PF acha ‘café’, ‘mandioca’, ‘farinha’ e os ‘acarajés’ na contabilidade paralela de ex-marqueteiro de Dilma e Lula


Investigadores suspeitam que citações em planilha significam repasses cifrados que somam R$ 21,5 milhões, em apenas nove meses, da Odebrecht para o publicitário João Santana e sua mulher e sócia Monica Moura, presos na 23.ª fase da Operação Lava Jato

POR MATEUS COUTINHO, JULIA AFFONSO E RICARDO BRANDT


No pedido de prisão preventiva do publicitário João Santana e sua mulher e sócia Monica Moura, ex-marqueteiros de Lula e Dilma nas campanhas de 2006, 2010 e 2014, apresentado nesta quinta-feira, 3, ao juiz Sérgio Moro, a Polícia Federal revela ter encontrado mais uma planilha de supostos pagamentos cifrados da Odebrecht com referência a “Feira”, sigla que os investigadores apontam ser uma referência ao casal de marqueteiros. O documento sugere que o menu da empreiteira para se referir à propina é muito mais farto e diversificado do que o ‘acarajé’, típica iguaria da Bahia.

Com o nome de “Lançamentos X Saldo (Paulistinha)”, a planilha registra pagamentos de 29 de outubro de 2014 até primeiro de julho de 2015, quando a Lava Jato já avançava sobre a empreiteira, no valor total de R$ 21,5 milhões. Em algumas transações, ao lado da expressão “Feira” aparecem inúmeras referências da “gastronomia” cifrada da empreiteira como: “farinha”, “beijú”, “bacalhau”, “café”, “mandioca”, “temperos”, “tapioca” e até “cerveja”.


Chamou a atenção dos investigadores os altos valores atribuídos às operações financeiras, todas de R$ 500 mil ou R$ 1 milhão. Para os delegados Márcio Adriano Anselmo e Renata Silva Rodrigues, autores do pedido de prisão preventiva encaminhado a Moro, ‘a inserção de codinomes é um claro indicativo de tratar-se de operações à margem da contabilidade da empresa, buscando ‘mascarar’ pagamentos não contabilizados de forma oficial’.

Além do vasto ‘menu’, a mais nova planilha descoberta pela Operação Acarajé traz também referências a vários esportes – transações são registradas com referências a ‘tênis’, ‘basquete’, ‘remo’, ‘polo aquático’, ‘beisebol’, ‘esgrima’, ‘futebol’, dentre outros.

Os investigadores alegam não ter dúvidas de que a expressão ‘feira’, que entrou no rastro da Lava Jato desde o ano passado quando foi apreendido o celular do empresário Marcelo Odebrecht, dono da empreiteira, e no qual aparecem repetidas vezes a expressão em suas anotações pessoais.

João Santana. Foto: AFP

Com as novas informações apresentadas nesta quinta-feira, 3, já é a segunda planilha da Odebrecht que a PF vê como um dos indicativos da contabilidade paralela da empreiteira para João Santana e sua mulher e sócia no Brasil.

Na semana passada, quando pediu a prorrogação da prisão temporária do casal, a PF já havia apontado a existência de uma planilha no computador da secretária de executivos da empreiteira Maria Lúcia Tavares com a descrição ‘programa Feira’ indicando sete repasses no valor total de R$ 4 milhões entre 24 de outubro e 7 de novembro de 2014, durante o segundo turno das eleições presidenciais.

Na ocasião, a PF já havia apontado que se tratava também de uma movimentação à margem da contabilidade oficial da empreiteira.

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