SP faz bem em preferir a prudência

Até que perigo da Ômicron seja mapeado, é correto manter as máscaras, reforçar a vacinação e evitar grandes aglomerações

O governador João Doria 

O Estado de S.Paulo 

O governo de São Paulo tomou duas decisões prudentes em meio às incertezas em relação aos riscos da variante Ômicron para a saúde da população. Ainda não se sabe quão transmissível é essa nova cepa do coronavírus e, principalmente, se as vacinas disponíveis são eficazes contra ela. A Pfizer e o Instituto Butantan, laboratórios que fabricam dois dos imunizantes mais aplicados no País, mostraram-se otimistas, mas os testes ainda não foram concluídos. A Universidade Oxford, que em parceria com a AstraZeneca e a Fiocruz desenvolveu outra vacina aplicada em milhões de brasileiros, afirmou que, no momento, “não há evidências de que as vacinas não protegerão contra casos graves de covid-19 provocados pela variante Ômicron”. São dados preliminares muito promissores, mas nada além disso. A cautela, portanto, deve nortear as decisões tanto dos administradores públicos como dos cidadãos. 

Diante desse quadro de incerteza, o Palácio dos Bandeirantes agiu bem ao voltar atrás quanto à flexibilização do uso de máscaras em ambientes abertos. Após ouvir o comitê científico que o assessora, o governador João Doria (PSDB) decidiu manter a exigência, que deixaria de valer a partir do próximo dia 11. Embora a obrigatoriedade do uso de máscaras valha para todo o Estado, cada município, naturalmente, tem autonomia para decidir no âmbito local. Espera-se dos prefeitos o mesmo cuidado adotado pelo governo do Estado. A bem da verdade, grande parte deles tem sido cautelosa desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a Ômicron como uma “variante de preocupação”. Pouco após o anúncio, mais de 80 cidades do interior paulista anunciaram o cancelamento não apenas dos festejos de Ano Novo, mas também do carnaval. O prefeito da capital, Ricardo Nunes, cancelou a festa de réveillon na Avenida Paulista. 

Outra importante medida adotada pelo governo estadual diante da ameaça da variante Ômicron foi a redução do intervalo vacinal para aplicação da dose de reforço de cinco para quatro meses. A medida já está em vigor e é importante que todos os paulistas que tomaram a segunda dose das vacinas da Pfizer, AstraZeneca e do Instituto Butantan, ou a dose única da Janssen, há quatro meses ou mais compareçam a um posto de vacinação para receber a dose de reforço. Vacinas previnem casos graves de covid-19 e evitam mortes. O secretário estadual de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, tem razão ao defender que, neste momento, as vacinas devem estar no braço dos cidadãos, não nos estoques do Estado. 

A decisão do governo paulista de antecipar a aplicação da dose de reforço foi criticada pelo Ministério da Saúde. Em cerimônia no Palácio do Planalto, ao atacar a exigência do “passaporte da vacina”, o presidente Jair Bolsonaro, mais uma vez, distorceu um manifestação da OMS e afirmou, sem esconder um sorriso, que “quem está totalmente imunizado também pode se contaminar e morrer”. Ele omite que a grande maioria dos internados e mortos por covid-19 hoje é composta por não vacinados. Omite também a queda dos números da pandemia no País, fruto do avanço da vacinação que ele fez o que pôde e o que não pôde para retardar.

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