EXCLUSIVO: Entrevista com Edgar de Souza, presidente da Diversidade Tucana

"Cada homem, cada mulher, mesmo peso. Nós não podemos abrir mão disso, de forma alguma", diz Edgar na defesa do voto universal nas prévias do partido, que escolherá o candidato à presidente para 2022


O presidente da Diversidade Tucana, Edgar de Souza

Welbi Maia - Blog do Welbi

Aos 42 anos, o presidente da Diversidade Tucana, Edgar de Souza já acumula em seu currículo quatro mandatos de vereador, sendo que no último, foi por duas vezes presidente da Câmara Municipal, e, em seguida, eleito e reeleito prefeito de Lins, cidade do interior paulista. Atualmente, exerce o cargo  de subsecretário de Relações Sociais e Cidadania da Secretaria de Desenvolvimento Regional do Governo do Estado de São Paulo.

Primeiro prefeito assumidamente gay do Brasil, Souza ajudou a quebrar paradigmas na política nacional.

Na entrevista, o presidente da Diversidade Tucana fala de sua trajetória, experiência na vida pública, sobre o movimento LGBTQIA+ e sobre o PSDB.

Defensor do voto universal nas prévias do partido, que escolherá o candidato à presidente para 2022, Souza enfatiza a importância da valorização da militância.


ENTREVISTA


Blog do Welbi- O senhor iniciou na política aos 21 anos como vereador. O que o motivou?

Edgar de Souza - Eu venho na minha trajetória que era muito ligada à Igreja Católica, o que seria chamada a esquerda católica, Pastoral da Juventude, comunidade eclesial de base, isso me levou pro movimento popular de bairro... Então, fiz essa passagem. Um pouquinho de movimento estudantil, mas secundarista. Na universidade participei de algumas coisinhas, mas não gostei. 

Mas esta questão muito ligada a uma visão de fé, conceito de fé cristã, que a gente chama de sócio transformador. Então, o maior mandato de Jesus Cristo para nós “amar ao próximo”. Você ama o próximo fazendo a vida do outro melhor. E aí a melhor ferramenta para que isso aconteça se chama política. O Papa Paulo VI falava, agora o Francisco retomou isso. É o instrumento de mudança da vida. Eu faço a caridade de forma coletiva, em vez de ajudar uma pessoa, ajudo muitas pessoas. Então, essa visão me levou a fazer a faculdade que eu fiz, eu sou cientista social, e me levou para a política partidária. 

Desde muito moleque, óbvio que como moleque, primeiro ao PT. Eu brinco que se até os 30 você não foi comunista, algum problema tem, mas passou dos 30 e continua socialista, comunista, tá com algum probleminha. Com todo respeito aos colegas mais à esquerda. Mas aí na comunidade, antes de ser candidato a gente apoiava candidaturas. E aí até que falaram “por que não é você o candidato?”. 

Primeiro eu fui Conselheiro Tutelar aos 18 anos, e depois candidato a vereador. E ali começou. Foram três mandatos de vereador, 2000, 2004, 2008. Sendo que de 2008 a 2012 eu fui o presidente da Câmara. Durante quatro anos. Lins na época era dois anos, com direito a reeleição. Daí acabei ficando 12 anos no Legislativo. E depois, daí tá bom, porque também acho que tem que ter um limite. Esse negócio de oito, dez mandatos no Legislativo também atrapalha a renovação política.

Esse foi o pontapé inicial. Pra mim, tem muita essa dimensão de chamado de fé a política. A missão. É minha vocação. Acredito muito nisso, que a nós somos vocacionados a algumas coisas. E eu entendo a política como uma vocação.

 

BW - Como vereador, o senhor já levava à Câmara as pautas da Diversidade?

