Políticos de 26 países fazem alerta sobre 'insurreição' contra democracia do Brasil no 7 de Setembro

Documento, iniciativa da 'Progressive International', é assinado por ex-presidentes, como Ernesto Samper, da Colombia, parlamentares e intelectuais, como o prêmio Nobel Adolfo Pérez Esquivel

O presidente Jair Bolsonaro

Cássia Miranda - O Estado de S.Paulo

Na véspera das manifestações de 7 de Setembro, convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, ex-presidentes, parlamentares e ministros de 26 países alertam para o risco de os atos criarem "uma possível insurreição" que "colocará em perigo a democracia no Brasil". A preocupação com "um golpe de Estado" está formalizada em uma carta divulgada nesta segunda-feira, 6.

"Neste momento, o presidente Jair Bolsonaro e seus aliados — incluindo grupos supremacistas brancos, a polícia militar e funcionários públicos em todos os níveis de governo — estão preparando uma marcha nacional contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso em 7 de setembro, aumentando os temores de um golpe de Estado na terceira maior democracia do mundo", diz o documento divulgado pelo "Progressive International".

O texto é assinado por políticos e intelectuais ligados à esquerda, como o ex-primeiro ministro da Espanha, José Luis Rodriguez Zapatero; Fernando Lugo, ex-presidente do Paraguai; Ernesto Samper, ex-presidente da Colômbia e os intelectuais Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel argentino, e o norte-americado Noam Chomsky.

O documento ressalta que autoridades internacionais estão atentas para os acontecimentos no Brasil e não serão tolerantes com qualquer ruptura democrática.

"Estamos profundamente preocupados com a ameaça iminente às instituições democráticas do Brasil — e estaremos vigilantes em defendê-las antes e depois de 7 de Setembro. O povo brasileiro tem lutado durante décadas para garantir a democracia contra o domínio militar. Não devemos permitir que Bolsonaro os tire agora."

O texto também cita as ameaças de Bolsonaro, nas últimas semanas, que moldaram a escalada dos ataques de contra instituições democráticas.

"Em 10 de agosto, ele organizou um desfile militar sem precedentes pela capital, Brasília, e seus aliados no Congresso impulsionaram reformas radicais no sistema eleitoral do país, amplamente considerado um dos mais confiáveis do mundo. Bolsonaro e seu governo têm — repetidamente — ameaçado cancelar as eleições presidenciais de 2022 se o Congresso não aprovar essas reformas."

O documento foi divulgado na manhã desta segunda pela Progressive International, uma rede global progressista que monitora o avanço da direita no mundo.
Leia a íntegra da carta:

"Nós, representantes eleitos e líderes de todo o mundo, soamos o alarme: Em 7 de setembro de 2021, uma possível insurreição colocará em perigo a democracia no Brasil.

Neste momento, o Presidente Jair Bolsonaro e seus aliados — incluindo grupos supremacistas brancos, a polícia militar e funcionários públicos em todos os níveis de governo — estão preparando uma marcha nacional contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso em 7 de setembro, aumentando os temores de um golpe de Estado na terceira maior democracia do mundo.

Bolsonaro tem intensificado seus ataques às instituições democráticas do Brasil nas últimas semanas. Em 10 de agosto, ele organizou um desfile militar sem precedentes pela capital, Brasília, e seus aliados no Congresso impulsionaram reformas radicais no sistema eleitoral do país, amplamente considerado um dos mais confiáveis do mundo. Bolsonaro e seu governo têm — repetidamente — ameaçado cancelar as eleições presidenciais de 2022 se o Congresso não aprovar essas reformas.

Agora, Bolsonaro convoca seus apoiadores para viajar a Brasília em 7 de setembro, num ato de intimidação das instituições democráticas do país. De acordo com uma mensagem compartilhada pelo presidente em 21 de agosto, a marcha está em preparação para um 'necessário contragolpe' contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. A mensagem afirmava que a 'Constituição comunista' do Brasil havia retirado o poder de Bolsonaro, e acusava o 'Poder Judiciário, a esquerda e todo um aparato, inclusive internacional, de interesses escusos' ao conspirar contra ele.

Parlamentares do Brasil advertem que a mobilização de 7 de setembro tem sido moldada pela insurreição na capital dos EUA em 6 de janeiro de 2021, quando o então presidente Donald Trump incitou seus partidários a "parar o roubo" com falsas alegações de fraude eleitoral nas eleições presidenciais de 2020.

Estamos profundamente preocupados com a ameaça iminente às instituições democráticas do Brasil — e estaremos vigilantes em defendê-las antes e depois de 7 de setembro. O povo brasileiro tem lutado durante décadas para garantir a democracia contra o domínio militar. Não devemos permitir que Bolsonaro os tire agora."

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