Auxílio antievasão

Governo de SP acerta ao criar bolsa para incentivar permanência no ensino médio


Folha de S.Paulo

Não se contam como poucos os impactos da pandemia de Covid-19 sobre a precária educação brasileira. Particularmente vulneráveis se mostram estudantes do ensino médio que a crise econômica empurra para o trabalho, de modo a reforçar a renda da família.

Pesquisas indicam que a evasão escolar pode até triplicar e alcançar entre 30% e 40%. No retorno às aulas presenciais agora em agosto, 38% dos alunos da rede municipal paulistana não compareceram (se bem que parte disso pode ser decisão de famílias temerosas, que preferem o ensino a distância).

Chega em boa hora, assim, a promessa do governo paulista de contra-arrestar a tendência à evasão com uma bolsa de incentivo para a permanência na escola. A verba destinada, R$ 400 milhões, prevê pagar a até 300 mil jovens o valor de R$ 1.000 anuais, em 2021 e 2022.

Seriam contemplados, inicialmente, 267 mil secundaristas (21,5% de 1,24 milhão de estudantes do ensino médio) inscritos no cadastro único federal, que arrola famílias em situação de pobreza ou pobreza extrema. Mas elas precisam registrar-se de novo no programa Bolsa do Povo Educação.

Os beneficiados se obrigam a manter um frequência mínima de 80%, realizar avaliações e dedicar duas horas por dia a estudo pelo aplicativo do Centro de Mídias. Além disso, terceiranistas terão de comparecer a atividades preparatórias para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

As contrapartidas exigidas vão na direção correta, por manter foco antievasão, repetindo assim um aspecto elogiado do programa federal Bolsa Família. A dúvida é se elas não se mostrarão dificultosas para jovens premidos pela penúria em casa, diante do valor relativamente modesto do estipêndio.

A fim de garantir o objetivo pretendido, não seria má ideia cogitar elevar a quantia desembolsada. Cabe assinalar que o governo João Doria (PSDB) remanejou R$ 50 milhões da Educação para publicidade institucional da pasta, transferência digna de espécie por ocorrer em véspera de ano eleitoral.

Recomenda-se, por fim, que o cadastramento seja ágil, de maneira a não cumular famílias com excessos comprobatórios. Os benefícios sociais de governos municipais, estaduais e federal se multiplicam, não raro engendrando cipoal burocrático difícil de transpor para candidatos de baixa escolaridade.

Mesmo com tais ressalvas, o programa acerta ao enfrentar um dos principais gargalos, se não o principal, do ensino público brasileiro.

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