Entrevista de Rodrigo Garcia ao jornal O Globo

Governador e pré-candidato à reeleição diz que é a terceira via em São Paulo 




Gustavo Schmitt, Sérgio Roxo e Flávio Tabak - O GLOBO

Ex-vice de Doria, governador de São Paulo procura se dissociar do antecessor, que deixou a gestão com rejeição em alta, e aposta em se apresentar como a ‘terceira via’ da disputa para escapar dos reflexos da polarização nacional. Classificando-se como ‘de centro’, ele defende frase sobre bandidos ‘levarem bala’.


ENTREVISTA

O senhor terá de responder muito sobre o ex-governador João Doria, de quem foi vice, daqui em diante. Como é defender uma gestão e não estar em campanha com o ex-gestor?
Tive a oportunidade de ser vice-governador do Doria e fui secretário de Governo. Tenho compromisso de mostrar o que foi feito nesta gestão. Nós vivemos num estado que funciona. Agora, com 48 anos de idade, eu quero muito mais do que eu tenho. O Doria tem um histórico de dedicação como governador, é um homem extremamente trabalhador e tem o seu estilo próprio. Agora, ele deixa de ser pré-candidato, portanto deixa de participar do processo eleitoral, permitindo então que eu e tantos outros tucanos fiquemos à vontade para apoiar uma candidatura da terceira via que é, no meu caso, a da Simone Tebet. E eu vou discutir São Paulo, o campeonato paulista.

Mas se Doria tivesse saído com uma rejeição baixa e uma aprovação alta, o senhor faria a campanha ao lado dele... 
Isso não depende de rejeição, eu preciso primeiro me tornar conhecido. Preciso que as pessoas saibam quem é o Rodrigo, o que fez, o que pensa. A candidatura quem está disputando sou eu. Ninguém disputa a eleição por mim. Eu não sou candidato de ninguém. Eu sou candidato de uma história política construída e sou governador hoje dos paulistas. E é isso que eu quero preponderantemente discutir na eleição. 

O senhor chegou a dizer que não aceitaria que alguém entrasse no lugar do Doria. Mantém isso? 
Mantenho. Se fosse para ter um candidato do partido, era o candidato escolhido em prévias, João Doria. Como ele abriu mão, o partido naturalmente agora vai buscar uma coligação. 

O senhor vai acenar para bolsonaristas?
Eu quero que a terceira via se viabilize no Brasil. Nem a candidatura do Bolsonaro, nem a do Lula representam o que eu quero para o futuro do Brasil, portanto eu vou apoiar a Simone Tebet e represento essa terceira via aqui em São Paulo sendo também governador. 

Então qual será a sua mensagem para furar a polarização?
A polarização nacional não vai prevalecer em São Paulo. Não acredito nisso. O eleitor paulista sabe diferenciar as coisas, sabe a importância da escolha de um candidato a governador. E eu não acredito que ele vai escolher um candidato a governador que represente A ou B. Ele vai escolher um que representa o que pensa para o futuro de São Paulo. E é aí que eu entro. 

O Márcio França (PSB) e o Haddad ocupam as raias da esquerda ou centro-esquerda. Já o Tarcísio aparece na direita convicta bolsonarista. O senhor não vai ficar imprensado entre esses polos?
Eu sou de centro. Quero levar São Paulo para a frente, não vou levar nem para a esquerda nem para a direita. Eu sempre estive no mesmo território da política. Seja no Democratas ou no PSDB. Meu CEP sempre foi o mesmo, não mudei de lado. 

O PSDB pela primeira vez não terá candidato a presidente. A bancada no Congresso se reduziu, o partido vem perdendo relevância. Para muitos, uma derrota em São Paulo seria a ruína definitiva do partido. O quanto tudo isso pesa sobre o senhor?
Estou no PSDB, acredito no PSDB como partido, como social democracia. Acho que o PSDB vai ter que fazer uma profunda reflexão sobre o seu futuro depois da eleição, avaliando acertos e erros e definindo como vai seguir.

Em entrevista, Fernando Haddad (PT) disse que o senhor muda de acordo com as conveniências e que não é possível ainda saber quem o senhor “vai ser quando crescer”. Como responde?
É uma falta de respeito. Prefiro lembrar o que o Datafolha falou do Haddad quando ele terminou a prefeitura. Que ele foi o pior prefeito da história de São Paulo. Isso é o que eu posso falar. Não vou ficar falando sobre pessoas. 

O senhor vê um boicote do governo federal nos repasses federais para prejudicá-lo e favorecer a pré-candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos)? 
Eu vou falar de números. São Paulo foi para o fim da fila de investimentos federais. Nós não éramos os últimos no DNIT e passamos a ser. O Bolsonaro e o Tarcísio, como seu ministro, tiveram a oportunidade de ajudar São Paulo e não ajudaram. 

O senhor mantém algum diálogo com Alckmin, se decepcionou com ele? 
Ele tomou uma decisão política, com a qual eu não concordo. Mas não perdeu meu respeito. Ele ligou no meu aniversário. E eu fiquei feliz.

