Política externa vai ser o principal domínio de Lula, diz ex-chanceler Aloysio Nunes

Membro da equipe de transição, tucano diz que presidente eleito tem consciência de papel como líder global

Aloysio Nunes Ferreira 

Guilherme Seto - Painel da Folha

Nomeado para o grupo técnico que tratará de relações exteriores no governo de transição, o ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) afirma que a política externa, mais do que qualquer outro espaço de governo, será o principal domínio do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo Ferreira, é nela que irá prevalecer sobretudo a posição do petista, que se delicia ao falar do tema e tem plena consciência de seu papel enquanto liderança global.

"O general Charles De Gaulle [político francês, 1890-1970] dizia que tinha uma certa ideia da França, uma concepção do papel da França no mundo, do potencial da ação da França, dos recursos que ela tem para agir de acordo com seus interesses e os da humanidade. O Lula é um desses políticos que têm uma certa ideia do Brasil. Assim que ele se distingue dos políticos vulgares", diz o ex-senador, que coloca o colega de partido e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na mesma categoria.

Segundo ele, participar do processo de transição não deverá ser complicado, já que as linhas de tradição diplomática têm sido seguidas há muitos anos no Brasil, com exceção ao período sob influência do escritor Olavo de Carvalho que marcou recentemente o Itamaraty, e que devem voltar a ganhar força com Lula.

"São linhas muito conhecidas e compartilhadas pelos diplomatas e pelo mundo político, que é o universalismo da política externa, dar prioridade ao nosso entorno geográfico da América do Sul, ter uma posição equilibrada entre potências hegemônicas, fazer valer diferenciais nossos, como o fato de sermos uma grande potência ambiental", afirma o ex-chanceler, que hoje é diretor-presidente da SP Negócios na Prefeitura de São Paulo.

"Não tem que buscar grandes equações orçamentárias, como alguns que tentam equacionar o problema do teto de gastos. É política pura, com acréscimo de algumas decisões a serem tomadas pelo presidente logo no início ou ainda na transição", acrescenta.

Segundo Ferreira, o atual chanceler, Carlos França, tem tido sucesso em tirar o país da fase de negação do que o Brasil tem de melhor na política externa, na qual as relações exteriores foram comandadas por Ernesto Araújo. No entanto, diz, é preciso fazer mais.

Ele cita como exemplos a retomada da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, que hoje, segundo ele, está em "estado letárgico", e a retomada do uso dos recursos do Fundo Amazônia.

Assim como outros grupos de trabalho, o que tratará das relações exteriores tem perfil heterogêneo e reúne figuras de perfil diverso, como o ex-chanceler e a secretária-executiva do Foro de São Paulo, Monica Valente.

O tucano diz que aprova a composição, que, para ele, expressa a ideia de frente ampla defendida por Lula durante a campanha presidencial.

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