Bolsonaro contribuiu de forma relevante para ataques em Brasília, diz União Europeia

Parlamento Europeu aprovou resolução contra ataques em Brasília e recomendou investigação do ex-presidente brasileiro 


Amanda Péchy - Veja

O Parlamento Europeu, legislativo da União Europeia, aprovou nesta quinta-feira, 19, uma resolução que condena os ataques em Brasília por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, e expressa apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os deputados do bloco também recomendaram a investigação de Bolsonaro por sua “provável” contribuição aos atos de 8 de janeiro.

“O Parlamento expressa solidariedade com o presidente eleito democraticamente Lula da Silva, seu governo e instituições brasileiras e condena nos termos mais veementes as ações criminosas perpetradas por partidários do ex-presidente Bolsonaro, exortando-os a aceitar o resultado democrático das eleições”, diz o texto.

A resolução, aprovada por 319 votos a favor, 46 contra e 74 abstenções, elogiou os esforços do Brasil para garantir uma investigação rápida e imparcial “para identificar e processar os envolvidos, os instigadores, bem como as instituições estatais que não agiram para prevenir os ataques”.

Os membros do Parlamento destacaram a recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em aprovar o pedido do Ministério Público Federal (MPF) para investigar o ex-presidente Bolsonaro, pois ele “pode ter contribuído, de forma muito relevante, para a ocorrência de atos criminosos e terroristas”.

Segundo alerta dos eurodeputados, os eventos que se passaram em Brasília em 8 de janeiro, a invasão do Capitólio dos Estados Unidos em janeiro de 2021 e as prisões, em dezembro de 2022, de 25 indivíduos na Alemanha que planejavam um golpe de estado para restabelecer o Reich alemão estão todos ligados ao crescente fascismo transnacional, racismo e extremismo.

A autora do pedido de debate para aprovar a resolução, a deputada Anna Cavazzini, incluiu o tema na ordem do dia sob o guarda-chuva de casos de violação dos direitos humanos, da democracia e do Estado de direito.

Segundo ela, a invasão das instituições democráticas no Brasil é “responsabilidade pessoal” de Bolsonaro.

“Por seus ataques contra a democracia, suas mentiras, a difusão do ódio e a tentativa de dividir a sociedade”, disse. “Se você espalha mentiras por meses sobre eleições, que elas seriam roubadas, não atue como se estivesse surpreso se as instituições democráticas literalmente pegam fogo.”

Apenas uma voz destoou no debate cheio de defesas à democracia e apoio ao presidente democraticamente eleito, Lula: Hermann Tertsch, deputado de extrema direita do partido espanhol VOX, aliado da família Bolsonaro.

Para ele, os incendiários são, na verdade, os apoiadores de Lula. Ele acusou o atual presidente de fazer parte de uma “rede narcocomunista” que “tenta minar a democracia, ao lado de [Fidel] Castro”. Ecoando o discurso bolsonarista, o deputado europeu alegou que “a real ameaça é o Foro de São Paulo”.

O texto aprovado pelo Parlamento Europeu não tem o poder de lei. Mas amplia o isolamento internacional de Bolsonaro e cria um constrangimento político sobre qualquer liderança da Europa que possa acolhê-lo.

Comentários