Mais do que palavras

Não basta a Tarcisio afirmar que não é bolsonarista ‘raiz’; suas ações precisam deixar isso claro

Tarcísio e Alexandre de Moraes

O Estado de S.Paulo

É bem-vinda a declaração do governador eleito de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), de que nunca foi um “bolsonarista raiz”. Mas só falar não basta: serão suas ações, mais do que suas palavras, que revelarão em que medida o futuro governador está disposto a se distanciar de práticas e condutas nocivas ao País. O “bolsonarismo raiz”, definitivamente, não fez bem ao Brasil e deve ficar longe de São Paulo.

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Tarcísio de Freitas também expressou uma visão crítica da guerra ideológica e cultural incentivada pelo presidente Jair Bolsonaro nos últimos quatro anos, bem como da postura beligerante e de permanente confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF). “Não vou fazer o que erramos no governo federal, tensionar com Poderes. Vamos conversar com ministros do STF”, disse o governador eleito em entrevista à CNN Brasil.

Se há algo que contaminou o ambiente político, social e econômico do País nos últimos quatro anos foram os constantes ataques bolsonaristas ao Supremo, à imprensa e a qualquer instituição que não se curvasse ao autoritarismo de Bolsonaro. Na lógica bolsonarista, afrontar e desrespeitar as instituições virou motivo de orgulho e apreço por parte do presidente da República − em uma completa inversão de valores, considerando que o único poder do presidente é aquele que lhe cabe como ocupante temporário de um cargo institucional.

De novo, porém, cabe lembrar ao governador eleito que somente falar não basta. Nesse sentido, a escolha de alguém como o deputado federal Capitão Derrite (PL-SP) para comandar a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo vai na contramão do que disse Tarcísio de Freitas. Capitão Derrite é representante fiel do tal “bolsonarismo raiz”, ideologia que considera a truculência policial um valor positivo.

A Secretaria de Segurança Pública é cargo estratégico, pois seu ocupante toma decisões capazes de interferir diretamente na vida de toda a população. E o bolsonarismo extremista não tem contribuição a dar para a melhoria e a profissionalização das polícias e das políticas de segurança pública. Exemplo disso é a oposição ferrenha e irresponsável que bolsonaristas radicais fazem ao uso de câmeras nas fardas de policiais militares − uma iniciativa comprovadamente bem-sucedida, que reduz a letalidade policial.

Ao contrário do que apregoam seus críticos, as câmeras fortalecem o combate ao crime e ajudam a tornar ainda mais rigorosa a aplicação da lei, ao mesmo tempo que protegem a vida de policiais e de civis. Algo que o próprio Tarcísio de Freitas, sensatamente, já dá sinais de compreender, como se viu na mesma entrevista à CNN.

Compreende-se que Tarcisio de Freitas se sinta obrigado a quitar sua dívida com Bolsonaro, pois foi o presidente que o transformou de burocrata desconhecido em candidato vencedor no Estado mais rico do País. Mas entregar a segurança dos paulistas nas mãos de quem festeja a morte de suspeitos por policiais, caso do sr. Derrite, mostra que o governador eleito, se não é adepto do “bolsonarismo raiz”, tem sido incapaz de dissociar-se dessa ideologia destrutiva.

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