Bom senso na Cultura

Nova secretária de SP acerta ao descartar guerras ideológicas e instrumentalização da pasta

Marília Marton

Editorial - O Estado de S.Paulo

O extremismo bolsonarista transformou a área da cultura em terra conflagrada, objeto de batalhas ideológicas de triste memória. Recorde-se que, em seu governo recém-encerrado, o presidente Jair Bolsonaro foi incapaz sequer de divulgar notas de pesar diante da morte de artistas nacionais consagrados. Nesse contexto, não faltava quem temesse tentativas de se repetir esse mesmo roteiro no governo de São Paulo, considerando que o governador Tarcísio de Freitas teve em Bolsonaro o seu padrinho político. Contudo, a julgar pela entrevista ao Estadão da nova secretária de Cultura e Economia Criativa, Marília Marton, São Paulo parece livre desse risco.

A nova secretária afirmou, com razão, que a cultura é um bem de todos. Logo, não pode nem deve ser instrumentalizada por governos ou grupos ideológicos. Simples assim. Disse ela: “A cultura não tem nem deve ter ideologia. Ela é da esquerda, da direita, é de todo mundo”. Deveria ser óbvio, mas vivemos uma época de tanta ignorância que o óbvio precisa ser reafirmado.

Vale destacar outro ponto de vista certeiro da secretária: “A cultura é o lugar da expressão livre”. Eis uma diretriz fundamental para guiar a atuação do poder público, ainda mais no gerenciamento e na alocação de verbas. O pressuposto da arte é a liberdade, e não há que se impor barreiras à criação artística. Isso, contudo, não desobriga o Estado nem os produtores culturais de ficarem atentos ao tipo de público e à faixa etária a que se destinam espetáculos, obras e exposições. De novo, cabe reproduzir o que disse Marília Marton: “Todo projeto tem um lugar adequado para ele. Existem produções que acontecem em um ambiente um pouco mais controlado, e não para o público em geral. A plateia tem que estar preparada para determinados tipos de discussão”. Está claro que não se trata de censura, mas de adequação.

A nova titular destacou ainda a qualidade da estrutura e dos equipamentos da Secretaria, os melhores da América Latina, segundo ela − resultado de “muitos mandatos”. De fato, o Estado mais rico e mais populoso do País dispõe de uma vasta rede de atrações culturais, de que são exemplos a Pinacoteca e a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Tamanha riqueza, entretanto, concentra-se na capital e, mais ainda, em sua região central. Faz sentido, então, que uma das preocupações da secretária seja justamente a de promover a interiorização da cultura. Vale olhar para as periferias também.

A pasta da Cultura carrega no nome a expressão “Economia Criativa” − e não é em vão. Cada vez mais, a dimensão econômica das atividades culturais tem que ser levada em conta, na medida em que o setor é fonte de empregos e gera riquezas que vão além da arte – algo que, infelizmente, passou despercebido durante o governo Bolsonaro.

A nova secretária se diz disposta a dialogar com o recriado Ministério da Cultura, o que também deveria ser natural. Afinal, o Brasil é uma Federação, e a colaboração entre diferentes níveis de governo quase sempre resulta em avanços – ainda mais numa área, a Cultura, em que a coordenação do poder público no fomento do talento nacional é indispensável.

Comentários

  1. Anônimo8/1/23 10:16

    Louvável e acertada atitude da Secretária Marília Marton . Parabéns!!!

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