ES- Um pouco, mais a pauta dos Direitos Humanos, essa foi sempre uma pauta. Até porque eu me assumi, vamos dizer nos termos mais populares, em 2004. Até porque no primeiro mandato era assumido pra mim. Eu sabia o que era, mas não era algo público. A minha militância pela pauta da minha vida por ser gay, e da minha comunidade, ela se deu pela minha existência, minha vivência pessoal. Nunca foi orgânica. Ela foi se tornar orgânica lá na frente. Aconteceu um episódio, eu tive um amigo preso num caso de homofobia absurdo. Isso mexeu muito comigo, então, olha, não dá pra ficar quieto. Tem que falar malar mais sobre isso.

Mas minha pauta era muito ligada a infância, juventude, a questão racial. Mesmo sendo branco, usar meu lugar de branco, privilegiado, para enfrentar o racismo, discutir o racismo, reconhecer que o racismo existe.

Discutir as questões, a minha família é da saúde, tenho um pai que é enfermeiro, minha irmã é enfermeira, agora fazendo medicina, minha mãe técnica de enfermagem. Nossa paróquia tinha uma farmácia popular que atendia a população. Então essa pauta da saúde era muito viva, então me envolvi muito com isso.

Por ter sido Conselheiro Tutelar você acaba discutindo cultura, segurança, a questão da criminalização da juventude.

Então essa uma pauta foi muito mais ligada aos Direitos Humanos. E aí entrava a questão da Diversidade, do que exclusiva.

Tem uma coisa que eu falo pra nós do PSDB, nós somos LGBT na política, não somos políticos GLBT. Qual é a pauta de um político LGBT do PSDB? A pauta que envolve a comunidade. Então vamos discutir moradia? Vamos discutir moradia pra LGBT? Não. Pra todo mundo. Dentre eles, a GLBT. Olha, tem um recorte aqui, tem essa especificidade que a gente precisa atender. Mas vamos discutir moradia pra todo mundo. Aquele lugar ali a pauta é segurança pública. Vamos lá discutir segurança pública. Mas também queremos discutir.

Então não é uma coisa monotemática. Isso é o que nos diferencia dos militantes políticos GLBT mais à esquerda. Que ficam muito presos à pauta exclusivamente identitária e nós preferimos a pauta mais ampla. Volto a dizer, não negamos a pauta, assumimos ela, defendemos a pauta...


BW – Mas a insere na sociedade.

ES – Exatamente.


BW – Não é uma pauta à parte.

ES – Não é gueto. Não é gueto. Por quê eu como gay não posso discutir economia? Não posso discutir reforma da previdência, não posso discutir a melhoria dos serviços públicos para a população como um todo?

Meus adversários em Lins, os mais radicais, diziam o seguinte, “por que você só pensa nos gays”. Aí ele lembrava, a Santa Casa que nós recuperamos, que estava falida, atende todo mundo. Não ó a gay. Atende gay também, mas não atende só gay. Eu dobrei o número de unidades de saúde. E não foi só para atender só gay, foi para atender toda a comunidade.

Tanto que isso foi reconhecido. Sai graça a deus com dois mandatos, com boa aprovação.

 

BW – O que atribui a eleição como prefeito?

ES - Então, a gente tem que ter esse olhar mais amplo, porque eu falo o seguinte, não foi ser gay que me fez prefeito. Nem vereador. Mas o trabalho social e político que eu desempenhava fez com que eu pudesse ser eleito mesmo sendo gay. Não foi um problema a sociedade passou a ver, olha, não é nenhum bicho de sete cabeças, não é nenhum comedor de criancinha, não é nenhum monstro, nada.

Isso a ajudou a dar visibilidade e respeito a nossa comunidade.

