Com restrições de campanha, partidos buscam peixes grandes para disputa


JOÃO PEDRO PITOMBO - FOLHA.COM 

O pré candidato a prefeitura de São Paulo, João Doria (PSDB)
Bruno Santos -Folhapress 

O mar não está para sardinha nas eleições deste ano. Entre um oceano de incertezas sobre os humores do eleitorado e as novas regras de financiamento de campanha, os partidos têm buscado peixes grandes na disputa pelas prefeituras.

A exemplo do PSDB de São Paulo, outras legendas estão procurando os seus "Joãos Dorias": candidatos com condições de financiar a própria campanha e trânsito fácil entre empresários que contribuam como pessoa física.

Segundo as novas regras eleitorais, doações de empresas para campanhas estão proibidas.

Pessoas físicas continuam podendo doar até 10% do seu rendimento bruto do ano anterior. Mas agora há uma exceção importante: se a pessoa física for o próprio candidato, não há limite.

Ou seja, um candidato rico pode financiar até 100% da campanha com o seu patrimônio. A única condição é que respeite o limite de gasto máximo imposto pela nova legislação, de até 70% do gasto máximo da última campanha.

Em São Paulo, o gasto máximo por candidato será de R$ 34 milhões no primeiro turno.

Diante das novidades, os partidos têm adotado a tática de buscar candidatos de perfil parecido a Doria.

Em Belo Horizonte, por exemplo, também haverá um nome forte ligado ao empresariado.

O candidato do PSB será Paulo Brant, executivo de uma empresa de celulose e ex-secretário na gestão de Aécio Neves (PSDB) como governador do Estado.

A candidatura foi articulada pelo prefeito Márcio Lacerda (PSB) e por empresários de Belo Horizonte.

O nome de Brant também é visto como uma renovação no cenário político local, assim como foi o próprio Lacerda quando disputou a prefeitura em 2008 com apoio de Aécio e do atual governador, Fernando Pimentel (PT), cujos partidos eram adversários nacionalmente.

"A candidatura é uma experiência totalmente nova. Será um desafio pessoal mudar de lado, transformar a indignação do lado de cá [no setor privado] e ver o que dá para fazer do lado de lá [no setor público]", disse Paulo Brant à Folha.

Segundo ele, o fato de ter um bom relacionamento com o empresariado "pode ajudar", mas não será fator determinante para garantir doações para sua campanha a prefeito. "As nossas propostas serão a questão central", declara.

Empresários estreantes nas urnas também serão alternativas em cidades médias. No interior de São Paulo, Araçatuba e Taubaté terão candidatos com este perfil.


DESIGUALDADE

Em Taubaté, o PMDB lançou a candidatura de José Saud Júnior, ex-presidente da associação comercial.

Já o empresário Luis Fernando de Arruda (PTB), que é dono de uma construtora, vai estrear na política como candidato a prefeito de Araçatuba.

O PTB também lançará candidatos-empresários em cidades como Uberaba (MG) e Jequié (BA).

Hermany Andrade Júnior, que atua no setor imobiliário, vai estrear nas urnas disputando a prefeitura da cidade mineira.

O nome em Jequié é o de Yan Almeida, dono de uma indústria de massas e biscoitos. Sua pré-candidatura foi lançada em ato na associação comercial da cidade.

Em Barreiras, no oeste baiano, o empresário Dó Miguel (PTN) vai tentar desbancar os três grupos que dominam a política local.

Ele afirma que, com as limitações de gastos, entra na disputa em condições de igualdade.

"Estou mobilizando outros empresários, profissionais liberais. Eu mesmo vou contribuir com a campanha dentro do limite da lei", diz o pré-candidato. Na cidade, o limite de gastos deverá ser de cerca de R$ 500 mil.

Para o cientista político Jorge Almeida, da Universidade Federal da Bahia, o financiamento privado por pessoas físicas mantém a desigualdade na disputa.

Contudo, avalia que todos os candidatos terão dificuldade na arrecadação este ano. "No atual cenário de escândalos, haverá um constrangimento das pessoas, mesmo as ricas, em doar uma quantia alta".

Também há nomes ligados ao empresariado cotados para vice nas disputas em algumas capitais.

Em Campo Grande, Cláudio George Mendonça (PR) deve dividir a chapa com Rose Modesto (PSDB), apoiada pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB).

Mendonça era superintendente do Sebrae e foi escolhido por seu trânsito entre os empresários locais.

Em Salvador, um dos cotados para candidato a vice do prefeito ACM Neto (DEM) é o ex-secretário de Educação Guilherme Bellintani.

Empresário, foi presidente do Lide Bahia, organização empresarial capitaneada nacionalmente por Doria.

Em 2013, deixou o posto para ir para a gestão municipal, em sua primeira experiência no setor público.

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