O valor de um presidente capaz

É fato que irresponsáveis seduzem eleitores e podem alcançar a Presidência, mas a política destrambelhada de Bolsonaro mostra o custo pesado dessa escolha


O Estado de S.Paulo 

A invasão da Ucrânia pela Rússia, além de causar imensos danos sobre a população e a economia ucranianas, produziu um novo patamar de incerteza e trouxe muitos desafios para o mundo inteiro – obviamente também para o Brasil. Agora, cada país tem pela frente um panorama novo, em boa parte ainda desconhecido, a exigir planejamento sério e execução criteriosa. 

Tudo isso reitera a importância de ter um governo responsável e competente, que esteja apto a reagir à altura dos acontecimentos. No caso brasileiro, a situação é desconcertante. A guerra de Putin não suscitou nenhuma expectativa de que o governo Bolsonaro fosse atuar de forma prudente. A experiência com a pandemia foi traumática o suficiente para atestar a incapacidade e o despreparo de Jair Bolsonaro para lidar com eventos desconhecidos. Vez ou outra, o ex-capitão ainda trata a maior crise sanitária da história recente, que abalou o mundo inteiro, como uma conspiração para tirá-lo do poder. 

O fato é que, com sua incompetência, Jair Bolsonaro deixa o País vulnerável em áreas cruciais – econômica, social, ambiental e diplomática. Neste momento, e como sempre, o governo não tem um plano minimamente consistente para atravessar e enfrentar as novas circunstâncias internacionais. A população e as empresas contam apenas com suas próprias forças. Se essa vulnerabilidade causada pelo governo, com razão, assusta, deve também suscitar reflexão sobre as próximas eleições. A Presidência da República reúne atribuições institucionais muito graves para ser entregue a quem nunca na vida deu mostras mínimas de ter condições para a função. 

O presidente da República é chefe de Estado e de governo. No art. 84, a Constituição define nada menos do que 27 competências privativas do presidente da República. Entre elas, “exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal” (inciso II), “manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos” (inciso VII) e “celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional” (inciso VIII). 

O cargo de presidente da República não é, portanto, para demagogos, aventureiros ou principiantes. Exige competências cognitivas e intelectuais que forneçam um mínimo de sentido comum à administração federal e à condução dos assuntos de Estado. É verdade que existem aspectos da vida social e econômica de um país que não dependem do governo ou que, ao menos, têm certo grau de independência em relação ao Estado. No entanto, é também verdade que, diante de eventos como a pandemia ou a guerra de Putin, tudo se torna mais condicionado à atuação do governo federal. 

Crises imprevistas, como a pandemia e a guerra na Ucrânia, lembram-nos de que o exercício da Presidência não pode se limitar ao enfrentamento de problemas conhecidos. A realidade tem sempre uma dimensão de incerteza e surpresa, a exigir estadistas que tenham noção dos reais interesses da sociedade. Se é criticável eleger para o Congresso candidatos que fazem da antipolítica sua bandeira eleitoral – como foi, por exemplo, a candidatura do palhaço Tiririca –, muito mais grave é colocar na chefia do Executivo pessoas escandalosamente inaptas para governar mesmo em circunstâncias normais. 

De modo similar, é também uma temeridade conduzir ao Palácio do Planalto quem mantém uma visão de mundo retrógrada e encerrada em categorias ultrapassadas, como é o caso do PT. A posição da legenda sobre o ataque russo contra a Ucrânia revela que o despreparo e o alheamento da realidade não são circunstanciais. Estão na essência do lulopetismo, que se aferra ao negacionismo e à cegueira diante dos dados que confrontam suas certezas ideológicas. 

As circunstâncias dramáticas da pandemia e da guerra de Putin reiteram a responsabilidade do eleitor em outubro. Há pluripartidarismo e livre exercício dos direitos políticos. Ou seja, não há nenhuma necessidade em votar em despreparados ou incompetentes. A Presidência da República exige gente séria, capaz de conduzir o País especialmente nas horas difíceis.

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