Após ameaças de Bolsonaro sobre 2022, oito partidos defendem sistema eleitoral e prometem 'mais firme oposição' a quem atacá-lo

O comunicado é assinado pelo PSDB, DEM, MDB, Novo, PV, PSL, Solidariedade e Cidadania



Melissa Duarte - O Globo

Depois de os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luis Roberto Barroso, rebaterem ataques do presidente Jair Bolsonaro contra o sistema eleitoral, dirigentes de oito dos principais partidos do país também reagiram às investidas.

Nos últimos dias, sem apresentar provas, Bolsonaro tem posto em dúvida a segurança das urnas eletrônicas e dito que as eleições de 2022 podem não ocorrer.

Os dirigentes partidários emitiram uma nota oficial à imprensa — e entre eles está o PSL, antiga legenda de Bolsonaro. Para os presidentes dessas siglas, o estado democrático de direito é inegociável:

“A democracia é uma das mais importantes conquistas do povo brasileiro, uma conquista inegociável. Nenhuma forma de ameaça à democracia pode ou deve ser tolerada. E não será”, diz a nota.

O comunicado é assinado por ACM Neto (DEM), Baleia Rossi (MDB), Bruno Araújo (PSDB), Eduardo Ribeiro (Novo), José Luís Penna (PV), Luciano Bivar (PSL), Paulinho da Força (Solidariedade) e Roberto Freire (Cidadania).

Eles reafirmam confiança no sistema eleitoral, com votações por meio de urna eletrônica. Além disso, declaram que a oposição será firme a quem ameaçar o sistema democrático, numa clara referência a Bolsonaro:

“Temos total confiança no sistema eleitoral brasileiro, que é moderno, célere, seguro e auditável. São as eleições que garantem a cada cidadão brasileiro o direito de escolher livremente seus representantes e gestores. Sempre vamos defender de forma intransigente esse direito, materializado no voto. Quem se colocar contra esse direito de livre escolha do cidadão terá a nossa mais firme oposição”, escreveram.

O PSL, inclusive, foi a legenda pela qual o presidente venceu a eleição em 2018 e que deslanchou em número de representantes no Congresso Nacional. Bolsonaro, no entanto, se desfiliou em novembro de 2019 na tentativa de fundar a própria sigla. Desde então, segue sem partido a um ano e três meses das eleições de 2022.

Com a popularidade em xeque, Bolsonaro reforçou os ataques tem criado desconfianças sobre a realização do próximo pleito, dizendo que o ex-presidente Lula (PT), mais cotado nas pesquisas até o momento, só venceria se fraudasse o resultado. Na quinta, fez outra declaração nesse sentido, numa referência ao voto impresso: "ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições".

Diante desse cenário, Pacheco declarou apoio ao sistema eleitoral e disse que quem pretender retrocesso democrático será considerado inimigo da nação:

— Tudo quanto houver de especulações em relação a algum retrocesso á democracia, como a frustração das eleições próximas, é algo que o Congresso, além de não concordar, repudia veementemente. Nós não admitiremos nenhum retrocesso nesse sentido — afirmou na sexta-feira, em entrevista à imprensa.

As declarações endossam o posicionamento de Barroso, que caracterizou os ataques como "lamentáveis" e "levianos". "Desde a implantação das urnas eletrônicas em 1996, jamais se documentou qualquer episódio de fraude. Nesse sistema, foram eleitos os presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro. Como se constata singelamente, o sistema não só é íntegro como permitiu a alternância no poder", diz a nota do TSE encaminhada à imprensa.

Bolsonaro já afirmou, em diferentes ocasiões e sem apresentar provas, que as eleições de 2018 foram fraudadas e que, se não tivessem ocorrido as supostas irregularidades, ele teria sido eleito ainda em primeiro turno. Também aventou a possibilidade, já afastada pelo PSDB, de o deputado federal Aécio Neves (MG) ter vencido o pleito de 2014 contra Dilma Rousseff (PT).

Agora, a aposta é tentar alavancar a PEC do voto impresso, rechaçada por partidos nas últimas semanas. A proposta, que tramita em comissão especial na Câmara, tem votação marcada para a próxima quinta. Mas não deve passar disso: levantamento do GLOBO mostrou que o texto perdeu força entre os deputados, dos quais 17 disseram ser contra e 15, a favor.

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