Com filiações, vídeo e site, Doria intensifica campanha em prévias do PSDB e impulsiona seu vice em SP

Aliados de Alckmin veem prévias estaduais contaminadas por aparelhamento da máquina do governo e do partido


O governador João Doria e o vice-governador Rodrigo Garcia, no evento em que o vice se filiou ao PSDB 
Foto: Zanone Fraissat - Folhapress

Carolina Linhares - Folha.com

Filiações de prefeitos, vídeo com o mote "João vacinador" e um site de divulgação de material para militantes marcam a ofensiva do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), para obter maioria de votos entre filiados e políticos de seu partido nas prévias presidenciais para 2022.

Doria deu início à campanha interna no último fim de semana, quando compareceu a eventos tucanos em Mato Grosso do Sul e Goiás.

Na noite de quarta-feira (14), o diretório estadual do PSDB de São Paulo, controlado pelo governador por meio de seu secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, filiou 65 prefeitos e vice-prefeitos, alcançando 231 prefeitos no estado de 645 cidades.

O governador João Doria e o vice-governador Rodrigo Garcia, no evento em que o vice se filiou ao PSDB - Zanone Fraissat - 14.mai.21/Folhapress

No evento, foi divulgado um vídeo de propaganda de Doria que dá o tom da campanha, com críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao ex-presidente Lula (PT), descritos como "negacionista" e "corrupto", respectivamente.

Já Doria é apresentado como "João, o vacinador" e "a cara limpa da paz e do consenso", alguém que "não viveu em berço de ouro" como se pensa.

As filiações buscam ampliar o apoio de tucanos a Doria pelo estado —algo crucial para que o governador vença as prévias, a serem disputadas contra Eduardo Leite (RS), Tasso Jereissati (CE) e Arthur Virgílio (AM).

Opositores de Doria veem uso da máquina do governo e do partido na investida. O PSDB de São Paulo é o que tem maior estrutura entre os diretórios estaduais da sigla.

Além de beneficiar Doria, o recrutamento de novos aliados é útil para o vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB), que Doria lançou para disputar a sua sucessão no Governo de São Paulo. Garcia também pode ter que passar por prévias, caso haja outros nomes disputando a vaga de candidato.

Concorrente interno de Garcia, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), no entanto, deve deixar o PSDB e se filiar a outro partido para concorrer. Aliados de Alckmin desaconselham que ele enfrente prévias contra a máquina do Palácio dos Bandeirantes.

A leitura no entorno do ex-governador é a de que Doria aparelhou o governo e o partido —as filiações serviriam para potencializar votos a ele e a Garcia e inflar o número de prefeitos que os apoiam. Com isso, a melhor saída para Alckmin seria buscar outra sigla, sendo PSD e DEM as mais prováveis.

O vice-governador Rodrigo Garcia (esq.) e o presidente do PSDB-SP, Marco Vinholi (dir.), em evento de filiação de prefeitos

As regras definidas para as prévias preveem, porém, que somente filiados até 31 de maio participem da votação, o que exclui os aliados de Doria filiados nesta semana. De qualquer forma, tucanos afirmam que a ampliação de seu grupo político traz vantagens para a campanha interna e funciona como demonstração de força.

Questionado pela Folha, Vinholi afirmou que as filiações "não têm relação com prévias" e confirmou que os novos alistados não devem participar da votação. "Os prefeitos que estão vindo sabem que é um projeto vencedor", completou.

Garcia participou do evento de filiação ao lado de Vinholi na noite de quarta.

Com as novas filiações, o PSDB chega a 368 cidades com tucanos no Executivo no estado. Segundo as regras das prévias nacionais, de eleição indireta, prefeitos e vices compõem um grupo que terá 25% do peso da votação.

Os demais grupos votantes são filiados (25%), vereadores e deputados estaduais (25%) e governadores, vice-governadores, deputados federais, senadores e ex-presidentes do PSDB (25%).