Eu estive em dois encontros internacionais de lideranças políticas LGBT. Um em Bogotá, que foi para as Américas, e depois nos Estados Unido, que foi pro mundo todo. Tinha uma prefeita, July, de uma cidadezinha no Canadá. Ela é transexual. E nós nos identificamos muito, porque ela foi muito nessa “vibe”, ela falava o seguinte, “não foi a trans que foi eleita, foi a July”. Então, não foi o Edgar que foi eleito, foi o Edgar. Que é gay sim. Que as pessoas sabem que não vai se esconder, que vai brigar. Aí nós implantamos o banheiro pras pessoas transsexo, transgênero. Nós ajudamos as pessoas transexuais sem grana para que os cartórios fizessem a mudança de documento. Então nós fizemos uma série de ações. Mas não fizemos só isso. Nós fizemos coisas para a população como um todo. Até para não ficar aquela coisa de ficar pobre brigando com miserável. Que é um dos grandes erros que às vezes a pauta traz.

Então você fala só sobre a questão da violência contra os LGBTs, que é algo grave, que tem que ser olhado sim, mas eu não posso discutir só isso. Porque fora, nós também temos outras pessoas. A juventude negra que está sendo massacrada, a questão da droga. Temos que discutir num conjunto. E óbvio, sempre que discutir isso, olha, dá uma atenção nisso aqui, porque isso aqui é grave também sobre a nossa comunidade.

 

BW – Quais foram seus maiores desafios no Poder Executivo?

ES – Sabe que no começo eu achava que era falta de dinheiro (risos) que as prefeituras tinham. Mas depois descobri que não. A maior dificuldade acho que é mentalidade que o serviço público pode ser feito de qualquer forma. Eu falo que eu não comecei no PSDB, vim de uma outra escola, por assim dizer, mais à esquerda, que era muito complacente com o serviço público lento, ineficiente. Tudo é desculpa. O salário não é o que você sonhava. Então isso é uma desculpa para que o atendimento não fosse tão bom.

No PSDB nós não concebemos isso. Nós queremos melhorar a qualidade, o salário dos servidores, a estrutura. Mas nós não usamos aquilo que não conseguimos atingir ainda com essa desculpa para atende mal.

Como administrador eu falava, nós vamos fazer a máquina funcionar mais rápido. Ela tem que olhar. Ela tem que enxergar as pessoas. Meu sonho é esse, uma administração que enxergasse o usuário. Visse o cidadão. Contribuinte ou não. Tem que atender todo mundo. Com essa mentalidade é muito complicado.

Por isso eu seu defensor da reforma administrativa. Lógico, existem funções administrativas que não dá para não a proteção da questão da estabilidade. Existem outras que você pode criar critérios muito precisos, objetivos, de produtividade. Se não foi atingido, tem que ser substituído.  

A gente usa muito aqui em São Paulo uma fase que o Rodrigo (Garcia, vice-governador) usa muito, e eu gosto, o serviço tem que ser público, mas não necessariamente precisa ser estatal. Então eu sou entusiasta do modelo de OS (organização social), da pactuação com a iniciativa privada, de parcerias. Então, o Estado direciona. O Estado tem que dar meta, dar o que ele quer, mas vc faz parceria para atingir um bom resultado.

Essa mudança de mentalidade para mim era coisa mais difícil. Você tem na cultura do serviço público, no geral como um todo, “pra que fazer hoje o que deveria fazer a semana passada”.  Vamos antecipar da semana que vem pra essa. Porque as pessoas precisam. Há uma carência, em especial nas comunidades mais vulneráveis, da ação do poder público.


BW - Você foi o primeiro prefeito assumidamente gay do Brasil. Como as pessoas reagiram na cidade? Sendo que Lins é uma cidade conservadora?

ES - Sabe que foi uma reação muito bacana. Por que como eu não assumi na campanha, eu já morava com meu ex-marido desde 2004. Eu fui casado14 anos com ele. Oficializei depois, mas de fato, 14 anos. Então, as pessoas já conheciam. Quando eu era Presidente da Câmara eu já era casado com ele. Quando era vereador já era casado com ele. Então na campanha de 2012 os adversários isso de forma muito rasteira. Ataques homofóbicos muito pesados. Cosas nojentas. E eu particularmente não me abalava. Mas eu pensava na minha família, nos meus amigos. Só que conforme mais ataques vinham, mais a comunidade se abria. "Pô, mais que sacanagem é essa? Nós não queremos esse tipo de coisa, eu quero ver trabalho". Eu falava, "olhem o meu trabalho. Olhem minha história política". Política não é para discutir minha vida pessoal. Se quiser, eu discuto. Mas não é minha vida pessoal que está em jogo. É o meu trabalho, o projeto que eu tenho pra cidade. E isso as pessoas foram abraçando. 

