Doria conquista aliado em Minas e põe o pé em reduto de Aécio nas prévias do PSDB

Governador paulista obteve apoio do deputado Domingos Sávio, ex-presidente do PSDB no estado e atual vice-presidente nacional da legenda

Domingos Sávio discursa durante encontro de João Doria com aliados em Belo Horizonte 

Leonardo Augusto - Folha.com

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), conseguiu dividir o partido em Minas Gerais e fincar bandeira no estado na sua campanha para ser o candidato da sigla à Presidência da República em 2022.

Durante viagem a Minas no fim da última semana, Doria colocou no seu palanque em Belo Horizonte o deputado federal Domingos Sávio, ex-presidente do PSDB no estado por duas vezes e atual vice-presidente nacional da legenda.

O ato, conforme Doria disse em vídeo sobre o encontro, reuniu 350 pessoas.

Domingos Sávio já foi um dos mais ferrenhos defensores do ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves (PSDB), atualmente deputado federal e desafeto de Doria. Aécio, que tem domínio sobre o partido em Minas, apoia o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, como candidato do partido à Presidência.

Aécio e Sávio têm inclusive forte influência em uma mesma região do estado, a centro-oeste, onde estão cidades como Divinópolis e Cláudio.

Domingos Sávio hoje é tratado como "ovelha desgarrada" no PSDB de Minas, conforme a reportagem ouviu de um líder tucano no estado, para quem ele "foi seduzido pelo Doria".

"Como bom mineiro não vou fugir à luta. E nem ficar em cima do muro, como tentam dizer que é próprio dos tucanos. Digo do meu apoio a você, João. Com muita segurança. Por saber que você se preparou para isso", disse Sávio, em discurso no ato em Belo Horizonte.

Ele afirmou ainda que Doria é o melhor nome no momento em que o país precisa de esperança. "E dizer que pro nosso partido é uma honra, sim, ter uma pessoa com a sua estatura moral, com a sua competência, com a sua dedicação obstinada de querer um país melhor", disse.

Doria escolheu a dedo outra perna de sua passagem por Minas Gerais. Foi a Betim, na Grande Belo Horizonte, se encontrar com o prefeito da cidade, Vittorio Medioli (sem partido).

Ex-deputado federal por quatro mandatos pelo PSDB, Medioli, italiano naturalizado brasileiro, é prefeito reeleito de Betim, que está entre as cinco maiores cidades do estado, e empresário dos setores de transporte e comunicação.

É dono dos jornais O Tempo, Super Notícia e da rádio Super.Notícia e atualmente visto como independente. Já esteve no PHS e no PSD, do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil.

O prefeito não quis falar com a reportagem sobre o encontro do Doria e sobre que resultados a reunião poderia gerar.

A assessoria de Doria não respondeu ao pedido de entrevista com o tucano. No ato em Belo Horizonte, ocorrido na sexta-feira (1º), o governador afirmou que estava na capital apresentando propostas.

"Isso é democracia. Respeito pela palavra, o direito de todos. E aqui em Minas me sinto como se fosse na minha própria casa. Viva a liberdade. Viva Minas. Viva o Brasil", discursou.

A investida de Doria ocorre depois de o PSDB no estado fechar questão em torno do apoio a Eduardo Leite como candidato ao Planalto. A comissão executiva da legenda tomou o posicionamento em 13 de setembro.

A decisão, conforme o PSDB-MG, "está alicerçada em sua capacidade administrativa, especialmente à frente do governo gaúcho, onde com sua liderança e ampla articulação política conseguiu resolver graves problemas que afetavam o Rio Grande do Sul".

O deputado Aécio Neves não quis comentar a viagem de Doria a Minas e afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o assunto tinha relação com o partido e que, portanto, o presidente da legenda no estado, deputado federal Paulo Abi Ackel, se posicionaria sobre o assunto.

Segundo Abi Ackel, a decisão do colega Domingos Sávio precisa ser respeitada. "Ele entende que Doria é o melhor candidato. Mas esse posicionamento é um ponto fora da curva dentro do PSDB de Minas Gerais", declarou.

O presidente estadual do partido disse ainda não haver unanimidade na política. "Em São Paulo vai ter gente que vai votar no Eduardo Leite. E provavelmente no Rio Grande do Sul vai ter gente que vai votar no Doria", amenizou o tucano mineiro.

Sobre a visita de Doria a Vittorio Medioli, Abi Ackel disse não haver problema nenhum nisso e que é, inclusive, amigo do prefeito de Betim.

O deputado Domingos Sávio não retornou ao contato feito pela reportagem.

As prévias serão realizadas em 21 de novembro, com segundo turno, se houver necessidade, em 28 de novembro. Inicialmente quatro anunciaram participação nas prévias. Os governadores João Doria e Eduardo Leite, o senador Tasso Jereissati e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.

Tasso, no entanto, desistiu da disputa. As regras aprovadas pelo comando do partido para as prévias prevêem quatro grupos de votantes.

Um que reúne filiados, outro formado por prefeitos e vice-prefeitos, um constituído por vereadores, deputados estaduais e distritais e um alcançado governadores, vice-governadores, senadores, deputados federais, ex-presidentes e presidente da legenda. Cada grupo tem peso unitário de 25%.

Comentários