Doria defendia a eleição direta com o mesmo peso a todos os filiados, mas foi derrotado na executiva nacional do partido. As prévias estão previstas para 21 de novembro.

Apesar de pregar a eleição direta, Vinholi acabou decidindo que as eventuais prévias paulistas seguirão as mesmas regras de grupos e também acontecerão em 21 de novembro, o que foi visto como mais um revés para Alckmin.

"O sentimento da executiva do partido é de fazer as prévias em conjunto com as prévias nacionais, o que favorece a logística, participação, discussão política e faz todo sentido organizacional. Dessa forma, vamos seguir o critério estabelecido pela executiva nacional", afirmou o dirigente paulista.

Na segunda-feira (19), o diretório do PSDB de São Paulo fará reunião a respeito das prévias para estabelecer regras e datas de forma definitiva. Nos bastidores, o grupo de Doria espera que Alckmin envie algum representante ao encontro.

"É uma construção de um diálogo com todo o partido nesse momento. A executiva irá se reunir para tratar desse tema, respeitando a todos. Pedimos também que os interessados possam indicar representantes para essa construção", afirmou Vinholi.

Na eleição de 2020, o PSDB elegeu 179 prefeitos em São Paulo e chegou a 201 em maio —ampliação, essa sim, que deve ter efeito direto nas prévias, já que esses filiados podem votar. O partido elegeu 171 prefeitos na eleição de 2012, e 173 em 2016.

Doria ainda expandiu o número de diretórios municipais do PSDB em São Paulo, de 357 para 599.​

Enquanto amplia seu domínio pelo estado, Doria enfrenta um contratempo —pela segunda vez, seu teste deu positivo para Covid-19 na quinta (15). O governador entrou em isolamento e disse estar se sentindo bem. Ele já está vacinado com duas doses da Coronavac.

O governador não tinha novas agendas de prévias acertadas e, portanto, o isolamento não atrapalhou a campanha, segundo auxiliares. No sábado (10), Doria fez campanha pelos estados do Centro-Oeste.

Leite também vem fazendo viagens e marcando compromissos de campanha nas prévias, mas, como Doria, foi forçado a cancelar parte da agenda devido a um incêndio no prédio da Secretaria de Segurança Pública do estado na quarta.

O governador gaúcho teria uma reunião com membros do PSDB nesta quinta, em São Paulo. O encontro na capital paulista seria um gesto a Leite, uma demonstração de que ele seria bem-vindo no estado para fazer campanha, de acordo com tucanos.

Uma viagem a Bahia na sexta, no entanto, foi mantida. Leite se encontrou com o presidente do DEM, ACM Neto, e terá outros compromissos no fim de semana em Salvador.

As agendas de campanha do gaúcho durante a semana já são exploradas por aliados de Doria, que afirmam que o governador dedicará apenas os fins de semana para a eleição interna.

A campanha de Doria nas prévias conta ainda com um site, de nome "Corrente da Vitória", no qual filiados podem se cadastrar com seus dados pessoais para receber material de campanha e compartilhar em suas redes.

​"A corrente da vitória é um sistema de participação da militância no processo de prévias. Através dele os filiados poderão levar propostas para o Brasil e receber informações", explica Vinholi.

Já o vídeo de campanha usa imagens de manifestações contra o PT e contra Bolsonaro. O narrador diz que o povo tem ido às ruas por conta de "escolhas desastrosas". A peça mostra a biografia de Doria, afirmando que ele é filho de baiano, que trabalha desde os 13 anos e que já venceu duas prévias tucanas.

Doria é apresentado como exemplo de combate à pandemia. O governador enfrentou "ódio e fake news de gente que não estava nem aí para a vida das nossas famílias", afirma o vídeo, com a imagem em que Bolsonaro retira a máscara de uma criança.

No fim, a peça prega que o PSDB precisa de "alguém que já enfrentou e venceu os radicais e os populistas".

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