Então você vai ter lá um núcleo mais raivoso, mais sectário, esse vai ter sempre. Esse vai ter sempre. Mas no ponto de vista da macro, das pessoas... Eu lembro que quando fui eleito, um rapaz do jornal disse assim, "parabéns, porque venceu a homofobia". Eu falei, olha, parabéns à cidade de Lins, aos eleitores. Que foram eles que venceram. oram eles que falaram que isso não pode ser critério. 

Então, volto a dizer, meia dúzia de gente que vai falar bobagem. Vai mesmo. Mas a grande maioria das pessoas é muito tranquilo. 


BW - O PSDB sempre defendeu as pautas de Direitos Humanos e da Diversidade Sexual. Ao que atribui o eleitorado gay não fazer associação do partido com suas causas?

ES - Você tem duas ou mais coisas. Eu separo muito a população gay, LGBT e os movimentos. O movimento é organizado. E estes movimentos, majoritariamente, são controlados por partidos mais à esquerda. A população, que são milhões, vamos pegar um número conservador? Dez por cento da população. 21 milhões. Quantos esses movimentos têm? Alguns milhares. A grande maioria da população, você vai ter aí gente que são LGBT e tem posições políticas conservadoras. O eleitor  que tá aqui na população, ele tem mais proximidade com a gente do que com esses. Mas o movimento organizado tá aqui. 

Isso fez com que, aparentemente, a pauta fosse sempre sequestrada pelos movimentos, pelos partidos mais à esquerda. 

Se você for falar com o cidadão médio, e esses são os eleitores do PSDB, mas nesta questão, principalmente. Como é que se fala com o cidadão médio? Querendo ou não, a extrema direita consegue falar com o cidadão médio. A esquerda consegue, de alguma forma, falar. Nós precisamos falar também. Porque a extrema direita vem diz o seguinte, "Ó, LGBT é uma opção política, porque está tudo na esquerda". E aí vem a esquerda e se apropria, "É meu mesmo". E não é. Não é. 

Então, nós temos o desafio de romper isso. Eu fico muito feliz. Por exemplo, hoje, além da gente, você em o Podemos Diversidade, você tem o Rede Diversidade, O Cidadania Diversidade, o PV Diversidade, o MDB Diversidade, o DEM Diversidade. E isso é excelente, porque vai mostra pra a sociedade que essa é uma pauta humana. Não é uma pauta da esquerda ou da direita. 

Você pega no mundo inteiro governos ditos de direita, Reino Unido, tem feito políticas pró comunidade LGBT avançadíssima. Esse governo de direita que está lá. Em Israel, que é um governo de extrema direita, a pauta nossa só avança. Como apoio da esquerda e da direita. É que no Brasil a extrema direita é reacionária, ela é atrasada.

Um dos momentos que nos atrapalhou bastante  foi quando num enfrentamento mais agudo com o PT, o PSDB virou um guarda-chuvão de todo antipetismo que tinha na sociedade. Então, se tem um bem que bolsonarismo nos fez, foi limpar o PSDB quase que inteiro dessa turma. Foram pra lá. E o PSDB pode vir para o campo social democrata, social liberal, de fato. 

Então nós precisamos resgatar esta mensagem de Direitos Humanos. Nós não queremos privilégios pra nada. O que não queremos é segregação também. A democracia não pode ter nem privilégio de grupos, e nem segregação de grupos. 


BW - Como presidente nacional da Diversidade Sexual do PSDB, qual seu grande desafio?

