‘Gerentão’ da transição, Alckmin deve manter protagonismo no governo e lida com desconfiança de alas do PT

Chefe da transição, futuro vice manterá protagonismo no governo, sob reserva de alas do partido já de olho na sucessão

Geraldo Alckmin

Jeniffer Gularte - O Globo

Aliado improvável até um pouco antes da campanha eleitoral, o ex-governador e vice eleito Geraldo Alckmin (PSB) foi alçado a protagonista da transição por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, na visão de pessoas próximas e integrantes do grupo, deverá assumir a função de “gerentão” do terceiro mandato do petista.

Desde a instalação do gabinete, do qual é o coordenador-geral, Alckmin tem sido elogiado por colegas pelo seu perfil executivo, reconhecido inclusive dentro do núcleo duro do PT. Por outro lado, setores do partido veem com desconfiança o destaque dado ao ex-tucano, temendo a possibilidade de o vice se cacifar como sucessor de Lula em 2026, o que poderia inviabilizar nomes da própria sigla. 

Petistas também acreditam que, mais cedo ou mais tarde, haverá conflitos por visões antagônicas que o político de centro possui em relação à legenda em áreas como economia, segurança pública e agricultura. 

Não foi por acaso que, em sua primeira visita a Brasília, há dez dias, Lula fez questão de dizer que Alckmin “não disputa vaga de ministro”. O recado era uma tentativa de acalmar integrantes do PT. Dentro do partido, a decisão de dar a ele o comando da transição gerou antipatia de alas mais à esquerda, especialmente pelo trauma da legenda com o vice de Dilma Rousseff, o ex-presidente Michel Temer (MDB), considerado por ela como um dos articuladores do seu impeachment, em 2016. 

Diferentemente de Temer, indicado ao cargo como uma escolha do seu partido e relegado a “vice decorativo”, Alckmin foi convidado para comandar a transição pelo próprio Lula. O vice comentou com aliados ter considerado o gesto uma “demonstração de extrema confiança” do presidente eleito, a quem teria prometido retribuir com lealdade e trabalho.

Auxiliares que o acompanham desde a época em que era governador de São Paulo afirmam que ele está mergulhado no projeto e animado com a nova vida. Dedica pelo menos 16 horas por dia à transição e combina com o petista cada passo.

Os dois conversam diariamente por telefone, mesmo na última semana, quando Lula viajou ao Egito para participar da Conferência do Clima, a COP 27. Nas ligações, informa o chefe sobre o dia a dia no CCBB e o andamento das negociações da PEC da Transição no Congresso. 

Neste processo, contou com a linha direta que mantém com o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ambos são aliados desde 2018, quando Pacheco, candidato ao Senado, subiu no palanque do então presidenciável Alckmin em Minas. 

A pessoas próximas, Pacheco afirma que enxerga o vice de Lula como um facilitador do diálogo e alguém que teve papel importante nas discussões da PEC. Foi ao senador que Alckmin recorreu quando enfrentou o primeiro ruído com a equipe de transição. Após o ex-ministro Guido Mantega enviar uma carta ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) pedindo o adiamento da eleição ao comando do órgão, numa tentativa de inviabilizar a candidatura do economista Ilan Goldfajn, Alckmin ligou para Pacheco, que no mesmo dia manifestou nas redes sociais seu apoio à indicação do brasileiro. Na ocasião, Mantega havia sido recém-escalado para o núcleo de Planejamento da transição, posto do qual abriu mão na sexta-feira. 

Na leitura de um auxiliar, Alckmin faz o estilo “operário padrão”: pega a tarefa e coloca para funcionar. O modo de trabalho também tem ajudado a manter uma relação azeitada com dois petistas com quem tem dividido decisões estratégias da transição: a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro Aloizio Mercadante, a quem aliados atribuem uma personalidade difícil. O trio é responsável por fazer um pente-fino em todos os quase 300 nomes anunciados até agora para participar da transição.

— Nossa relação está excelente, temos trabalhado juntos, produzido juntos, dividido responsabilidade juntos. Ele é uma pessoa de trato fácil e tem se dedicado bastante. Estamos desde a campanha trabalhando o dia inteiro juntos, viajávamos juntos. Está dinâmico, construtivo e agradável o trabalho com ele — disse Mercadante ao GLOBO. 


“Copiloto” ou coringa

No cotidiano da administração do novo governo, a expectativa é que Alckmin assuma um papel que possa ter influência em todos os ministérios, com um perfil executivo do dia a dia do governo, enquanto Lula terá um papel mais institucional, atuando como o chefe de Estado que irá viajar o mundo para reconstruir as relações do Brasil com o mercado internacional, pacificar a relação entre as instituições e focar no combate à fome e à miséria. 

Em público, Alckmin se define como o “copiloto” de Lula. Integrantes da transição, no entanto, já o enxergam como um coringa do petista. Embora o presidente eleito tenha indicado não pretender colocá-lo em um ministério, há uma leitura de que caso em alguma das pastas não haja consenso, Alckmin surgirá como opção. Um desses casos poderá ser o Ministério da Defesa, para o qual Lula busca alguém que, ao mesmo tempo, seja alinhado ao governo eleito e tenha uma boa relação com as Forças Armadas. 

Petistas, no entanto, admitem que ao assumir o comando da transição, Alckmin deverá ter um papel mais executivo no futuro governo e que seria um desperdício colocá-lo na Defesa. O vice eleito é visto como versátil tanto na articulação política quanto na coordenação de um grande programa de infraestrutura. 

A aposta nos bastidores da equipe de transição é que Alckmin poderá assumir no governo papel semelhante ao que ao ex-ministro José Dirceu teve no primeiro governo e Dilma Rousseff, no segundo. A depender do seu desempenho até a data da posse, acreditam ser possível que o presidente eleito o coloque para gerir seu programa de infraestrutura, uma espécie de novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ao lançar Dilma à sua sucessão, Lula lhe deu a alcunha de “mãe do PAC”.

Aliados de Alckmin desde a época de Palácio dos Bandeirantes, porém, refutam a comparação e lembram que ambos os casos não acabaram bem. Dirceu foi preso e condenado em dois escândalos de corrupção — mensalão e Lava-Jato —, enquanto Dilma sofreu impeachment após perder o apoio de sua base aliada no Congresso.

Comentários

  1. Nós 51% dos brasileiros fizemos boa escolha ,com Lula e Geraldo Alkimim

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