Geraldo Alckmin faz calendário de viagens solo com foco no agronegócio e empresários

Investida vai privilegiar estados onde Bolsonaro tem base forte, em estratégia para resistência de setores com pré-candidato petista

Geraldo Alckmin (PSB)

Jeniffer Gularte - O Globo

Até agora de mãos dadas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos eventos de pré-campanha, o vice da chapa, Geraldo Alckmin (PSB), planeja uma série de agendas solo a partir de agosto. A estratégia é ampliar o apoio que falta ao petista em setores como o agronegócio e o empresariado. Essa investida do ex-goverador de São Paulo ocorrerá em estados onde o presidente Jair Bolsonaro (PL) mantém uma forte base de apoio como Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Tocantins.

O vice de Lula só começará a viajar depois do dia 5 de agosto, prazo final para o registro das candidaturas. Esse calendário foi planejado para evitar constrangimentos em locais onde PT e PSB ainda negociam alianças. As duas siglas não estarão juntas em Mato Grosso e Tocantins. Em Santa Catariana, o ex-deputado Décio Lima (PT) e o senador Dário Berger (PSB) são pré-candidatos ao governo e ainda não selaram um acordo sobre a cabeça de chapa.

As viagens Alckmin atenderão à missão que Lula delegou ao seu vice, a de ampliar as possibilidades de apoio e abrir diálogo com representantes de áreas que o ex-presidente não pretende priorizar durante a campanha. Na equipe do ex-governador paulista, uma das premissas do roteiro é evitar qualquer movimento que possa incomodar dirigentes e o pré-candidato do PT.

A investida do vice vai mirar no que os seus estrategistas de campanha têm definido como “agricultor raiz”, ou seja, produtores de pequeno e médio porte, ao invés do empresário “rural emergente”, mais adepto a Bolsonaro. A avaliação do PT é a de que a rejeição do setor a Lula está mais vinculada ao segundo grupo.

Santa Catarina deve ser a primeira parada de Alckmin. Trata-se de um dos estados mais bolsonaristas do país. Em 2018, os catarinenses deram 75,92% dos votos ao presidente no segundo turno. Lá, o vice de Lula vai se reunir com empresários e produtores da pesca.


Driblar rejeição

Interlocutores de Alckmin envolvidos na elaboração dessas agendas trabalham para identificar locais que sejam férteis para conquistar um possível apoio a Lula ou ao menos reduzir a rejeição. Há uma expectativa de que as movimentações do ex-governador, que teve uma longa trajetória política no PSDB, podem se tornar um trunfo para evitar, por exemplo, que entidades empresariais ou religiosas emitam notas contrárias ao candidato do PT antes das eleições, assim como ocorreu em 2018, quando Fernando Haddad era o presidenciável do partido.

— Alckmin tem habilidade. Ele vai cumprir missões espinhosas que normalmente o titular não está disposto a cumprir. Às vezes, não convence todos, mas convence a alguns As conversas podem gerar frutos eleitorais e políticos — sintetiza o presidente do PSB, Carlos Siqueira, que tem aconselhado o ex-governador de São Paulo.

Na mesma semana em que Alckmin deverá visitar Santa Catarina, o vice pretende desembarcar em Mato Grosso, onde o PSB costura agendas com empresários dos ramos de algodão e soja, entre outros. O presidente do partido no estado, Max Joel Russi, avalia que o ex-governador de São Paulo tem nas mãos a chave para destravar portas que Lula corre o risco de não abrir.

— Os produtores locais têm menos resistência e uma simpatia pelo nome do Alckmin. Ele pode entrar mais no campo do pequeno agricultor. O médio e o grande já estão com Bolsonaro — diz Russi.

A médica e empresária do ramo da saúde Natasha Slhessarenko (PSB-MT), pré-candidata ao Senado, deve acompanhar Alckmin em encontros com o setor privado em Mato Grosso.

A segunda fase das viagens de Alckmin prevê uma passagem por Goiás e Tocantins. A ida do ex-tucano ao estado da região norte é vista como uma chance de quebrar resistências ao PT. A ideia é buscar uma aproximação com a senadora Kátia Abreu (PP-TO), ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), liderança política e do setor agrícola no estado. A avaliação de dirigentes partidários é a de que o caminho estará mais aberto para o vice se o petista mantiver ou aumentar a diferença nas pesquisas de intenção de votos para Bolsonaro, que era de 19 pontos em junho, segundo o Datafolha.

— Dependendo das áreas, o agro está fechado com Bolsonaro, mas há setores que ainda não estão. O Tocantins recebeu muito bem Alckmin em 2018 — afirma o presidente do PSB no Tocantins, Carlos Amastha.

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