ES - Acho que levar essa mensagem pros nossos dirigentes Brasil afora. Essa filtragem do antipetismo ainda é recente, e muita gente ficou com medo. Mas, cada vez que a gente leva essa abordagem que nós fazemos, que é diferente da abordagem à esquerda, o partido vai se abrindo. Vou falar aqui sem sobra de erro, nós somos extremamente bem acolhidos e respeitados pela direção do nosso partido.   

Isso não começou comigo, nosso presidente de  honra, o Marcos (Fernandes), que fundou há 10 anos, pessoa extraordinária. Um gesto que não podemos esquecer, na época da presidência do então senador Aécio, nós tínhamos como membro da Executiva o deputado João Campos, lembra? (risos). Presidente da Frente Parlamentar Evangélica. Posições absurdamente equivocadas, raivosas, tal. O Aécio convidou o João Campos a se retirar do partido, frente o antagonismo de princípios, e como gesto simbólico, convidou o Marcos Fernandes a compor a Executiva no lugar dele. Olha o tamanho do gesto. De lá pra cá, nós só evoluímos, só melhoramos, só crescemos. Nós tivemos apoio nas candidaturas. Ano passado a Diversidade Tucana apoiou quase 50 candidatos LGBTs do PSDB no Brasil todo. Acho que conseguimos eleger 10 vereadores, temos dois vice-prefeitos, com respaldo e reconhecimento do partido. 

Por que precisa fazer isso chegar ad vez mais longe, nos estados mais distantes. Mas acho que a gente tá conseguindo construir isso de uma maneira muito bacana.


BW - Como você acredita que o PSDB deva se posicionar diante do governo Bolsonaro?

ES - Não tem outro discurso que não seja a oposição. Esse governo, primeiro que se apresentou como liberal é uma farsa. Uma Farsa. No ponto de vista dos valores, eu não tenho a menor dúvida, é o pior governo da história do Brasil. É o pior. É a uma Dilma com uma agenda antidireitos civis, antidemocracia. E o PSDB que é um partido nacional, que vislumbra ter um projeto de sociedade, para ele poder, vislumbra voltar, Fernando Henrique diz isso, ou você é governo ou você é oposição. Não dá pra ficar nesse negócio assim. Não ser oposição a um projeto trágico como esse, a essa agenda trágica que eles representam, significa abrir mão de querer ser poder de novo. Então, só se o PSDB não quer voltar a governar o Brasil. 

Temos que lembrar, mais que um nome, há uma agenda que eu chamo de populista. Bolsonaro, Lula, eles expressam com nuances diferentes essa agenda. E o PSDB tem que ser alternativa a isso. Ali estão as duas faces da mesma moeda. Volto a dizer, com nuances diferentes. Não são exatamente idênticos, mas são muito próximos. Tem que ser uma alternativa de fato. 

O presidente Bolsonaro para a comunidade LGBT é uma catástrofe. Nos ataca permanentemente. Deve ter algum problema psicológico, patológico com o tem. Ele adora nos atacar sobre isso, abra a boca para atacar. É um governo misógino, é um governo racista. E o PSDB que é antirracista, é antilgbtfobia, é um partido em defesa das mulheres, não pode compactuar com isso. 

Lembrando, existe uma pauta econômica que Bolsonaro defende por empurrão de setores que o apoiam. Não é a pauta dele. Bolsonaro é um corporativista. Bolsonaro é um líder sindical corporativista Tudo que o PSDB sempre enfrentou. Então, hora ou outra tem um projeto interessante de reforma, vamos apoiar. Porque é nossa pauta. Não tem porque não defender reforma que nós sempre defendemos. Mas isso não significa endosso. Tem que ter a capacidade fazer o enfrentamento a essa figura que vai entrar para a história, para a lata do lixo da história. Em breve, né? Tomara que em breve. 