O senhor fez uma declaração dizendo que bandidos “levariam bala” se levantassem arma para a polícia. Aliados consideraram um erro. Vai rever?
A mesma declaração que eu dou para o cidadão de bem não reagir quando é assaltado eu dei para o bandido não reagir quando é abordado pela polícia. O que vale para um, vale para outro. Estamos prendendo todo mundo, um bandido a cada 12 minutos no estado. Não acho essa frase exagerada, transmito o que penso. Bandido que levantar arma para a polícia vai levar bala, e cidadão de bem que, porventura, estiver sendo abordado por bandidos, não reaja. 

E como falar com as polícias sobre as câmeras nos uniformes? Seus adversários vêm explorando, de forma crítica, esse tema...
Defendo o uso das câmeras porque todos os indicadores mostram que diminuiu a letalidade, protegeu o policial e filmou o bandido. Nem o privilégio de uma Segurança Pública forte é da direita e nem o privilégio de direitos humanos presentes é da esquerda. Isso significa ter profissionalismo nas suas ações. A polícia de São Paulo tem. É quase que uma polícia de estado hoje. Estamos há mais de 20 anos com quedas sucessivas nos indicadores. 

O senhor falou da Operação Sufoco, que combate crimes contra o patrimônio. E com a principal facção criminosa de São Paulo, haverá “sufoco”? 
Ela está sufocada. Os principais criminosos da facção estão hoje em presídios federais. Você já não ouve falar mais desses criminosos cometendo crimes dentro da cadeia. A polícia de São Paulo agiu com muito profissionalismo. 

Há um plano de privatizar a Sabesp, mas os críticos dessa iniciativa dizem que a tarifa pode aumentar. Como responde?
O principal não é se a Sabesp é pública ou privada, o principal é saber se há chance de avançar na universalização do saneamento mais rapidamente com a Sabesp privada, com tarifas menores. Se alguém me mostrar isso, a Sabesp será privatizada. Se ninguém me mostrar, será mantida estatal. Não existe esse dogmatismo. A Sabesp tem indicadores de empresa privada. Tem universalização de saneamento mais rápida do que o restante do Brasil. Ela tem tarifas justas. Eu não vou dizer se eu vendo ou não.

Sobre o leilão do trecho Norte do Rodoanel, houve um cancelamento na véspera e foi considerado um fracasso no mercado. Como resolver isso?
Nós tínhamos dezenas de grandes obras paradas em São Paulo. Todas foram retomadas. O Rodoanel é a única que não conseguimos retomar depois de duas licitações. Em outubro de 2020, foi feita uma licitação em que nós tivemos mais de 700 impugnações, daí a ideia de voltar um passo atrás, modelar um programa de concessão com disponibilidade de ativos e tentar levar a leilão. Aparentemente, não houve interesse do mercado, por isso o cancelamento. É uma obra complexa porque está quase finalizada mas com muitos problemas de execução. Imagino que consiga colocar em licitação antes do período eleitoral, numa nova modelagem. 

Essa obra tinha previsão de 2014, depois foi para 2022 e agora falam em 2025. Quando o senhor entrega?
Acho que antes (de 2025). Se licitar e contratar este ano, em dois anos termina. 

Como pretende convencer a população de que o senhor pode resolver o problema da cracolândia?
Serei um governador atento e ativo. Ao longo do tempo, a cracolândia tem diminuído de tamanho. Polícia para traficante e tratamento para dependente químico. O governo de São Paulo ajuda a prefeitura de São Paulo nesse esforço do tratamento químico, que é municipal, e põe a polícia para poder identificar esses traficantes. O fluxo hoje é muito menor do que antes. A dispersão está fazendo com que aumente a procura por tratamento. 

O governo de SP elevou o ICMS durante a pandemia. Há previsão de reduzir agora?
Já encaminhei um projeto para a Assembleia em que todos os benefícios fiscais voltam ao patamar de 2019 a partir de 2023. Durante um período da pandemia, foi importante tirar o desconto que havia em vários setores para que se tivesse dinheiro para criar leitos, para que se pudesse enfrentar a Covid. Boa parte do desconto já voltou em 2022, em mais de 70% dos setores.

Em relação ao projeto que limita alíquotas de ICMS para combustíveis e outras categorias, o governo estima uma perda relevante de arrecadação?
Infelizmente, estão tentando criar um vilão para o preço dos combustíveis. O vilão não é o ICMS. O ICMS para o diesel está congelado desde novembro em R$ 0,63 em São Paulo. Na época, o preço do litro era R$ 4,20. Seis meses depois, o preço do diesel é R$ 6,50. A política de preços dos combustíveis no Brasil sempre foi responsabilidade da Petrobras. Isso sendo aprovado é menos dinheiro para saúde, educação. É preciso calcular ainda porque tem agora a questão da energia e do gás, (a Secretaria da Fazenda) me deu o número de R$ 8 bilhões, mas agora estão me dando o número de R$ 11 bilhões (de perda de arrecadação por ano).

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