João Doria favorito nas prévias do PSDB

Por melhor que seja o desempenho de Leite, não é até agora suficiente para colocar em xeque o favoritismo de Doria

Alberto Carlos Almeida - BRASILIS

Há a ilusão de que declarações públicas de apoio a Eduardo Leite realizadas por tucanos conhecidos o tornam favorito para vencer as prévias do PSDB. Não é assim que a política funciona, quando se trata de eleições é preciso contar votos. Vamos a eles.

Nas prévias do partido o peso de cada eleitorado varia: os votos dos filiados contará como 25% do total final, os deputados federais, senadores, vice-governadores e vice-governadores e ex-presidentes do partido somados também valerá 25% do total assim como o dos deputados estaduais. Por fim, caberá à política municipal os restantes 25%, com 12,5% para prefeitos e 12,5% para vereadores.

Peso de cada colégio eleitoral:


A vantagem de Doria na disputa tem início justamente no voto dos filiados, o partido conta atualmente com aproximadamente 1 milhão e 300 mil adeptos sendo 300 mil deles no Estado de São Paulo. Todo cadastro de filiados de todos os partidos é desatualizado, pois muitas pessoas assinaram a ficha de filiação já faz muito temo e sequer lembram disso, outros tantos já faleceram e a grande maioria sequer participa das atividades partidárias. Assim, o mais relevante é tentar detectar em quais localidades os filiados são mais ativos. 

Não é um mero acaso o fato de o PSDB ser um partido muito forte em São Paulo. Trata-se do estado mais rico do país e, por isso, com a classe média mais numerosa. O PSDB é um partido de classe média tanto quanto a classe média é forte e numerosa em São Paulo. As reuniões de militantes do PSDB no estado atestam este perfil social do partido. Consequentemente, é em São Paulo, quando comparado com o restante do país, onde os militantes têm as maiores chances de votarem nas prévias. 

Estima-se hoje que existam 120 mil filiados ativos em São Paulo dos quais em torno de 80 mil venham a votar por meio de aplicativo com reconhecimento facial. Na escolha do candidato a governador para a eleição de 2018, muito menos falada do que a atual disputa, aproximadamente 22 mil filiados votaram.

Os coordenadores da campanha de João Doria, o presidente do PSDB de São Paulo, o deputado estadual Marco Vinholi, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, o prefeito de Jundiaí, Luís Fernando Machado, o secretário particular do governador, Wilson Pedroso, assim como o ex-deputado federal Antônio Imbassahy, estão bastante empenhados em levar tais filiados a votar, a campanha vem sendo intensa junto a eles. Não se trata de uma tarefa difícil se for considerado a já mencionada tradição de participação da classe média paulista no partido. 

A título de exemplo, no sábado 18 de setembro, o PSDB reuniu 4.200 mulheres em um evento de apoio à candidatura de João Doria. Uma mobilização desta natureza não ocorre em nenhum outro estado. Por outro lado, no Rio de Janeiro o número de filiado é imenso, mas aqueles que participam ativamente do partido caberiam facilmente em uma kombi. 

Portanto, acredita-se que o voto dos filiados de São Paulo venha a totalizar 55% do total de votos de todos os filiados nas prévias e, neste caso, a vitória de Doria tenderá a ser expressiva. Uma estimativa conservadora indica que a vantagem nacional de Doria contra Eduardo Leite neste grupo venha a ser de 70% a 30%. Parte destes 30% serão votos dados a Leite em função da resistência de outros estados à força de São Paulo no partido. Vale ainda mencionar que um grande obstáculo ao nome do governador do Rio Grande do Sul é o seu desconhecimento junto aos filiados do partido. A estimativa provisória de votos junto aos políticos do partido também favorece Doria (estas estimativas foram feitas a partir de avaliações internas de vários membros do PSDB). No Rio Grande do Sul avalia-se que Eduardo Leite terá neste grupo 90% dos votos e Doria somente 10%. 

Sul, Sudeste e Centro-Oeste: 
Número de votantes por colégio eleitoral e por estado. 
Estimativa da proporção de votos de João Doria e Eduardo Leite


Em Santa Catarina e no Paraná a vantagem atual também é de Eduardo Leite, derrotando em ambos os estados Doria por 60 a 40%. Em São Paulo, como esperado, avalia-se que 90% dos políticos tucanos ficarão com Doria e 10% com Eduardo Leite.

No Rio de Janeiro há atualmente grande equilíbrio e em Minas Gerais o candidato apoiado por Aécio Neves, um dos coordenadores da campanha de Leite (os outros dois coordenadores são o ex-deputado João Almeida e o atual deputado federal Lucas Redecker), venceria hoje de 60 a 40%. 

Há no PSDB quem considere que os políticos mineiros, em função de sua tradição de desconfiança, não irão votar na mesma proporção do que os políticos de outros estados por temerem serem identificados, em que pese todos os dispositivos de segurança do aplicativo que possibilita o voto. Quanto a Minas Gerais vale registrar que até 26 de setembro o candidato Eduardo Leite não havia visitado o estado uma vez sequer. Alguns tucanos consideram que lhe causa um certo constrangimento o apoio público e explícito de Aécio Neves. 

Por fim, o Espírito Santo tem poucos eleitores e eles favorecem Doria. É possível perceber nas quatro últimas linhas da tabela acima que Doria tem larga vantagem nos estados da Região Centro-Oeste que juntos representam um colégio eleitoral bastante numeroso. 

Nas regiões Norte e Nordeste os estados mais importantes são a Bahia, a Paraíba e o Rio Grande do Norte. Nos dois primeiros Eduardo Leite leva vantagem e na terra de Câmara Cascudo é Doria quem abre larga margem sobre o governador do Rio Grande do Sul.

Norte e Nordeste: 
Número de votantes por colégio eleitoral e por estado. 
Estimativa da proporção de votos de João Doria e Eduardo Leite


Quem comanda o PSDB no Rio Grande do Norte é o presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Ezequiel Ferreira, fiel aliado de João Doria.

O fato concreto é que Eduardo Leite se sai muito bem quando se avalia o quadro geral dos estados, afinal ele não é de São Paulo em um partido fortemente paulista. Porém, por melhor que seja seu desempenho não é até agora suficiente para colocar em xeque o favoritismo de Doria. 

Apontar favoritos em eleições vai além de avaliar declarações públicas de políticos famosos, é preciso fundamentalmente ir aos números e, no caso de eleições internas de partidos políticos, isto significa obter informações junto às diversas correntes internas, listar o maior número possível de nomes de votantes, conferir em quem pretendem votar e fazer as contas. É fato que tais estimativas podem vir a ser imprecisas, mas é o que temos de melhor.

Comentários