BW - Na próxima semana, a Executiva do partido irá definir as regras das prévias que escolherá o candidato à presidente em 2022. A Diversidade, o Tucanafro e o PSDB-Mulher se colocaram contra a proposta da comissão, que divide em quatro grupos, com peso diferentes o voto. Os seguimentos defendem o voto universal, com mesmo valor para todos. Em que a proposta em discussão pode interferir na democracia interna do partido?

ES - Eu vou dize uma coisa, eu conheço a comissão, parte dela pelo menos, o presidente é meu amigo, um dos melhores quadros da política brasileira, José Aníbal, nosso senador, e eu não tenho dúvida que eles, sob a liderança dele, tentaram buscar um modelo equilibrado. Ponto. Sem nenhum demérito ao que foi apresentado, eu não consigo conceber, e nós dos seguimentos, que trabalhamos com a militância, nosso filiado, aquele tá no dia-a-dia. Não é o cara que é dirigente, não é o cara que tá no mandato, nada disso. Não é o cara que tá só na campanha, não é cabo-eleitoral. Ele é o que tá na rede social o dia inteiro, defendendo, falando. Como é que vamos falar pra esta pessoa que o voto dela vale menos do que de um dirigente que às vezes não faz um terço do ela faz? "Ah, mas o cara tem um cargo, ele representa o nosso voto". Esse militante ajudou a eleger esse parlamentar, esse prefeito. Esse militante ajudou. E agora, na hora que você pode dar a ele o poder de decisão, você fala, "não, agora você vai poder votar, mas seu voto vale isso aqui, entre o do outro vale...". Não faz sentido. Pra nós é inconcebível uma prévia que não seja com o voto universal. 

O partido é maduro, nós temos uma história, em São Paulo se mostraram extremamente positivas. Mexe com o partido, movimenta,  o filiado, o militante fica feliz, porque ele se sente parte do processo. E uma das coisas que nós precisamos mostrar pro Brasil é a conexão da política com o povo. E as prévias podem ser esse instrumento de reconexão. 

Olha, o PSDB não fala que vai fazer uma política diferente só no discurso. Ele já faz à partir do momento que ele dá ao seu filiado que mora lá no fundão do Amazonas, que mora lá no sertão nordestino o direito de escolher o seu candidato a Presidente. Olha o peso que isso tem. 

Então, não faz sentido se não for dessa forma. É com diz a frase do manifesto, é próximo à voz, o calor das ruas. É ali. O PSDB nasceu pra isso. Longe do gabinete, longe do poder, das benesses, próximo do pulsar das ruas. E o pulsar das é dar esse instrumento pra eles. Sem ter medo. Agente às vezes, falo o dirigente, a gente tem medo. "Ah, será que o partido tá maduro?". Fica tutelando. Não existe avanço da consciência democrática, que lançamos há pouco tempo, o PSDB assinou, não existe avanço da consciência democrática sem deixar as pessoas exercerem. As pessoas precisam exercer isso. Mesmo que erre. O Brasil errou. O Brasil tem errado em eleições, no meu ponto de vista, sucessivamente nos últimos anos. Mas é melhor errar coletivamente que um acerto individual. Por que isso é uma coisa autoritária. O caminho é esse.


BW - Na ditadura militar, por exemplo, os generais achavam que o povo não estava preparado para o voto direto. Não é?

ES - Exato. As pessoas achavam antes que a mulher não estava preparada para o voto direto, que os analfabetos não podiam votar. Pera aí, analfabeto pode não conhecer as letras, mas ele conhece a vida. Eu tenho uma avó, já é falecida, ela era analfabeta. Ela não assinava o nome. Uma das mulheres mais inteligentes que já conheci. Por que ela sabia o quanto custava as coisas, o quanto era difícil ter as coisas, uma sabedoria de vida... Por que ela não poderia escolher  seu prefeito, o seu presidente? Então, porque a gente não pode acreditar que os nossos filiados têm essa maturidade. 

