'Precisamos ter coragem política e acreditar no centro', artigo de Fernando Chucre


O Estado de S.Paulo

Fernando Chucre

Os debates sobre o destino do Minhocão remontam a sua inauguração, na década de 70. Em dezembro daquele ano, reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo, intitulada “Elevado, o triste futuro da avenida”, já apontava indícios de degradação na região com a implantação daquela obra. Nas ultimas três décadas não se conseguiu avançar para além do debate acalorado entre urbanistas, administradores públicos e população em geral. Somente em 2014, o Plano Diretor Estratégico (PDE) estabeleceu diretrizes, como “sua desativação como via de tráfego, sua demolição ou transformação, parcial ou integral, em parque”.

A decisão do prefeito Bruno Covas em transformar gradativamente o Minhocão em um parque, com áreas verdes, equipamentos de lazer e obras de segurança e acessibilidade, com especial atenção a área sob o viaduto, é corajosa e está absolutamente alinhada com o planejamento urbano da cidade, em especial com as diretrizes do Plano Diretor e do Projeto de Intervenção Urbana (PIU) da Região Central.

Essa ação está inserida dentro de um conjunto de projetos necessários à requalificação do centro, como a recuperação dos calçadões do Vale do Anhangabaú, resgate de atividades econômicas, culturais e incentivo ao retrofit de edifícios e terrenos abandonados ou subutilizados, visando o adensamento desta região provida de infraestrutura, equipamentos públicos e de transporte, garantindo por meio do uso de instrumentos urbanísticos, a permanência das famílias residentes no entorno.

Para além da obra, a preocupação com aspectos ligados à segurança urbana, zeladoria, assistência social, habitação e trânsito foram colocados como prioritários desde o primeiro momento, pelo prefeito Bruno Covas, com a criação de um Grupo Intersecretarial cujo objetivo é propor medidas para implantação do projeto e todo o processo de participação social necessário ao cumprimento dos preceitos de transparência da administração pública, mostrando atenção com todos os aspectos que envolvem esta decisão.

A questão da mobilidade, especialmente de veículos que se utilizam desta estrutura, está sendo tratada com especial atenção, por meio de estudos que preveem investimentos no viário, sinalização e outras obras para mitigação dos impactos desta intervenção, que ocorrerá sobre 1/3 do trajeto, mantendo o restante do elevado operando conforme regras já conhecidas do paulistano.

Argumentos levantados por diversos críticos à implantação do parque desconsideram todo o processo de discussão da sociedade e do legislativo municipal no próprio Plano Diretor.

Processos de intervenção urbana pressupõem coragem política e estudos técnicos consistentes para enfrentamento desta discussão.

*Fernando Chucre, arquiteto urbanista e secretário municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo

Comentários