PM mais segura

Uso de câmeras nos uniformes pode reduzir mortes de civis e também de policiais

Policiais militares de São Paulo demonstram uso de câmeras nos uniformes

Folha de S.Paulo

Em 2021, as mortes causadas por policiais militares paulistas em confrontos relatados caíram expressivos 36% na comparação com o ano anterior. Em números absolutos, os 423 óbitos registrados representam a menor letalidade desde 2013.

Decerto serão vários os fatores por trás do fenômeno. Uma novidade, entretanto, merece avaliação mais apurada: o uso das câmeras grava-tudo, que passaram a ser utilizadas nos uniformes de agentes.

Nos primeiros sete meses de uso dos aparelhos, os 18 batalhões que os empregam apresentaram uma impressionante redução de 85% na letalidade policial. A queda foi ainda mais acentuada na Rota, de 89%.

A maior transparência trazida pelas câmeras, além de inibir o mau comportamento de agentes da lei, também os beneficia. Em primeiro lugar, por proteger policiais de serem acusados injustamente após agirem em legítima defesa.

Dados da PM de São Paulo mostram que os equipamentos não só colaboram para a proteção física da tropa como também aumentam a produtividade das ações.

Em uma comparação trienal, considerado o período de junho a outubro, a quantidade de flagrantes e apreensões de armas cresceu 41,4% e 12,9%, respectivamente, nas unidades que utilizam a tecnologia.

Já as ocorrências de resistência a abordagens policiais caíram 32,7% nesses batalhões, ante 19,2% nos demais, e o número de confrontos regrediu espantosos 87%. Não surpreende, pois, que nenhum policial militar tenha, em 2021, morrido em serviço nessas 18 unidades.

Por tudo isso, causa perplexidade que um pré-candidato ao governo paulista defenda acabar com o uso das câmeras nos uniformes, como faz o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos). Em sua argumentação, as câmeras limitam a ação dos policiais, podendo representar uma ameaça a eles —alegações que, como se vê, não encontram amparo na realidade.

Com a promessa corporativista, Freitas tem o propósito de cooptar as forças de segurança, prometendo, na prática, impunidade para eventuais desmandos —algo que só beneficia os maus policiais.

Na contramão do que propõe o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), os êxitos alcançados até agora recomendam que o uso de câmeras se torne, mais do que uma medida de governo, uma política de Estado.

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