Aí é papel dos dirigentes, em especial dos pré-candidatos, mas de todos dirigentes, nós inclusive, ir lá falar com eles. Convencer as pessoas. Então, eu acredito que gente pode encontrar um caminho pra essa solução. Por que as prévias do PSDB vão antecipar quem será o próximo presidente do Brasil. 


BW - E já emendando, você acredita que o candidato do PSDB possa quebrar a polarização entre o bolsonarismo e o lulismo?

ES - Não tenho dúvida. 50% hoje, 47%, 48% dos eleitores, as pesquisas indicam, não querem nenhum, nem outro. A polêmica do dia foi o vídeo da Juliana Paes. Que só falou o óbvio. Posso discordar dela que a esquerda é comunista. Não tem. Tem questões conceituais. Mas ela tá dizendo o seguinte, "eu não quero nenhum desses dois". E ela tá falando o que metade da população brasileira fala. "Não quero nenhum dos dois. Nenhum desses movimentos me representa". 

Então, quem é o partido que tem estrutura nacional pra fazer isso? Em particular, a fala do governador (João Doria), vamos esperar a prévia para decidir. O governador tem um ativo que é a vacina,  o desejo de ser... Nós temos quatro pré-candidatos extremamente competentes. O João (Doria), o Eduardo (Leite), o Tasso (Jereissati) e o Artur Virgílio. Quatro nomes. O pessoal fala, "o PSDB está com problema". Que partido não quer ter um problema desse? Quatro quadros desse tamanho. 

Eu não tenho dúvida que o PSDB tem toda capacidade. Acho que a prioridade é a construção do polo democrático. Acho que o PSDB não pode te o problema, se lá na frente algum nome for mais viável, vou defender que seja pelo PSDB, mas se aparecer um nome mais viável, o PSDB compõe. Não Pode ter essa vaidade. 

Ontem os partido de Israel nos deram uma lição. Juntaram oito partidos que só brigavam, entre eles, arqui-inimigos, porque viram que tem um mal maior, que se chama Benjamin Netanyahu. E estão compondo um governo provisório que tem data pra acabar. Daqui alguns meses ele acaba. Vão dividir e vão disputar. Isso foi cordado entre eles. Mas vão tirar o mal maior que se chama Benjamin Netanyahu. Isso, fica a dica, #Ficaadica para o nosso campo do centro democrático entender que existe o mal maior que é o populismo. 

Quando fala na polarização Bolsonaro e Lula, tem algumas diferenças? Acredito que tenha. Mas também tem muita simetria. Tem muita coisa parecida. Ontem o que fizeram com a Juliana Paes, a esquerda, como ela é raivosa também. Atacaram ela, chamaram ela de bolsomínion. É uma leitura muito covarde, mesquinha. Achar o seguinte, "critiquei o Lula, sou bolsonarista. Critiquei o Bolsonaro, sou lulista". Isso é uma imbecilidade. 

Voltando a questão do voto universal, da prévia, tem uma expressão que eu usava nas minhas campanhas  desde vereador, lá em Lins. Sou caipira, lá do interior. Falava o seguinte, "Tem dois momentos na vida, onde os ser humano são definitivamente iguais. Só dois momentos. Que é urna. Na urna funerária e na urna eleitoral". Nós vamos abrir mão? É o único momento. Cada homem, cada mulher, mesmo peso. Nós não podemos abrir mão disso, de forma alguma. 


BW - Você é hoje, subsecretário Estadual de Municípios. É isso?

ES - Na verdade a secretaria tem uma divisão, tem Subsecretaria de Relações Municipais, tem a Subsecretaria Metropolitana, aí nós criamos a Subsecretaria de Relações Sociais e Cidadania, que é aonde eu estou. Que ajuda a relação com os  prefeitos, mas também a relação com as entidades, com as questões sociais, como um todo. 

No fim, o objetivo final é o seguinte, ajudar a estrutura do Governo de São Paulo a melhorar a vida doas brasileiras e brasileiros que aqui estão.


BW - Muito obrigado.  

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