'Rio Pinheiros mostra que é possível fazer melhor', artigo de Benedito Braga

Vamos trazer um novo olhar às águas e cuidar juntos do meio ambiente

Barco a vela navega no rio Pinheiros

Benedito Braga 
Presidente da Sabesp e presidente honorário do Conselho Mundial da Água

Folha de S.Paulo

Existe uma infraestrutura gigantesca no subsolo, que não vemos no dia a dia, para receber e transportar o esgoto das residências, comércios e indústrias. A título de exemplo, a extensão das redes de esgoto da Sabesp na Grande São Paulo ultrapassa os 32 mil km, e o volume que circula nelas gira em torno de 1 trilhão de litros ao ano.

Também não vemos rios e córregos que foram cobertos por avenidas e ruas no século passado. E são muitos. O crescimento rápido, assim como em outras cidades, fez com que os rios fossem escondidos, maltratados e poluídos. Córregos de fundo de vale e margens deram origem a avenidas, e várzeas viraram áreas habitacionais.

Era a forma como se viam as coisas na época, e a água era recurso tido como inesgotável. Hoje temos consciência como sociedade dos danos causados e precisamos trabalhar juntos para compatibilizar desenvolvimento e recuperação da natureza. Trazer os córregos ao estado original demandaria recursos econômicos vultosos não disponíveis, daí a importância em melhorar o que temos e conviver de forma saudável.

É o que estamos fazendo no Programa Novo Rio Pinheiros, criado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em 2019 e coordenado pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente, onde já conseguimos conectar mais de meio milhão de imóveis à rede da Sabesp para enviar o esgoto ao tratamento. Muitos são de ocupação informal à beira de córregos afluentes do Pinheiros, que ficavam fora do radar do planejamento urbano.

O resultado pode ser notado no próprio rio, onde o mau odor desapareceu, o aspecto visual melhorou, peixes e aves estão voltando e as margens atraem mais frequentadores. Até o final deste ano estará melhor ainda, com entrada em operação das unidades de recuperação da qualidade da água dos córregos, onde não é possível chegar com a infraestrutura de coleta de esgoto.

O Pinheiros integra o Projeto Tietê, iniciado em 1992, e os resultados puderam ser acelerados porque parte da estrutura pesada (da qual falamos no início deste artigo) estava pronta. Além disso, o Pinheiros traz uma inovação, que é a remuneração das construtoras por performance, com base em resultados, como o número de imóveis conectados e a qualidade da água dos córregos.

O Projeto Tietê trouxe avanços, levando o saneamento a quase 13 milhões de pessoas e reduzindo a mancha de poluição no rio de 500 km para 85 km. Temos que continuar trabalhando, unindo governo do Estado, prefeituras, empresas, ONGs e população.

O lixo descartado incorretamente é uma das causas da poluição do Tietê, e esse é um ponto onde todos podem ajudar. Além disso, precisamos reconhecer que tudo está interligado: planejamento urbano, habitação, geração de renda, educação, saúde, transporte, coleta de lixo e saneamento.

Cuidar dos rios, córregos e praias requer um trabalho contínuo. É como a nossa casa, temos que limpar todo dia, se não acumula sujeira. Então vamos trazer esse novo olhar às águas e cuidar juntos das pessoas e do meio ambiente. O Pinheiros está nos mostrando que é possível, sim.

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