'Coronavac é a mais segura das vacinas em teste no país', artigo de Dimas Tadeu Covas

Eficácia permitirá a produção em larga escala

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas

Folha de S.Paulo

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) é uma das iniciativas em saúde pública mais bem-sucedidas do mundo, considerado referência pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Por meio dele e da promoção de campanhas de vacinação em massa, o Brasil conseguiu erradicar a paralisia infantil e manter sob controle uma série de outras enfermidades de natureza infecciosa, como difteria, tétano, coqueluche, caxumba, sarampo, rubéola, diarreia por rotavírus, raiva humana, formas graves de tuberculose e outras.

É consenso no mundo científico que as vacinas são a forma mais eficaz de se prevenir doenças, pois criam defesas no organismo, conhecidas como anticorpos, que protegem o indivíduo da ação de vírus e bactérias, contribuindo para evitar complicações que podem levar à morte.

O Instituto Butantan, um dos maiores centros de pesquisa e desenvolvimento de imunobiológicos do mundo, contribui com o PNI há mais de 30 anos, fornecendo atualmente 8 diferentes vacinas e outros 12 tipos de soros hiperimunes, que são distribuídos pelo Ministério da Saúde aos municípios brasileiros e disponibilizados gratuitamente à população pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Em 2020, a instituição bateu recorde de produção da vacina contra o vírus Influenza, causador da gripe, entregando à União 80 milhões de doses para a campanha sazonal.

Dotado de um moderno parque fabril, tecnologia avançada e de um corpo de pesquisadores altamente qualificado, o Butantan vem concentrando seus esforços para a viabilização de uma vacina contra a epidemia do novo coronavírus, que somente no Brasil matou mais de 183 mil pessoas de março até meados do mês de dezembro, na maior pandemia já enfrentada pelo planeta nos últimos cem anos.

Em junho deste ano, o instituto firmou acordo com a gigante farmacêutica chinesa Sinovac Life Sciences para a realização, no Brasil, de pesquisa clínica de fase 3 em humanos de uma das vacinas mais promissoras e em um dos estágios mais avançados de desenvolvimento em todo o mundo. Ao todo, cerca de 12,5 mil voluntários, profissionais da área da saúde com idades entre 18 e 59 anos, aderiram aos estudos, dos quais metade recebeu a vacina e a outra, placebo.

Os resultados preliminares, já tornados públicos, possibilitam afirmar que a Coronavac é a mais segura das vacinas que estão sendo testadas no Brasil. Até o momento, nenhuma reação adversa grave foi observada nos voluntários que receberam a dose, e falta muito pouco para demonstrarmos a eficácia deste imunobiológico —o que permitirá, após cumpridas todas as etapas previstas em legislação, sua produção em grande escala para que os brasileiros possam ser imunizados e, assim, protegidos contra as complicações da Covid-19, que, como todos sabemos, podem ser severas e até fatais.

Até 23 de dezembro, conforme anunciamos ao lado do governador João Doria (PSDB-SP), deveremos apresentar os resultados finais de segurança e eficácia. O adiamento em cerca de uma semana em relação ao previsto atende a uma recomendação do comitê internacional independente que acompanha a pesquisa desenvolvida em parceria entre o Butantan e a biofarmacêutica Sinovac Biotech.

Assim, o instituto poderá entregar um estudo conclusivo, e não preliminar como o previsto anteriormente, o que possibilitará o envio, à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e à National Medical Products Administration, da China, do pedido de registro definitivo da vacina, facilitando e agilizando o processo.

O Butantan já providenciou a compra de 6 milhões de doses prontas da vacina desenvolvida pela Sinovac e irá produzir até maio de 2021 outras 100 milhões, a partir de matéria-prima importada da farmacêutica chinesa. A produção integral do imunobiológico será realizada em fábrica do instituto, cujas obras já foram iniciadas e que contaram com investimentos de mais de R$ 130 milhões doados por 24 empresas dos mais diversos setores da economia.

Tão logo a eficácia da vacina efetivamente seja comprovada, o passo seguinte será o envio de toda a documentação necessária para que a Anvisa possa registrá-la e autorizar sua produção e fornecimento para todo o país.

A união da experiência do Instituto Butantan aos esforços da Sinovac permitirá que logo tenhamos uma vacina efetiva e segura contra a Covid-19. Em um ano marcado por profunda dor, em que milhares de pessoas se foram e outras sofreram e ainda sofrem com a perda repentina de seus familiares e amigos, a vacina indubitavelmente contribuirá para salvar milhares de brasileiros, trazendo paz para todos nós.

*Dimas Tadeu Covas - Cientista e professor da USP, é diretor do Instituto Butantan e membro do Centro de Contingência do Coronavírus do governo do estado de São Paulo

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