Um governo de verdade

Governadores ocupam o vácuo administrativo gerado pela indiferença de Bolsonaro

Editorial - O Estado de S.Paulo

A mobilização de quase todos os governadores do País para dar um caráter nacional às medidas de enfrentamento da pandemia de covid-19, anunciada no fim de semana passado, é consequência não somente da percepção da emergência sanitária, mas, sobretudo, da conclusão de que não temos governo federal – ao qual deveria caber a coordenação desses esforços.

Os governadores envolvidos representam mais de 95% da população nacional, o que é um indicativo da abrangência do movimento. Esses Estados já estavam tomando as medidas que julgavam adequadas ou possíveis, e há tempos deixaram de contar com a colaboração do Ministério da Saúde – comandado por um obediente servidor do presidente Jair Bolsonaro, hoje o mais feroz adversário dos governadores. A novidade é que agora os governadores pretendem adotar providências mais ou menos uniformes no País, como se tivessem sido formuladas e encaminhadas por um poder central.

Não se sabe se a iniciativa terá sucesso, mas é um claro sinal de que os gestores estaduais pretendem ocupar o vácuo administrativo gerado pela indiferença de Bolsonaro em relação à pandemia. Para imprimir uma marca institucional ainda mais forte ao projeto, os governadores buscaram – e aparentemente obtiveram – o envolvimento do comando do Congresso. A resposta foi inicialmente positiva, e já se fala na criação de um “gabinete de crise” – algo que deveria existir desde quando a pandemia tornou-se realidade, há mais de um ano.

Havia a expectativa de envolver também o intendente Eduardo Pazuello, mas apenas como coadjuvante, o que dá a dimensão do descrédito que o governo federal inspira naqueles que são obrigados a lidar com a dura realidade da pandemia.

Desde sempre, Bolsonaro – que estimula aglomerações, critica o uso de máscaras e ataca restrições adotadas por Estados e municípios – julga que seu papel na pandemia é apenas o de liberar verbas, e olhe lá. Por suas ordens diretas e explícitas, o Ministério da Saúde deixou de participar da corrida mundial por vacinas, e hoje o País só não enfrenta escassez maior de imunizantes porque o governo paulista se esforçou para produzir a Coronavac – que Bolsonaro tudo fez para desmoralizar, por razões eleitoreiras.

Ante o desastre econômico, social e humanitário resultante de sua condução errática e muitas vezes criminosa da crise e ante a queda acentuada de sua popularidade, Bolsonaro afinal parece ter decidido ao menos parar de sabotar a vacinação – defendida veementemente pelo próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, como a única forma de acelerar a recuperação do País.

O governo informou, como se fosse um grande feito, que Bolsonaro acaba de negociar pessoalmente com a Pfizer o fornecimento de vacinas. A Pfizer, recorde-se, ofereceu imunizantes ao Brasil em agosto do ano passado, mas Bolsonaro rejeitou, de forma truculenta. Ou seja, o presidente finalmente tomou uma decisão correta, mas insuficiente e claramente tardia, pois milhares de vidas poderiam ter sido poupadas.

Conscientes de que Bolsonaro não será o líder de que o País precisa, os governadores pretendem pelo menos reduzir os danos produzidos por sua irresponsabilidade. Querem diluir o ônus político das medidas restritivas contra a covid-19 transformando-as em ações coordenadas entre os diversos Estados.

Na prática, os governadores sabem que Bolsonaro continuará a prejudicar seus esforços, ao defender que não haja nenhuma forma de fechamento, explorando demagogicamente a aflição dos brasileiros que precisam voltar a trabalhar. Ontem, o presidente disse que não vai decretar lockdown e, qual um Brancaleone, ainda declarou: “O meu Exército não vai para a rua para obrigar o povo a ficar em casa”.

Não se sabe a que exército o presidente estava se referindo, pois o Exército brasileiro não tem dono. Mas Bolsonaro, que já disse que “eu sou a Constituição”, se considera senhor do Estado. Então, deixemos que Bolsonaro brinque de ser presidente de seu cercadinho de lunáticos, enquanto as forças políticas, judiciais e sociais responsáveis se unem para dar um mínimo de governança ao Estado real, que deve enfrentar problemas reais com soluções reais.

Comentários

  1. QUEM MORA NO BRASIL SABE O GOLPE QUE OS GOVERNADOREZ ESTÃO DANDO NA POPULAÇÃO.
    BOLSONARO TEM O APOIO DO POVO E NÃO É A TOA

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  2. Ratos de porão, traçam o povo em casa, porquê não se sustentam politicamente. Vocês são governadores de uma boa parte da população, mas nenhum de vocês conseguirão se reeleger, mesmo em outro cargo político. Sabem que se o povo puder sair livremente, levantarão a bandeira do impeachment, só que de vocês.

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  3. PUBLICAR MENTIRAS É FACIL, QUERO VER PROVAR.

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  4. OS GOVERNADORES TEM PURO INTERESSE DE QUE AS PESSOAS NÃO RECEBAM TRATAMENTO ADEQUADO E A TEMPO (LOGO NO INICIO QUE SE PEGA O COVID), PORQUE ESTÃO FATURANDO EM CIMA DE VERBAS PÚBLICAS USADAS SEM LICITAÇÃO, BASTA VER OS VÁRIOS ESCÂNDALOS DE GOVERNADORES COMPRANDO RESPIRADORES SUPERFATURADOS, COMPRANDO RESPIRADOR EM LOJA DE VINHO, DESMONTANDO HOSPITAIS DE CAMPANHA , NEGANDO ATENDIMENTO EM HOSPITAIS MENORES PARA QUE A POPULAÇÃO PEGUE FILA EM HOSPITAIS DE GRANDE PORTE, TUDO ISSO DOCUMENTADO COM VÍDEO, REPORTAGEM DE JORNAIS ,ETC

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