Parque Augusta - Prefeito Bruno Covas abre com trilhas do século passado, ruínas e cachorródromo

Inauguração está prevista para o próximo sábado (6), e funcionará todos os dias das 5h às 21h



O parque Augusta - Prefeito Bruno Covas, na região central de São Paulo, está pronto para, enfim, abrir as portas ao público. A previsão é que a inauguração ocorra no sábado (6). O espaço, que ocupa parte do quarteirão entre as ruas Augusta, Caio Prado e Marquês de Paranaguá, deve ficar aberto todos os dias das 5h às 21h.

A data de entrega do parque põe um fim na novela que envolve o terreno e se arrasta há 50 anos.

O bosque do parque Augusta. Durante a reforma do local, foram retiradas 73 árvores e 193 novas mudas. Hoje, o local reúne 920 árvores - Eduardo Knapp/Folhapress

Os primeiros registros da área são de 1902, quando a Vila Uchoa foi construída —o palacete arquitetado por Victor Dubugras foi transformado no Colégio Des Oiseaux. Na entrada principal, na rua Caio Prado, os visitantes atravessarão parte do que sobrou dessa escola: o portal tombado pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo).

Ali circulavam as alunas do colégio que funcionou entre 1907 e 1969, exclusivamente para as filhas da elite paulista —passaram pela instituição nomes como Marta Suplicy e Ruth Cardoso. Para o parque, o portal foi restaurado a fim de abrigar uma guarita.

Ele funcionará como porta para os 24 mil m² de terreno. Lá dentro o público terá acesso a um bosque, a uma arquibancada para apresentações, a um cachorródromo, a parquinhos para crianças e a equipamentos de ginástica, entre outros atrativos.



Há ainda locais para instalação de redes (redário), slacklines e a chamada Casa das Araras —também tombada pelo Conpresp—, que foi restaurada para receber eventos e pequenas exposições.

O prédio do Colégio Des Oiseaux não existe mais, pois foi derrubado em 1974. Alguns anos depois, em 1977, o terreno foi comprado pela construtora Teijin. A empresa pretendia transformá-lo em um complexo hoteleiro. O projeto, porém, naufragou, e o local passou a ser usado para shows e apresentações.

Na sequência, um ex-banqueiro adquiriu o pedaço de terra e anunciou um hipermercado, que também não saiu do papel. E, em 2006, em meio a essas indefinições, começaram os embates com moradores da região.

Os anos seguintes foram marcados por discussões entre vizinhos, novas compras e vendas do terreno e também novos anseios na região. Em 2013, as construtoras Cyrela e Setin adquiriram a área e anunciaram que ergueriam ali torres.

Entre os atrativos do novo parque de São Paulo, está um cachorródromo com equipamentos para os pets brincarem 

Após um longo processo de negociação, idas e vindas, ocupações, festivais e mobilização de moradores, o terreno foi doado à Prefeitura de São Paulo em 2019 pelas construtoras. Em troca, as empresas receberam créditos para erguer outros empreendimentos na cidade.

Como parte do acordo, os custos de implantação do parque foram realizados pelas empresas. De acordo com a prefeitura, os investimentos com a obra giram em torno de R$ 11 milhões.

Além da iniciativa do parque, a análise de potencial arqueológico do terreno também partiu de moradores e frequentadores da região que encaminharam um pedido ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Por isso, as obras foram atrasadas, em meio à pandemia em 2020, quando houve a descoberta de atrativos arqueológicos —nas escavações foram achados 2.126 materiais como louças, vidros, pisos, soleiras de porta, cerâmicas e metais, entre outros itens.

Ruínas encontradas durante a escavação permanecem no parque. "A ideia futura é fazer um parque arqueológico dentro do parque Augusta, e isso é inédito em São Paulo", diz a arqueóloga Angela Moreira, que acompanhou a obra.

Moreira explica que os fragmentos de materiais construtivos estão no Centro de Arqueologia de São Paulo, onde ainda passam por um tratamento. "Depois devemos fazer uma exposição para que as pessoas possam ter contato com esse material."

Durante as obras, em 2019, também foram descobertas trilhas do século passado, que foram mantidas. Além disso, também foi preservado um muro com antigos arcos. Acredita-se que antigamente ele contivesse tubulações que serviam para escoar água até a região da avenida Nove de Julho.

Grafites e pichações realizadas ao longo das décadas também foram deixados, como registro histórico. Diretora da Divisão de Implementação, Projetos e Obras da Secretaria do Verde e Meio Ambiente, Isabella Armentano lembra que manter o muro com essas intervenções também foi uma reivindicação da sociedade, já que o projeto anterior previa a demolição de partes dele.

Quem passa pela rua Augusta, vê no letreiro "Parque Augusta - Prefeito Bruno Covas". O nome é fruto de um projeto de lei do vereador Rodrigo Goulart (PSD), promulgado em julho, a fim de homenagear o ex-prefeito, morto neste ano em decorrência de um câncer.

Foto aérea do parque Augusta, na zona central da capital paulista; o prefeito, Bruno Covas, fechou novo acordo e agora prevê parque Augusta - Bruno Covas

Agora o conselho gestor do parque se prepara para criar um calendário de eventos. Artistas da região estão ansiosos para se apresentar ali, lembra o grupo. Para isso, no entanto, precisam equilibrar outro interesse: o bem-estar de moradores do entorno que resistem à programação por conta do barulho —além disso, os sons podem afetar aves que habitam a área.

Fonte: Folha.com

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