Programa de governo de Tarcísio destaca piora na corrupção durante governo Bolsonaro

Situação nas pesquisas, aliança com Kassab e desconfiança de aliados abrem crise na campanha do candidato bolsonarista ao governo de SP

Tarcísio de Freitas (Republicanos)

Igor Gielow - Folha.com


O programa de governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) diz que a corrupção piorou "ao longo dos anos" no Brasil, contrariando o discurso de seu padrinho na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, o presidente Jair Bolsonaro (PL).

A citação, encontrada na página 39 das 43 que integram o documento lançado na quarta (10), irritou ainda mais os aliados mais bolsonaristas do presidente —que têm se desdobrado em críticas ao ex-ministro da Infraestrutura sacado para a campanha pelo ex-chefe.

"Atualmente, em 2022, o país encontra-se na 96ª posição (de 180 países avaliados) do ranking de corrupção elaborado pela Transparência Internacional, com piora na situação ao longo dos anos e necessidade de mais regras e ferramentas regionais para combate da corrupção", diz o texto.

O Brasil caiu, neste ano em relação a 2021, duas posições no ranking global da ONG. Ficou com 38 pontos de nota, numa escala de 0 a 100, abaixo da média de 43 pontos.

Por óbvio dado que Tarcísio é candidato a governador, o texto então diz que os mecanismos de controle de governança precisam ser aprimorados em nível estadual também, mas a candura da admissão foi objeto de críticas.

Afinal de contas, Bolsonaro viu ruir um dos pilares de sua campanha de 2018, a percepção de que combateria a corrupção.

Segundo a mais recente pesquisa do Datafolha, 73% dos brasileiros acreditam que a prática é disseminada na administração federal. Por outro lado, para sorte relativa do presidente, hoje a corrupção é vista como um problema secundário.

O próprio Bolsonaro tem modulado seu discurso sobre o tema, evitando falar que não há corrupção no governo e dizendo que pode haver casos isolados. Mas, diz um aliado próximo, ele não precisa que seu aliado o lembre disso em um documento de campanha.

O escorregão alimenta a animosidade contra Tarcísio em Brasília, onde é chamado de "traidor" por aliados do presidente, como a Folha mostrou.

Um motivo central é sua proximidade com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que abandonou a candidatura própria em São Paulo e emplacou seu então nome para o Bandeirantes, o ex-prefeito de São José dos Campos Felício Ramuth, na vice de Tarcísio.

O cacique pessedista também é um crítico de Bolsonaro e é visto como apoiador certo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um eventual segundo turno. Isso estimulou a teoria segundo a qual ele aposta em Tarcísio como um eventual futuro candidato a presidente herdeiro dos votos do atual titular do Planalto.

Para os bolsonaristas, Kassab tomou conta, politicamente, da campanha, até pela inaptidão política do grupo ligado ao presidente em São Paulo. Mas isso desagradou também apoiadores de Bolsonaro no centrão, como o chefe do PL, Valdemar Costa Neto, que tem sua base em Mogi das Cruzes.

Tarcísio já passou recibo da crítica. Na terça (9), afirmou em evento que não é traidor e que irá com o presidente até o fim. Ele já havia feito a defesa do padrinho no debate com os rivais na TV Bandeirantes, no domingo (7), e o agradeceu no palco da convenção em que foi lançado candidato.

Tendo servido aos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), Tarcísio inspira desconfiança no núcleo bolsonarista do Planalto. Ele divergiu do então chefe acerca da crítica às vacinas contra a Covid-19, um ponto de honra para a turma. Já disse que não é um radical, buscando diferenciar-se do grupo em torno de Bolsonaro.

Em São Paulo, a briga primária de Tarcísio é com o governador Rodrigo Garcia (PSDB). Ambos estão empatados com 13% na segunda posição da corrida, conforme a mais recente pesquisa do Datafolha, e buscam uma vaga para enfrentar Fernando Haddad (PT, ora com 34%) na rodada final.

Rodrigo, além da caneta, tem crescido posicionando sua campanha mais à direita em temas como segurança, ao mesmo tempo em que busca colar nos rivais a pecha de apadrinhados por Bolsonaro e Lula, sócios na polarização.

Ele conta também com bastante simpatia de aliados formais de Tarcísio, por exemplo no PL de Valdemar.

Nos últimos meses, mais de um emissário da ala bolsonarista do governo federal conversou com estrategistas de Rodrigo, chegando a insinuar uma composição rifando a candidatura de Tarcísio —que, por fim, se firmou.

Até aqui, o tucano subiu de forma lenta, mas contínua, enquanto Tarcísio manteve seu patamar mais alto de saída.

Bolsonaro vinha surgindo como um padrinho pesado até aqui, mas pesquisas como a da Quaest divulgada nesta quinta (11) indicando uma melhora na posição do presidente em São Paulo levará a uma maior associação entre o ex-ministro e o mandatário.

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