Eis a prova de Bolsonaro

Na busca de fraude eleitoral, bolsonarismo encontrou um acusado de estelionato



O Estado de S.Paulo

Na segunda-feira, Jair Bolsonaro prometeu apresentar em três dias provas das fraudes que ele afirma terem ocorrido nas eleições presidenciais. “Na quinta-feira, 19 horas, a minha live vai ser talvez lá no Ministério da Justiça. A gente vai expor todas as questões que levam a gente a ter uma eleição democrática ano que vem. São três momentos inacreditáveis que a gente vai mostrar com fotografias de dados fornecidos pelo próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Se bem que faltam mais dados que não entregaram para a gente. Logo a gente conclui isso aí, porque o trabalho não é fácil”, disse.

A nova promessa de Jair Bolsonaro é a admissão de ter mentido no ano passado, quando anunciou, numa viagem aos Estados Unidos, que tinha provas de que a eleição de 2018 teria sido fraudada já no primeiro turno. “Nós temos não apenas palavra. Nós temos comprovado, brevemente eu quero mostrar”, disse há mais de um ano.

Agora, Jair Bolsonaro revela que ainda não tem as tais provas (“faltam mais dados”) e admite que cumprir o que prometeu não está nada fácil. Até a direção da Polícia Federal tentou ajudar o presidente Bolsonaro na empreitada de encontrar indícios das supostas fraudes nas urnas eletrônicas.

Em junho deste ano, a Corregedoria da Polícia Federal encaminhou ofício a todas as superintendências estaduais solicitando que encaminhassem todas as denúncias de fraudes recebidas ou apuradas desde 1996, quando se adotou o sistema de votação eletrônica.

Segundo apurou o Estado, a Polícia Federal não recebeu até o momento nenhum indício de fraude envolvendo a urna eletrônica. Apenas um único inquérito sobre o tema foi encontrado. Realizada em 2012, esta investigação da Polícia Federal concluiu que não houve fraude eleitoral, e sim tentativa de estelionato.

Na busca de alguma prova da suposta fraude eleitoral, o bolsonarismo também não encontrou indícios de manipulação do resultado das urnas eletrônicas. Encontrou apenas e tão somente um acusado de estelionato. A coincidência com o trabalho da Polícia Federal seria cômica, se não fosse trágica, mostrando a falta de limites - e de qualquer bom senso - da turma de Jair Bolsonaro.

Para difundir desconfiança contra o atual sistema de votação, o relator da PEC do voto impresso, deputado Filipe Barros (PSL-PR), enviou uma equipe ao presídio Professor Jacy de Assis, em Minas Gerais, para entrevistar o hacker Marcos Roberto Correia da Silva, preso por invadir sites e aplicar golpes na internet. Depois, com o material obtido no presídio, foi feito um vídeo de denúncia sobre a suposta fragilidade do sistema eleitoral. Compartilhado pelas redes bolsonaristas, o filme repleto de informações falsas e enganosas foi visto mais de 500 mil vezes.

Eis a grande prova do bolsonarismo para a suposta fraude das urnas eletrônicas. Um acusado da prática do crime previsto no art. 171 do Código Penal – “obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento” – afirma que é capaz de “invadir o sistema eleitoral” e de inserir votos artificialmente nos servidores da Justiça Eleitoral.

“Manipularia tudinho”, diz o hacker Marcos Roberto Correia da Silva no vídeo do deputado Filipe Barros. Preso em 2019, o hacker foi solto, sob a condição de usar tornozeleira eletrônica. Em março deste ano, Marcos Roberto Correia da Silva voltou a ser preso, na Operação Deepwater, que investiga o vazamento de dados pessoais. Nas redes sociais, o hacker oferecia informações financeiras roubadas em troca de bitcoins.

No vídeo do deputado Filipe Barros, Marcos é apresentado como um hacker ativista. Na denúncia feita pelo Ministério Público de Minas, o seu perfil é menos sofisticado, sendo citado em mais de 200 tentativas de compras fraudulentas na internet, com cartões de crédito de terceiros. O bolsonarismo não tem nenhum pudor de se superar na falta de credibilidade.

Comentários