'O dia em que a moeda se tornou Real', artigo de Bruno Araújo


Plano que estabilizou a economia completa 25 anos

Resultado de imagem para plano real
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso


Para muita gente, o Brasil anterior ao Plano Real parece peça de ficção. O brasileiro de meados dos anos 1990 conviveu com oito tentativas fracassadas de estabilização da moeda, conduzidas por sucessivos governos desde a redemocratização. Nenhuma delas funcionou. 

Entre 1986 e 1994, num espaço de apenas oito anos, o país teve nada menos do que quatro moedas diferentes: cruzado, cruzado novo, cruzeiro e cruzeiro real. Em 1993, a alta de preços atingiu o recorde de 2.477% anuais —ou 30% por mês, em média. Em junho de 1994, a inflação chegou a 47%. 

Há décadas o país convivia com esse processo, que fazia com que o dinheiro valesse muito menos com o passar do tempo, às vezes com o passar das horas. A preocupação com a inflação estava em todo lugar: na conversa das famílias, nas filas dos supermercados, no balcão de bares e padarias, nas mesas de reunião das empresas. Havia inúmeras teorias sobre como combater o problema e apenas o consenso de que sem domar a inflação o país jamais progrediria. A temida máquina de remarcação de preços era um dos maiores símbolos do país.

Essa história mudou no dia 1° de julho de 1994, quando entraram em circulação as cédulas e moedas do real. Passados exatos 25 anos, elas continuam aí, estampadas com a clássica efígie da República, passando de mão em mão.

O Plano Real foi iniciativa ousada e corajosa da equipe econômica comandada pelo então ministro da Fazenda e futuro presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, com o apoio decisivo do presidente Itamar Franco. Hoje, apesar de todos os problemas, o Brasil está melhor. 

Segundo o IBGE, 42% da nossa população têm menos de 25 anos de idade, ou seja, não tinha nascido quando a primeira cédula de real circulou. Não seria um exagero afirmar que os brasileiros que têm menos de 40 anos —que somam mais de 127 milhões de pessoas, ou 66% da população— também não fazem ideia do suplício que era viver em um país em que os preços mudavam, literalmente, da noite para o dia. Todos os dias!

A estabilidade da moeda continua sendo uma das conquistas mais relevantes alcançadas pela sociedade brasileira nas últimas décadas. Possivelmente, é a maior delas. O fim da inflação acabou com a mais perversa forma de desigualdade social que existia no país. Numa inflação que chegou a bater 2% ao dia, os mais pobres simplesmente viam o dinheiro escorrer pelos dedos. 

Nos casos extremos, como março de 1990, na arrancada do governo Collor, um produto que custava 5.000 unidades monetárias no primeiro dia pode ter chegado a 9.100 no fim do mês. Quem tinha conta em banco conseguia se proteger, com o mecanismo da correção monetária, mas os mais pobres, não.
Sem o fim da inflação, nenhuma política social seria possível. Num período de dois anos, entre 1993 e 1995, o percentual de pobres no país caiu de 31% para 24% e os extremamente pobres, de 13,6% para 9,3% da população, conforme a Pnad/IBGE. E continuou caindo. Nunca antes, nem depois, a queda foi tão abrupta e tão expressiva. 

O Plano Real não foi somente uma mudança de moeda. Foi o início de uma verdadeira revolução que reconfigurou o país, e não apenas em termos econômicos. A estabilidade da moeda restituiu às pessoas referências de valor que a inflação corroera. Só após o Real foi possível às famílias mais pobres parcelarem suas compras. Milhões de brasileiros finalmente tiveram como comprar bens de consumo, como geladeira, fogão a gás ou televisão —e, principalmente, pôr mais comida na mesa. 

O PSDB orgulha-se de ter sido artífice desta mudança, assim como se prepara para voltar a ser protagonista do caminho do crescimento e do desenvolvimento social —a exemplo da reforma da Previdência relatada pelo partido na Câmara e que terá os seus votos. 

Apesar do orgulho, não nos apropriamos da conquista da estabilidade da nossa moeda, que tem um só e legítimo dono: a sociedade brasileira. Uma árdua conquista que merece ser sempre rememorada, celebrada e, sobretudo, defendida.

*Bruno Araújo - Advogado, é presidente nacional do PSDB

Comentários