo assumiu a coordenação da campanha de João Doria 

Gustavo Schmitt - O GLOBO

O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, reagiu ontem a declarações de tucanos que têm criticado a candidatura do governador de São Paulo, João Doria, e incentivado o nome da senadora Simone Tebet (MDB) e saiu em defesa do nome escolhido por seu partido.

Em entrevista ao GLOBO, Araújo, que assumiu a coordenação da campanha de Doria, minimizou divisões internas após os senadores Tasso Jereissati (CE) e José Aníbal falarem, em entrevistas, que veem Tebet com mais chances que Doria na eleição e que acham muito alta a rejeição ao governador paulista.

O dirigente frisou que trabalha pela unidade do centro, mas disse acreditar que deve-se levar uns meses até que se discuta se candidaturas do campo devem se unir. Embora admita que é importante manter conversas com todos, o tucano criticou a possível união do ex-governador paulista Geraldo Alckmin e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, esta pode ser “a maior história de incoerência política do Brasil pós-redemocratização”.


ENTREVISTA

Em entrevista ao GLOBO sábado, o senador José Anibal (PSDB-SP) defendeu a candidatura de Tebet em detrimento de Doria por falta de viabilidade e excesso de rejeição do governador. Como o senhor analisa essas declarações do seu correligionário?
O senador Aníbal é um amigo e um dos quadros mais relevantes do PSDB. Tem um papel importante e histórico no partido. Mas esse momento é de fair play. Não há como se cobrar de Doria, ou de qualquer outro candidato, um resultado eleitoral em março. Se assim o fizesse, as política teria feito as convenções em abril e maio. Não em agosto. As convenções sempre se dão mais a frente porque é um tempo de maturidade do processo político. Então cobrar ou de Simone, ou de Doria, ou de qualquer player, é desconsiderar as múltiplas variáveis da política. Tanto o governador Doria, quanto o partido tem clareza absoluta que vai chegar o momento — e isso não será em março — em que todos os candidatos do campo do centro vão ter que dar sinais de uma perspectiva de alcançar dois dígitos.

Aliados de Doria dizem que o movimento de Aníbal é minoritário, mas o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) havia dado o pontapé inicial antes e já houve uma articulação em São Paulo até para lançar candidato por outro partido para disputar o pleito no mesmo campo com o vice Rodrigo Garcia...
Sem querer entrar na seara de partidos parceiros, como é o MDB, todas as siglas têm problemas internos. A senadora Simone, um dos melhores quadros da vida pública nacional, é longe de ser unanimidade no MDB. Tem quadros mais relevantes da história do MDB dando sinais de que vão seguir com Lula. O Podemos até uns dias atrás estava tentando passar a candidatura à frente para um outro partido, que é parceiro e relevante no cenário nacional, como é o União Brasil. Isso é algo que enfraqueceu do ponto de vista político o projeto da candidatura Moro. Ou seja, o nosso problema ele é maior: é conjuntural. Envolve todo o conjunto do centro democrático, a chamada terceira via. E aí espero que haja espírito público desses pré-candidatos para, no momento certo, fazer um esforço na possibilidade de uma candidatura única que torne viável esse projeto. Se não, a terceira via talvez possa ser a maior responsável pela volta de Lula à presidência. Então, claro que o PSDB também tem problemas. Só há uma diferença: é que os tucanos gostam muito mais de imprensa do que os outros partidos. Os outros resolvem suas questões com mais inteligência emocional. Isso dá mais trabalho.

O PSDB estuda enquadrar esses dissidentes?
Não sou daqueles que faz política jogando gasolina na fogueira. O meu estilo sempre foi de dialogar, de respeitar diversidade e o momento certo das coisas. Nenhum lado acerta 100%, nenhum lado erra 100%. Somos um partido com décadas de existência e que tem uma pluralidade de pensamento. O que nós vamos, sim, é trabalhar pela nossa candidatura e por uma unidade de centro. Esse é um foco. João Doria e o PSDB ainda tem tempo para dar clareza e mostrar que estão no jogo. Mas até aqui é dado a ele o direito de seguir no jogo. Fizemos um processo de escolha através de prévias. E esse processo dá ao partido e a ele o tempo de demonstrar viabilidade de ter um resultado como um candidato consistente a presidente.

Tucanos de Minas têm reclamado da possibilidade de Doria ir ao estado sem fazer contato com o grupo de Aécio e cobram do governador paulista o desafio de reunificação do partido. O senhor que é conhecido pelo perfil conciliador, acha possível algum gesto de diálogo de Doria na direção de Aécio?
Posso dar o testemunho que o governador vem fazendo movimentos pra começar esse diálogo. Prefiro que as nossas lideranças tenham mais paciência de fazer mais movimentos para dentro, do que ter necessidade de tornar as estratégias públicas. Acho que é possível haver um entendimento, uma construção, e ela é fundamental para dar mais estabilidade a todo esse processo que vem à frente. 

Alguns tucanos, como José Aníbal e Aloysio Nunes, dizem que a aliança entre Lula e Geraldo foi lida com bons olhos...
É importante deixar claro que é legítimo que todos nós do campo democrático conversamos com qualquer liderança de partido político. Do PSOL ao partido do presidente da república. Dialogar, conviver e conversar é uma coisa. É fundamental, é civilizado. Validar posições políticas antagônicas é que não tem o nosso respaldo. Geraldo Alckmin discordou do ponto de vista político, ideológico e de ações do PT durante décadas. Um dia ele acordou com uma compreensão de que tudo que achava estava errado.

O sr. entende que Alckmin está sendo incoerente nesse movimento?
Eu vejo como alguém que pode até eventualmente virar vice-presidente da república. É algo possível pelo indicativo de pesquisa de opinião de hoje. Mas será um vice-presidente que vai carregar a maior história de incoerência política do Brasil pós-redemocratização.

O senhor acha que é possível uma aliança lá na frente entre Doria e Tebet?
Espero apenas que haja serenidade desses pré-candidatos e de todos os líderes do centro, entre os quais me incluo, para que no momento apropriado deixem de lado vaidades pessoais, disputas pessoais, projetos pessoais, e se agarrem na bóia de uma salvação coletiva. Que possamos encontrar uma alternativa que concentre toda energia numa só candidatura. Aí sim eleva-se ao padrão relevante de colocarmos esse candidato, através de voto útil na fase final da campanha, no segundo turno. Fora isso, todos teremos uma missão muito difícil e esse centro democrático, a terceira via, poderá ser a maior força colaborativa para uma eleição do PT. Temos responsabilidade política e histórica e relevante. Se vai dar certo? Eu não sei, mas temos de tentar.

Como Doria pode reverter seu desempenho na pesquisa e converter ativos como a Coronavac e reduzir rejeição?
A avaliação do governo de São Paulo está de forma impressionante desconectada da avaliação pessoal do governador. Há por parte de nós, mas mais importante ainda por parte do governador, uma compreensão que há algo que não deu certo na comunicação. E existem muitos atributos e entregas. Podemos citar o equilíbrio das contas do estado de São Paulo, a capacidade de investimento, a eficiência para viabilizar a vacina Coronavac e a velocidade da imunização da população. Esses pontos que citei demonstram capacidade de entrega executiva de Doria e de sua equipe. Isso talvez não mexa nada na realidade do Piauí e do Mato Grosso, já que campanha nacional é outra coisa. Mas a desconexão entre toda essa qualidade administrativa e a intenção de voto é o desafio no curto prazo. E isso está sendo trabalhado.

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