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Miguel Reale diz que se incomodou muito com voto enaltecendo Ustra



Matheus Leitão - G1


O jurista Miguel Reale Júnior, um dos autores do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, comentou ao blog o seu desconforto com o fato de a votação do processo na Câmara dos Deputados, há 11 dias, tenha se transformado em uma oportunidade para homenagear o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado pela Justiça como responsável por tortura durante a ditadura militar.

“Fiquei muito incomodado. Feriu a sensibilidade de todos os democratas, e de nós que lutamos contra a ditadura. Fui ministro da Justiça, estive à frente da Comissão de Mortos e Desaparecidos, e nos rebelamos contra a violência que ocorreu nos porões da ditadura”, afirmou ele ao blog. 

Segundo Miguel Reale, "a homenagem ao coronel Ustra é, sem dúvida nenhuma, uma ofensa". "[Uma ofensa] À nossa luta, àquilo que foi obtido por anos e anos pela minha geração, mas especialmente às vítimas – aqueles que sucumbiram e os que foram feridos gravemente como Criméia Schimdt”. Criméia foi torturada grávida por Ustra no DOI, aparato mais violento do regime, em São Paulo, e contou ao blog algumas das violências sofridas. Leia aqui.

Miguel Reale foi ouvido nesta quinta-feira (28) na comissão especial de impeachment, quando mais uma vez defendeu que as pedaladas fiscais, manobras para aliviar momentaneamente as contas públicas, configuraram crimes de responsabilidade.

Em sua fala no Senado, o jurista disse lamentar que o seu pedido de impedimento tenha sido oportunidade para se homenagear um torturador. Ustra foi enaltecido pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). "Esse pedido não pode se prestar a isso, [ele] visa a liberdade”, afirmou.

O jurista deixou o Senado acompanhado do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e, de carro com ele, seguiu para o aeroporto. Miguel Reale foi criticado por senadores ao deixar a comissão após responder a apenas uma pergunta dos parlamentares.

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